8.5.19

Música como elo cultural entre Pará e Cabo Verde

Naldinho Freire vai lançar seu 4o álbum. E isso poderia ser marcado apenas com um show, o que não seria pouco, pois o disco já traz em si 30 participações, em 12 faixas, mas “sem chumbo nos pés”, como o nome sugere, foi além e, com financiamento de emenda parlamentar do Dep. Federal Edmilson Rodrigues, em convênio com a UFPA, trouxe a Belém representantes da cultura cabo-verdiana, que realçam o intercâmbio entre Cabo Verde e Pará. 

Mario Lúcio, ex-ministro da Cultura de Cabo Verde, e Manuel di Candinho, atualmente Vereador da Cultura e Turismo na Câmara Municipal de São Domingos, chegaram na segunda-feira, 06, e nesta terça-feira,  7, participaram de dois eventos. Pela manhã, estiveram na mesa de abertura e debates de um seminário na Universidade Federal do Pará (UFPA), que propôs debater, refletir e estimular as práticas de intercâmbio, estreitando os laços entre os dois países, pela difusão da cultura e do turismo. 

O evento foi realizado por meio do Programa de Extensão Escritório Modelo de Práticas Acadêmicas em Turismo (Empactur), com programação que durou o dia todo, no Auditório José Vicente Miranda Filho, no Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ), no Campus Profissional da UFPA. 

Já à noite, o intercâmbio se deu pela música, em um encontro emocionante no Núcleo de Conexões Na Figueredo, que reuniu músicos paraenses da guitarrada com os dois artistas cabo-verdianos, que mostraram os vários ritmos de sua cultura africana, como o Funaná, a Coladeira e a Morna. O blog acompanhou tudo e estará também nos bastidores da terceira etapa desse projeto, o show de lançamento de "sem chumbo nos pés", nesta sexta-feira, 10, às 20h, no Teatro Margarida Schvasappa do Centur.

Noite de ritmos, encontros e conexões

Além de Manuel de Candinho e Mario Lúcio, a programação intitulada "Do Funaná à Guitarrada", nesta última terça-feira, contou com Mestre Curica (ex-Mestres da Guitarrada), o banjista Marcelino Santos, com os guitarristas Bruno Rabelo (Cais Virado), na mediação da ação, pelo Clube da Guitarrada, e Renata Beckman (Guitarrada das Manas), o baixista Gabriel Dietrich e a baterista Layse Rodrigues (Farofa Tropical) e com a percussionista Loba Rodrigues (Caruana). A noite foi de trocas e interação, em improvisos inimagináveis. Quem foi, foi. E para quem não foi, torcemos que haja nova oportunidade. Os cabo-verdianos já manifestaram a vontade de ver, ouvir e interagir também, com o choro paraense... 

Nascido no Tarrafal em Cabo Verde, o músico e compositor Mario Lúcio é uma das figuras mais reconhecidas da cena cultural e musical cabo-verdiana, tanto local como internacionalmente. Escritor premiado, ele também marca a nova poesia cabo-verdiana com o livro “Nascimento de Um Mundo”. 

Mario Lúcio é um dos mais conceituados pensadores da sua geração, autor do “Manifesto a Crioulização”, a obra mais atual sobre o fenômeno da Crioulização no mundo, de que é um pensador expoente.  Foi Ministro da Cultura de Cabo Verde, e lançou a nova epistemologia sobre a Cultura, com a obra “Meu Verbo Cultura”.

Ícone da guitarra cabo-verdiana, Manuel di Candinho é outra grande expressão de seu país. Nascido na Ilha de Santiago, ele é o atual guitarrista do mítico grupo “Bulimundo”, no qual assume a guitarra principal. Conta-se que a história da música de Cabo Verde é indissociável de sua própria história, que inicia em 1978, no interior da ilha de Santiago.  

A Bulimundo levou o Funaná até às zonas urbanas e à diáspora cabo-verdiana espalhada mundialmente. Originalmente tocado com acordeão diatônico e facas que marcam o ritmo raspando barras de ferro (o Ferrilho),  como se fosse o triângulo do forró brasileiro, ele foi eletrificado pela Bulimundo, lhe abrindo os horizontes para o mundo.

