Fotos: Jorane Castro,
Moana Mendes,
Emanoel Loureiro
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“Amores líquidos”, longa metragem da paraense Jorane Castro, está em sua terceira semana de filmagem. A equipe agora está filmando nas areias da praia do Atalaia, onde várias das cenas decisivas e finais do filme serão feitas. As filmagens em Salinas, no nordeste do estado, em nossa chamada região do salgado, iniciaram no dia 14, última quinta-feira. Jorane Castro bateu um super papo com o Holofote Virtual e contou como tem sido filmar um longa roadie movie de baixo orçamento na Amazônia.
Um filme paraense com certeza. Paisagens paradisícas, cenas interioranas. E agora, já começam também, os preparativos para uma festa de aparelhagem.
É neste ambiente de cenário praiano mas cheio de 'treme', que vai se dar o desfecho da história de Eva (Lorena Lobato), Melina (Ane Oliveira) e Keithylennye (Keila Gentil), com Jonas (Ramon Rivera), Pedro (Leocir Medeiros) e DJ Pankadinha (Dime França). A equipe que mistrua gente de Belém, Ceará e Recife, entra em uma nova fase da filmagem, que iniciou em Belém, navegou a Baía do Guajará e pegou a estrada.
"Esse tem sido talvez o set mais prazeroso da minha vida, estou muito feliz. A equipe tem amor pelo que faz e é muito dedicada. Está ligada no que está fazendo, investida em melhorar tudo. E isso nos salva, porque é um momento que não é fácil", diz Jorane Castro, diretora paraense que estreia em seu primeiro longa, contemplado com o edital de Produção Cinematográfica de Ficção de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura.
Jorane conta que há um esgotamento físico, mas que há muita vontade e um ótimo clima no set, acalentando toda a equipe. "A gente acorda 4 da manhã, tem que estar no set 5h30, 6h e trabalha até o fim do dia. Temos jornadas bem longas, fora do tempo normal. Nosso domingo é quarta feira, mas ao mesmo tempo está sendo muito intenso, prazeroso e produtivo", comenta.
As locações em Belém foram na Vila da Barca, no Porto de Belém, e no Complexo do Ver o Rio, contemplando assim, a paisagem ribeirinha, que contrasta com a velocidade da cidade, uma imagem comum em várias cidades da Amazônia, situadas à beira do rio. O “Amores Líquidos”, porém, não é um filme ribeirinho. Ele é um roadie movie.
Na segunda semana, a equipe entrou em deslocamento. As filmagens passaram pela Vila do Apeú e na Vila do Mel, localizada à beira da estrada, a 30 km de Salinas. “Há muitas cenas que são de estrada mesmo. Fomos pra rota turística e pegamos uma antiga estrada que passa por Igarapé Açu, e que hoje está sendo renovada, atravessamos a ponte de Livramento. É um lugar cinematograficamente mais interessante de filmar do que a própria BR, é uma PA (zinha)”, descreve Jorane Castro, que também é autora do roteiro.
Personagem e fotografia
“Amores Líquidos” é um filme de personagens. E, além disso, é um filme de fotografia. O filme narra a trajetória entrelaçada de três mulheres. Eva (Lorena Lobato), Melina (Ane Oliveira) e Keithylennye (Keila Gentil).
Por motivos diferentes, elas pegam a estrada e seguem de carro para Salinas. No caminho, vivem algumas experiências até chegarem a seus objetivos, dando-se então o desfecho da história.
“São personagens fortes e intensos. As pessoas é que guiam o filme, não temos uma situação de um conflito que tem que ser solucionado, é um filme que conta uma história, num entrelaçamento de três narrativas, levadas por três mulheres muito diferentes e que estão na estrada juntas. Então eu diria que é um filme de personagens, que podem nos levar junto nesta estrada”, comenta a diretora.
