8.10.10

Ópera Profano entra em cartaz na semana que vem

Imagine se a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, a mesma usada em todas as romarias do tradicional Círio, fosse furtada por um travesti e acabasse indo parar dentro de um cinema dedicado à exibição de filmes adultos.

Um cinema freqüentado por transexuais, garotos de programa e jovens da classe média. Pois esse é o inquietante mote do espetáculo “Ópera Profano”, que estreia no próximo dia 14, às 21h, no Teatro Universitário Cláudio Barradas.

Com dramaturgia assinada por Carlos Correia Santos e direção de Guál Dídimo e Haroldo França, a montagem fica em cartaz até o dia 17. O texto de Correia ganhou, em 2005, o Prêmio Literário Cidade de Manaus, foi publicado em livro e agora chega aos palcos. Concebida sob o formato de musical, a peça reúne atores, cantores, bailarinos, coreógrafos, músicos e cenotécnicos de forma ainda pouco comum na cena teatral local. Um total de 17 canções, completamente autorais, foram compostas especialmente para o projeto.

“Trata-se uma montagem corajosa, que tem sido concebida há cerca de dois anos. O que se verá em cena é um resultado intenso e bastante poético.”, adianta Carlos. Guál Dídimo ressalta que o trabalho aposta de forma ousada em um gênero desafiador, ainda pouco usual na região Norte. “Temos orgulho de dizer que esse é um espetáculo de teatro musical. Eu e Haroldo mergulhamos num processo de encenação que valoriza essa característica da obra original. Não é uma peça com canções pontuando diálogos, e sim um trabalho em que a música é também uma das protagonistas”.

Haroldo França conta que o processo de construção do espetáculo exigiu vários esforços: “Criamos as melodias para as letras do texto original, propusemos alguns outros momentos musicais e ainda fizemos a seleção e a preparação do elenco, que precisava ter habilidades particulares. A concepção que idealizamos exigia atores-cantores”.

Elenco - O time de artistas que dá vida aos provocativos personagens é, de fato, especial. A produção marca a estreia como atriz da cantora Cacau Novais. O cantor Léo Meneses interpreta o travesti Baby.

Dário Jaime (foto) e Fábio Tavares vivem, respectivamente, os travestis Tota e Mira. O elenco conta também com Tiago de Pinho, Marlene Silva, Leonardo Bahia e Rafael Feitosa.

A encenação tem ainda as participações dos bailarinos Angélica Monteiro, Franco Salluzio, Isabel Lobato e Nigel Anderson. As apresentações terão execuções musicais ao vivo conduzidas por Welliton Barreto (percussão), Guál Dídimo (teclado), Armando Mendonça (viola) e Ramón Rivera (violão). A concepção de luz é de Sônia Lopes. O visagismo é de Nelson Borges e as fotos de divulgação são de João Ramid.

O tema polêmico proposto pela obra de Carlos Correia trouxe uma dificuldade que, no final das contas, não impediu o êxito da produção: “O espetáculo não conta com nenhum patrocinador. Temos grandes apoiadores, como Tina Sâmia (Pink Android), o fotógrafo João Ramid, a Raf Mix, que cedeu material de maquiagem, e o visagista Nelson Borges. Mas não conseguimos que nenhuma marca quisesse se associar a uma peça em que travestis se mostram tão devotos quanto quaisquer outros cidadãos e reivindicam o direito de se aproximar da imagem de Nossa Senhora”, afirma Correia.

Guál, no entanto, mantém-se otimista: “Tomara que isso mude. Ainda esperamos sensibilizar alguma empresa. Esperamos contar com patrocínios para outras temporadas da peça. Nossa meta é que o espetáculo tenha vida longa porque as questões colocadas em cena precisam ser vistas, ouvidas e debatidas”.

Enredo - Na trama criada por Carlos Correia Santos, o travesti Tota provoca um tumulto na capela de onde sai a procissão da trasladação. Em meio à confusão, ele furta a imagem da Santa e a leva para um tradicional cinema de filmes pornográficos que, ironicamente, fica bem em frente à Basílica Santuário.

O ato tresloucado tem uma razão afetiva: Tota quer realizar o sonho de sua colega travesti Baby. Dentro do cinema, lutando contra as complicações decorrentes do HIV, Baby sonha em se aproximar de Nossa Senhora e rezar por um bom descanso.

Em meio a este caos emocional também se encontram um ríspido garoto de programa chamado Lucas, o jovem Ângelo, que freqüenta o local sem que sua conservadora família suspeite, e o decadente travesti Mira que, na juventude teve um filho, do qual não possui mais qualquer notícia. Pontuando o drama, três misteriosas figuras, uma mulher e dois conselheiros, transitam por entre os personagens sem serem vistos e tentam entender por qual razão todas aquelas vidas são completamente ignoradas pela sociedade.

Serviço
Ópera Profano – O Musical. Dias 14, 15, 16 e 17 de outubro, às 21h, no Teatro Cláudio Barradas (Jerônimo Pimentel com Dom Romualdo Seixas). Ingressos: R$ 20,00 com meia para estudantes. Apoio: Pink Android, João Ramid e Raf Mix. Mais informações em www.operaprofano.com.br

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