21.12.16

"Letras que Flutuam" chega ao universo da moda

O “Letras Q Flutuam”. do Mapinguari Design, mostra, até esta sexta-feira, 23, na Casa das Artes, exposição de bolsas trabalhadas com a estética dos abridores de letras de barcos. A renda será reinvestida na criação de um núcleo criativo.

A mostra é o resultado do desdobramento do projeto "Letras que Flutuam", contemplado pelo Prêmio Seiva da Fundação Cultural do Pará. O objetivo foi trabalhar com abridores de letras e  mulheres costureiras. O talento artístico deles e a habilidade não menos artística e manual da confecção, delas, devem ampliar o mercado de trabalho em ambos os setores

Os abridores são homens comuns, ribeirinhos, também influenciados não só pelo fluxo do rio como pelo fluxo constante das imagens e informações midiáticas da atualidade. Abrir letras de barco é um saber popular tradicional existente em muitas localidades amazônicas, especialmente naquelas ligadas aos rios e ainda hoje, além dos barcos, pode ser encontrada nas fachadas comerciais de municípios ribeirinhos. 

Entretanto, ainda que seja uma tradição de longo tempo, é um aspecto da cultura popular ainda pouco documentado e conhecido e, por consequência, permanece marginal e invisível. A partir desta contatação surge o projeto "Letras que Flutuam", realizado junto aos artistas que abrem letras em embarcações na região, e que entre outras inúmeras ações de repasse de saberes, vem também desenvolvendo coleções de bolsas ecológicas, a partir da reutilização de lonas vinílicas de descarte de shows e eventos culturais.

Ideia pretende gerar renda e compartilhar saber

A exposição na Casa das Artes é resultado da oficina realizada com internas da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará - SUSIPE  e artistas ribeirinhos.

O público mais atento às nossas margens e janelas para o rio, perceberá novos significados à tradição de pintar letras em embarcações. Na Casa das Artes, a exposição traz bolsas que foram recicladas, confeccionadas e pintadas artesanalmente pelos participantes da oficina. 

O projeto premiado no SEIVA, havia projetado uma oficina de capacitação, que acabou nem sendo necessária. “Quando pensamos nas bolsas, a ideia foi capacitar algumas costureiras, mas numa conversa com uma pessoa da Susipe, soubemos que a instituição já contava com uma cooperativa de capacitação de costureiras. Aí foi juntar as duas coisas e deu muito certo. Agora estamos avaliando a possibilidade de continuar um trabalho com elas”, explica Sâmia Batista, do Mapinguari Design.

Ela conta que o projeto com os artistas ribeirinhos já tinha em vista um processo de se expandir em produtos de moda e design. “Depois que começamos o Letras que Flutuam, muita gente sugeriu de usarmos a estética dos barcos em artes para camisetas, brindes, souvenirs, mas não queríamos fazer nada que não favorecesse também o abridor de letras, porque se quiséssemos só nos inspirar dos elementos dos barcos, já teríamos feito isso até mesmo sem os artistas”, explica Sâmia Batista.

Em busca da produção criativa e constante

A confecção e exposição das bolsas tem como objetivo melhorar a renda dos abridores de letras e também gerar postos de trabalho para cooperativas de costureiras. A venda das bolsas, após o termino da exposição, será reinvestida para a formação de um núcleo produtivo. 

“A ideia é que a gente tenha aí, uma constância de produtos e com a customização dos abridores, pretendemos gerar renda tanto para costureiras, mulheres, pois isso também nos interessa, como para os abridores de letras porque essa arte vem desaparecendo e o nosso interesse maior é continuar gerando renda pra eles”, conclui a desing. Para adquirir as bolsas envie um e-mail: letrasqflutuam@gmail.com

Letras que Flutuam - O projeto “Letras que Flutuam” deu origem a uma expedição que identificou 41 abridores de letras em Belém e em mais três cidades do interior do Pará: Barcarena, Abaetetuba, e Igarapé-Miri. Tudo foi registrado em vídeo que caiu na internet e no gosto de muita gente de outros países. Fernanda Martins e Sâmia Batista são designers e decidiram divulgar essa manifestação da cultura amazônica. O Escritório de Design atua na Amazônia, com foco no design estratégico e para a sustentabilidade. 

Serviço
Exposição de bolsas recicladas do projeto Letras Q Flutuam. Em exposição até esta sexta-feira, 23, na Casa das Artes (Praça Justo Chermont, 236 – antigo IAP), ao lado da Basílica de Nazaré. Das 9h às 18h. Entrada franca. Informações: 98232-7429 / 98169-2942.

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