A opção por uma paisagem natural não é uma escolha estética nova da cineasta que dirigiu, em 2010, “Ribeirinhos do Asfalto”, premiado em Gramado com Melhor Direção de Arte, assinada por Rui Santa Helena, o mesmo diretor que Jorane também convidou para assinar a direção de arte de “Amores Líquidos”.
“Estamos trabalhando uma linguagem muito próxima do documental. Filmando de barco, na estrada, na praia, na areia, locais que a gente não quer mesmo recriar num estúdio.
O mais interessante aqui é que a realidade tenha pequenas interferências da arte, mas mantendo todas as referências do lugar. E é tão bonito. Então sempre buscamos locações verdadeiras e fazemos as nossas adaptações. Foi assim em “Ribeirinhos e deu muito certo”, continua a diretora.
Pará e Recife
“Amores Líquidos” é produção é da Cabocla Filmes, produtora paraense, com a co-produção da REC Produtores Associados, de Recife (PE), uma parceria que vem dando certo, também no set de filmagem.
“Precisamos ter uma equipe afiada e temos conseguido isso, o que é muito bacana, pois apesar de ter muita gente com quem eu já trabalhei, com o fotógrafo Beto Martins, por exemplo, nunca tinha filmado. A equipe é grande, mas que funciona muito rápido. Estamos fazendo três a quatro cenas por dia o que é a média normal”, diz Jorane.
Desde Líbero Luxardo, que realizou “Brutos Inocentes”, que não se produz um filme longa metragem genuinamente paraense. “Amores Líquidos” é o primeiro filme de baixo orçamento realizado com estrutura de produtora daqui, a partir de recursos federais.
A equipe é formada em mais de 85% por profissionais paraenses, como todo o elenco, que traz ainda o ator Leocyr Medeiros e Dime França (Da dupla de Rap Cronistas da Rua), mas também traz técnicos e produtores da capital pernambucana, além de Márcio Câmara, responsável pelo Som Direto e parceiro em vários outros projetos de Jorane Castro. Essa busca de reforço é claro, não foi à toa.
“Precisei de mais apoio e parcerias, porque somos inexperientes nesta área de produção, é um longa, não um curta, precisa de um planejamento maior, de longa duração, não temos esta experiência. Então fui conversar com outro paraense, que é sócio da REC, o Ofir Figueiredo e ele topou estar aqui como co-produtor. Nós somos sócios e parceiros neste projeto, e estamos tocando ele com uma equipe de 70 pessoas, que são do Pará e do Recife, ao todo, oito pessoas pra ser mais exata”, reforça a cineasta.
Jorane acredita que, no que depender da equipe, o filme terá imprimido um resultado positivo. “Há empatia, cumplicidade e harmonia, todos amam muito o que estão fazendo e dando o melhor de si. E se isso continuar assim, vai também estar impresso na tela algo positivo. Quero muito que as pessoas sintam através dessa imagem a energia que temos, todo nosso esforço profissional e técnico que estamos investindo neste projeto”, enfatiza.
Música paraense na veia
Além da paisagem, da fotografia, da equipe afinada, do elenco entrosado, o filme promete também ser um roadie movie extremamente musical. Apesar da trilha ainda não estar definida, Jorane afirma que só vai usar música paraense.
“Eu quero uma trilha bem paraense, porque esse filme já tem isso. Quando olho em volta e vejo as atrizes conversando, elas estão o tempo todo falando de música, duas delas são cantoras”, diz Jorane, referindo-se a Keila e Lorena.
A equipe ainda filma até o final desse mês naquela região. E para quem ficou na ansiedade de ver isso tudo na tela, uma boa notícia. Jorane Castro diz que o filme fica pronto ainda este ano, no segundo semestre, e que a ideia é que ele tenha uma trajetória normal no cinema brasileiro e quem sabe ir um pouco mais além.
