17.5.19

UFPA traz o inédito “Carta de Caminha” a Belém

“Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!”. Com esta frase, Pero Vaz de Caminha, escrivão português da frota de Pedro Álvares Cabral, narrou a primeira impressão sobre o território que viria a ser chamado, futuramente, de Brasil. A importância histórica e cultural do documento inspirou a criação do concerto musical “Carta de Caminha”, que será apresentado pela primeira vez no Brasil, neste domingo, 19, às 19h, no palco o Theatro da Paz, em Belém do Pará.

Reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a Carta de Pero Vaz de Caminha foi o primeiro documento escrito produzido em solo brasileiro. O espetáculo, que será aberto ao público, é uma realização da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Cátedra do Instituto Camões “João Lúcio de Azevedo” (I.P | UFPA).

Com duração de 1h45, o concerto musical se divide em 12 cenas e é de autoria do músico português Rui Castilho de Luna, barítono mozartiano, herdeiro da escola de canto lírico italiana, que já se apresentou em importantes salas de concerto da Europa, Oriente, Estados Unidos e Brasil. A obra musical será executada no piano, por Rui de Luna, acompanhado na percussão pelo músico português João Ferreira, que trabalha com o maestro Ennio Morricone.

Em paralelo à apresentação musical, haverá a leitura interpretativa da Carta de Pero Vaz de Caminha, a ser feita pelo ator brasileiro Leopoldo Pacheco. Com vasta experiência de atuação e direção de teatro, Leopoldo também é reconhecido por marcantes personagens em telenovelas de época. Seu último papel foi em “O Sétimo Guardião”, atual telenovela da Rede Globo na faixa das 21 horas.

Leopoldo Pacheco
Foto: Pino Gomes
A cenografia é composta por luz cênica e projeção de imagens históricas relativas à chegada dos portugueses no Brasil no ano de 1500, disponibilizadas pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo e selecionadas por Rui Catalão. O espetáculo tem a direção científica da professora Maria Adelina Amorim, da Universidade Nova de Lisboa, que também estará em Belém para a apresentação inédita do concerto.

A proposta é que partir de expressões artísticas do teatro e da música, o espetáculo “Carta de Caminha” permita ao público conhecer e refletir sobre a história do encontro entre Brasil e Portugal, processo marcado por trocas culturais, bem como por disputas e conflitos.

Desde o sucesso alcançado na apresentação de estreia em 2013, o concerto musical “Carta de Caminha” já foi apresentado em importantes eventos em Portugal, como as Celebrações Antonianas na Igreja dos Capuchos, em Lisboa; o Festival da Música da Casa de Bragança, no Panteão dos Duques de Bragança; e no evento de encerramento da exposição “400 Anos da Fundação de Belém do Pará”, no auditório da Biblioteca Nacional de Lisboa.

O concerto conta com patrocínio da Presidência da República de Portugal e tem o apoio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa, Portugal), do Governo do Estado do Pará – por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SECULT) e do Theatro da Paz –, da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP), do Hotel Princesa Louçã e das empresas portuguesas Mister Man e BÁ Studio.

Uma carta que inspira

Rui de Luna, pianist
Foto: Divulgação
A Carta de Pero Vaz de Caminha original integra o acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa (Portugal), e é um dos seus mais valiosos itens. O mesmo só pode ser visitado mediante autorização e em horário restrito, sendo exposto ao público somente em ocasiões especiais.

O documento que inspirou o espetáculo, depois de ter sido enviado ao Rei de Portugal por Caminha, ficou arquivado por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, tendo seu valor histórico e literário reconhecido somente em 1773 pelo estadista José Seabra da Silva e noticiado pelo historiador espanhol Juan Baptista Muñoz.

Em 1817, o documento foi publicado pelo padre e geógrafo Manuel Aires do Casal, na Corografia Brazilica, primeiro livro editado no Brasil. A partir dessa publicação, a Carta despertou interesse e gerou grande repercussão, sendo tema de palestras, estudos, além de ter sido traduzida para diversos idiomas. Em 2005, a Carta foi reconhecida pelo programa Memória do Mundo da UNESCO, como patrimônio histórico em âmbito nacional e internacional.

A carta permite conhecer as primeiras representações feitas pelos portugueses a respeito da fauna e da flora que avistaram em terras brasileiras, assim como dos povos que aqui viviam. Assim, além de um marco nas relações de cooperação cultural e acadêmica entre Brasil e Portugal, a vinda do espetáculo “Carta de Caminha” para Belém proporcionará um importante exercício de reflexão sobre um acontecimento histórico que transformou para sempre a história dos dois países.

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