2.9.22

Encontro histórico reúne Lula e a cultura paraense

Encontro de Lula com Fazedores de Cultura
Foto: Carlos "Canhão"Brito
Durou cerca de três horas, o encontro Luís Inácio Lula da Silva, candidato à Presidência da República, nas Eleições 2022, pelo Partido dos Trabalhadores, e os representantes da cultura paraense, realizado nesta quinta-feira, 1º de setembro, no Theatro da Paz.  

Por volta das 10h, o público começou a chegar. Um público específico, focado e fazedor de cultura, ávido por ouvir o que Lula tem a dizer-nos neste momento de urgência para a reviravolta política no país. As cadeiras colocadas no palco começaram a ser preenchidas por fazedores de cultura e pelas autoridades. E enquanto se aguardava o início da cerimônia, representantes das diversas linguagens e manifestações culturais do Pará entoaram cantos, tocaram e soltaram coros de Lula Lá, além de algumas palavras de ordem que urgiram pelo retorno do respeito à cultura.

E que os cantores Keila e Jeff Moraes, artistas que ali também representaram a cultura da periferia e do povo preto, pudessem iniciar a cerimônia, como seus apresentadores, o palco se fez na plateia, nos camarotes, frisas e galerias, onde estava o povo da cultura do Boi Bumbá, Terreiro, Pássaro, Carimbó, Brega, Guitarrada, Marujada, Música Popular Paraense, Teatro, Circo, Dança, Literatura, Artes Visuais, Audiovisual, Cultura alimentar e outros. O governador Helder Barbalho, o prefeito Edmilson Rodrigues, o deputado federal Beto Faro e os senadores Paulo Rocha e Randolfe Rodrigues também participaram. 

Lula e Damasceno, após 
fala emocionante do Mestre.
Foto: Carlos "Canhão"Brito

No palco, seguindo um ritual, as primeiras falas foram dos fazedores de cultura. O primeiro a falar foi Mestre Damasceno que de forma simples e muito assertiva falou da urgência de uma política cultural para os Mestres da cultura, chamando atenção ainda para um universo vasto, enfatizando a necessidade de se olhar para a cultura nas comunidades Indígenas e Quilombolas. “São eles que conhecem nossos peixes, nossas florestas, nossos animais e merecem respeito”, disse Damasceno que hoje vem despontando como uma das maiores expressões do Carimbó marajoara. 

Também tocou na questão da política cultural, mas voltada ao audiovisual, a cineasta Jorane Castro que, antes de ler a Carta dos Artistas Paraenses para Lula e demais presentes, ela lembrou ao Governador Helder Barbalho, que a Lei Estadual Milton Mendonça, de número 9.137/2020, aprovada em 2020, precisa ser regulamentada, o que somente será feita após a criação do Fundo Paraense do Audiovisual. 

Dira Paes, paraense ilustre do cinema brasileiro, não estando em Belém, foi convidada a se pronunciar por meio de um vídeo. “É com imensa alegria que venho saudar a candidatura de Lula”, disse e enfatizou a importância dos governos de Lula para a área cultural. “Você sempre foi um farol para a cultura brasileira... A força do público e dos artistas paraenses é para lhe fazer Presidente da República em 2022”. 

Monique Malcher também ganhou fala e apontou a urgência de políticas públicas para trabalhadoras dos diversos segmentos culturais e, em especial, para as trabalhadoras das palavras. Escritora, jornalista, antropóloga e artista plástica paraense, agraciada em 2021 com o Prêmio Jabuti na categoria Contos, por seu livro Flor de Gume, obra que ela teve oportunidade de entregar em mãos para Lula, após sua fala.

Monique Malcher, trabalhadora da palavra
Foto: Carlos "Canhão"Brito
“... O trabalho desse corpo Amazônico, esse corpo Cabano, tem sido feito muitas vezes por mãos mulheres. Nossos rios, infelizmente ainda são das lágrimas, das mulheres que migram, que lutam pela educação de seus filhos. Mais do que entender que nossa voz precisa estar em certos espaços, precisamos de ferramentas e tábuas para que os pés se firmem para entrar nesse barco de oportunidades que a literatura é capaz. Publicamos livros, contamos nossas histórias, mas ainda não estamos nas bibliotecas, na sala de aula, perto dos alunos, nas escolas de rios, falta muito pra falar de uma vitória nossa , trabalhadoras da palavra”, disse e, voltando-se ao público, bradou: “Todo mundo lê mais homens do que mulheres!”. E antes de finalizar emocionando-se perguntou: “Até quando vamos lutar sozinhas para que a literatura chegue?”. 