Candinho é atuante no circuito musical de seu país, fazendo a direção de shows de artistas como Cesária Évora e Mayra Andrade. Saiu de Cabo Verde no início dos anos 1980, fixou residência, por dois anos, em Portugal, tocando ao lado de músico angolanos e moçambicanos, e partiu em seguida para a Holanda, onde morou por 30 anos. Em 2008, já de volta a Cabo Verde, conheceu Naldinho Freire em um festival de música na Ilha do Sal. O músico brasileiro havia sido convidado por Mario Lúcio, então Ministro da Cultura do país, e a conexão nunca se desfez, resultando neste momento histórico em Belém do Pará. 

“sem chumbo nos pés” no palco do Schivasappa

A estadia dos músicos cabo-verdianos em Belém retoma seu objetivo inicial, na noite desta sexta, quando Naldinho Freire subirá ao palco do Teatro Margarida Schivasappa do Centur, para o lançamento de seu quarto disco, “sem chumbo nos pés”, um trabalho marcado pela canção, utilizando violão de madeira, corda de aço e nylon, em diálogo com a música eletrônica. 

Além das 30 participações em suas composições, o álbum foi gravado em mais de uma cidade, passando por mais de um estúdio, extrapolando as fronteiras do Brasil. “Quando eu estava na cidade que eu queria e pretendia uma participação de um ou mais artistas, conseguíamos um estúdio e eu já gravava ali mesmo. Em João Pessoa, gravei com Pedro Osmar, e Adeildo Vieira, pessoal do Musiclube da Paraíba, as meninas Déa Limeira, Gláucia Lima, que são da minha época, anos 90. Esse momento foi quando estava na circulação do show com Beá Santos (Guitarrada das Manas), que inclusive fez a direção no estúdio dessas gravações, na Paraíba”, conta Naldinho Freire. 

Em Cabo Verde, gravou a guitarra de Manuel di Candinho, a voz guia de Mario Lúcio, e todo o seu violão, também guia para a música "Pretty Down". “A guitarra ficou tão legal que a gente está utilizando essa guitarra mesmo no disco. Candinho toca muito, é um virtuose da guitarra, mas também toca piano, é um grande músico.  O Mario Lúcio, depois esteve em Fortaleza para um concerto dele, e lá ele colocou a voz definitiva. O Ivan Ferraro, criador da Feira da Música de Fortaleza, nos ajudou a arrumar um estúdio. Esse trabalho traz muitas energias”, diz o músico.

A captação da guitarra para o CD ocorreu em 2017 no XL estúdio – Cabo Verde/ África. Com programações eletrônicas da instrumentista e produtora musical paraense, Beá Santos, e do músico e produtor musical, Marcel Barretto, além da participação do músico paraense Leo Chermont (Strobo).


E assim será o lançamento de "sem chumbo nos pés", repleto de  cores e nomes. Manuel di Candinho e Mario Lúcio participarão da música “Pretty Down”, terceira faixa gravada no álbum, que sai pelo selo Na Music, com direção musical de Marcel Barretto e produção executiva da MM Produções. 

O show promete mais emoções, ainda com a participação  dos paraenses Ramón Rivera, Lucas Torres, Natália Matos, Juliana Salgado, Gláfira, Pedro Vianna e Andrea Silveira (flautista paraense radicada em Natal), com projeções do VJ Lobo, direção artística de Camila Honda e iluminação de Patrícia Gondim.

Ficha Técnica do show

Produção Executiva: MM Produções
Produção: Inês Silveira
Direção de arte/Direção de cena: Camila Honda
Iluminação: Patrícia Gondim
Projeções: VJ Lobo
Apresentação: Marcelo Pinheiro
Produção Musical: Marcel Barreto
Voz, Violão: Naldinho Freire
Guitarra, Programações: Lucas Torres
Assessoria de Imprensa: Luciana Medeiros
Marketing: Projeto Caos

Serviço
Lançamento de “sem chumbo nos pés”. Dia 10 de maio, às 20h, no Teatro Margarida Schivasappa do Centur. Ingressos à venda pelo sympla a R$ 2.50 (http://bit.ly/sympla_semchumbonospes) ou no dia do show, na bilheteria do teatro – R$ 2,00. Mais informações: http://bit.ly/show_lançamento.

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