“Vamos tentar festivais e já pensar na distribuição em sala de cinema. Eu queria muito que o filme chegasse a um bom público, porque essa é a grande dificuldade que temos no Brasil. Os filmes brasileiros têm um mercado limitado de distribuição, mas vamos fazer assim, da forma convencional, até chegar a DVD, HD, televisão aberta, fechada. Essas são as possibilidades que se abrem para o público descobrir o filme mais adiante. E depois desse, quem sabe fazer outros filmes, porque até agora tem sido muito bom”, diz Jorane Castro, que ainda nos conta mais detalhes abaixo.
Holofote Virtual: Como vocês chegaram a este elenco. A Keila, por exemplo, nunca tinha atuado...
Jorane Castro: Tínhamos duas atrizes contratadas, desde o início do filme, e que desistiram de fazer os papéis, por questões pessoais e profissionais. Uma está grávida, e a outra tinha um contrato por um período maior que nosso filme. Eram duas atrizes paraenses também. Dira Paes e Maeve Jinkings.
Em nosso elenco, mesmo que alguns nunca tinham feito cinema, é muito integrado. Lorena Lobato, Ane Oliveira e Keila Gentil estão tão envolvidas que quando você as vê em cena, com câmera ligada funciona como se não tivesse câmera por perto, como se fosse uma situação realista. É o que quero no filme, uma interpretação naturalista, não quero que seja uma interpretação rebuscada, eu quero que tenha uma linguagem documental, assim como já falei sobre locações. Quero verdade neste filme.
Holofote Virtual: A fotografia é um ponto forte na estética do filme. O que fostes buscar de inspiração?
Jorane Castro: A inspiração vem das indicações do próprio roteiro e das atrizes que estão dando o seu melhor. O filme está se construindo de maneira muito boa, há locações que são incríveis, na beira da estrada, lugares lindos. Estamos com uma luz muito bonita, trabalhando numa transição do de inverno pra verão e essa luz do inverno é linda, uma luz difusa, branca, sem contraste.
Holofote Virtual: És uma diretora que costuma se repetir na equipe (risos). Em Amores Líquidos há pessoas que te acompanham desde “Mulheres Chiradeiras”, teu primeiro curta. É uma preferência tua?
Jorane Castro: Quando tenho afinidade com as pessoas, não preciso mudar. Isso me dá segurança, eu fico mais tranquila. Não tenho que me explicar tanto, as pessoas já me conhecem e sabem como eu dirijo. Isso nos faz ganhar tempo. Ao invés de estar ainda se conehcendo, a gente aplica em outra coisa.
Márcio Camara, Antonio Maurity, Moana Mendes, Moema Mendes, Shirleide Reis já trabalham comigo exatamente, desde As Mulheres Choradeiras. Há pessoas que já trabalham mais recentemente comigo, como o Rui Santa Helena, que esta há quatro filmes comigo. Não é só a questão do carinho e da segurança que isso me dá, mas pela cumplicidade estética que já temos e isso é muito importante, então nesse grupo todo a gente está muito bem, eu gosto de repetir essas cumplicidades, essas parcerias.
Holofote Virtual: Muito legal também é a afinidade das equipes Belém e Recife, que num certo sentido, são duas cidades parecidas na produção cinematográfica, com a diferença que eles possuem edital de cinema que destina milhões por ano, provocando e aquecendo assim a realização de curtas e longas a cada ano. Como tem sido essa relação, na prática
Jorane Castro: Temos uma equipe técnica que dá muito conta do que tem que ser feito. Estamos filmando em barco, praia, carro, na areia, água, igarapé, situações que são muito delicadas de fazer e requerem conhecimento e técnica de trabalho. A equipe de Recife tem mais experiência, porque o mercado lá é mais aquecido, existe mais publicidade também, além de um edital público estadual que direciona quase R$ 12 milhões para o audiovisual. Este tipo de apoio permite que haja uma produção mais profissional e é isso que eles estão nos trazendo. A liga deu certo.
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