Jean Ferreira, idealizado do Gueto Hub
Foto: Carlos "Canhão" Brito
Jean Ferreira, também pelo viés da literatura e da palavra, foi impactante. Ele é o idealizador do Gueto Hub, uma biblioteca construída pelos próprios moradores, no Jurunas, "bairro que transborda cultura popular e ancestralidade", disse Jean ao presidente. 

"Criamos uma biblioteca comunitária viva que construímos com as próprias mãos, e isso foi possível, senhor presidente, porque na periferia estão descendentes dos mesmo descendentes indígenas que construíram o centro histórico desta 
cidade”. E assim como em várias outras falas, Jean também lembrou e reconheceu a importância dos anos de governos do PT na presidência, para sua formação. “Eu sou um dos milhares de jovens que entrou na universidade através do governo Lula e Dilma”. 

Por fim, ele entregou ao candidato a agenda política das periferias construída pelo Perifa Connection, um coletivo formado sobretudo por jovens periféricos ativistas, comunicadores, lideranças comunitários e moradores de diversos lugares do Brasil, apresentando suas realidade e apontando soluções. 

Janja rodou a saia no Carimbó
Foto: Carlos "Canhão" Brito
O escritor Edyr Augusto Proença, a turismóloga e pesquisadora da cultura alimentar amazônica, Auda Piani; Mestre Laurentino e o chef Rubão, além de Larene Ataíde, dos Pássaros Juninos, que também teve fala, ocuparam outros assentos no palco.

Houve apresentações de carimbó, com o grupo Coisas de Negro, de Icoaraci;  e boi bumbá, representado pelo Boi Pavulagem. Janja, esposa de Lula, esbanjou simpatia, vibrou com as diversas falas e ainda colocou e rodou uma saia florida ao som do pau e corda. 

Na parte final do encontro, houve pronunciamentos do prefeito Edmilson Rodrigues, do senador Randolfe Rodrigues e do governador Helder Barbalho.  Lula, o último a falar, soube comentar cada um dos temas colocados em pauta pelos fazedores de cultura, como os mestres, as mulheres, as comunidades ribeirinhas e quilombolas, e também enfatizou o combate à fome. 

Lula deixou esperanças 
Foto: Carlos "Canhão"Brito
"Eu não me conformo que num país que é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo, tenham 33 milhões de pessoas passando fome". Lula reconheceu que ao voltar à presidência terá que ser melhor do que foi nos governos anteriores. Na área cultural, foco do encontro, ele garantiu o retorno do Ministério da Cultura e a criação de um Ministério aos Povos Tradicionais da Floresta. No final, fez desde já uma convocação para que todos "se preparem para fazermos uma grande revolução cultural neste país".  

A situação da cultura brasileira segue na emergência e o setor aguarda pelos editais da Lei Paulo Gustavo, já aprovada e com veto derrubado, mas que o Governo Federal quer adiar para 2023, por meio de medida provisória. Vale ressaltar que o recurso não poderá ser aplicado no ano que vem, precisa ser em 2022, e estamos falando disso em pleno mês de setembro.  

Histórico, o encontro deu oportunidade para que Lula possa  compreender melhor, e no calor das emoções, as questões que envolvem a cultura na Amazônia. Atento a todas as falas, ele também se emocionou ao ouvir dos vários fazedores de cultura, narrativas de suas trajetórias, que ganharam oportunidades a partir de políticas de educação, cultura e combate à fome implementadas em seus governos. Em Belém, o candidato ainda participou, ontem (1º), de um Ato Público no Espaço Náutico Marine Club e hoje (2), encontrou-se com os representantes das comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, no Parque dos Igarapés. 

(Holofote Virtual/ Texto: Luciana Medeiros)

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