18.1.15

"Quaderna" lança CD inspirado nos Pregões de Rua

Fotos: Carlos Borges
Allan Carvalho e Cincinato Marques Júnior lançam no dia 31 de janeiro, às 17h, no Ver-o-Peso, o CD "Pregões – a melodia das ruas", trabalho que resulta de uma curiosa pesquisa musical: o registro dos sons e cantos vindos das ruas, feiras e mercados. O espetáculo musical homônimo, único e gratuito, tem patrocínio da Natura Musical.

Livre adaptação ou  a máxima do Cinema Novo se encaixaria perfeitamente no trabalho de pesquisa musical dos dois músicos, compositores e pesquisadores. Com gravador e celular nas mãos, os dois, fundadores e a base sólida do Quaderna, percorreram bairros da Cremação, Guamá, Matinha, Jurunas, São Brás, Cidade Velha, Campina entre outros, encontrados em outras cidades paraenses, durante viagens de trabalho ou passeio.

"Os Pregões são as vozes entoadas de ambulantes que circulam vendendo seus produtos em alto volume", diz Allan Carvalho, que também exemplifica: “Tapioqueiro! Olha, a tapioca molhadinha! Com coco ou sequinha!”; “Copaíba e mel de abelha! Mel de abelha e andiroba! ou simplesmente ‘’Peixeiro!”, afirma. São jingles populares ecoados ao ar livre, através dos quais ambulantes vendem livros, vende produtos alimentícios, óculos escuros, amendoim. 

A necessidade de fazer escoar estes produtos acaba estimulando a criatividade.  "E por terem esse ímpeto, de não timidez, acabam tirando um bom troco de suas vendas, que o diga Zé Maria, vendedor de amendoim, que sai trinado: olha o amendoim-oim-oim-oim-oim", continua o músico, parceiro do também compositor Cincinato Marques.

Em quatro anos de pesquisa, os dois músicos registraram dezenas de cantos. “Como o pregão é imprevisível, a gente registrou com o que tinha na mão, onde fosse’’, recorda Allan Carvalho, músico que tem parcerias com outros compositores de Belém, como Ronaldo Silva, do Arraial do Pavulagem.  O rico universo dos pregoeiros inspirou o CD de 12 faixas em ritmo de carimbó, lambada, quadrilha junina, xote, cúmbia e reggae, entre outros.

Quaderna e pesquisa musical

Allan e Cincinato desenvolvem pesquisas musicais desde 2003. O primeiro CD do Quaderna, lançado em 2006, abordou a influência da cultura nordestina na Amazônia, em especial no Pará. O estudo foi feito a partir da Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística, do Instituto de Artes do Pará (IAP). Bem-sucedido, conquistou o ‘‘Destaque Regional’’ do Prêmio Dynamite/SP, em 2008. O grupo ainda foi convidado a criar a trilha sonora dos cinco documentários da série “Barcos da Amazônia’’.

O trabalho sobre o universo dos pregões começou em 2011, com Bolsa de Criação, Experimentação, Pesquisa e Divulgação Artística do Instituto de Artes do Pará (IAP). Em 2012, o projeto ingressou na circulação do Prêmio PROEX de Arte e Cultura da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde Cincinato Júnior dá aulas e é doutorando no curso de Geografia. Em 2013, os dados da pesquisa sobre os pregões da capital paraense circularam em 10 capitais do País com o Festival HotSpot - Tanque de Ideias, evento paulista, e o projeto ganhou impulso com a seleção no edital Pará Natura Musical, via Lei Semear de Incentivo à Arte e Cultura, do Governo do Estado do Pará.

O estudo registrou pregões muito antigos e tradicionais e outros bem atuais. O cenário dinâmico inspirou o Quaderna a trabalhar a criação das músicas e letras pautadas em cada uma dessas manifestações, valendo-se das características de cada tipo de pregão, na riqueza melódica e imagética de cada um.

“Trata-se de um experimento com o hábito de compor mirando os pregões, ou simplesmente uma maneira de reviver, pelas canções, a história desses personagens ambulantes, que, de uma forma ou de outra, representam um perfil de uma época, de um povo, a “cara da cidade”, diz Cincinato Jr.

Os artistas encontraram tipos diversos de pregoeiros, dos mais comuns aos inusitados, como lembra, Allan Carvalho: “Creio que os mais presentes na cidade, enquanto pesquisávamos, foram: tapioqueiro, jornaleiros, os "vanzeiros" (cobradores de vans que circulam entre Jurunas, Condor, Guamá e São Brás), vendedores de gás (de bike e nos carros), e picolezeiros. Os mais incomuns: o vendedor de amendoim (o Zé Maria), sui generis; o vendedor de pastelzinho e orelha (que vende de bike, com um megafone adaptado no guidão; e o cascalheiro (infelizmente raro de ver hoje). Tem outros muitos, ainda bem’’, festeja o compositor.

(Holofote Virtual, com informações da assessoria de imprensa)

Um comentário:

Anônimo disse...

Lu, você é Mil!!! Obrigada pelo Holofote Virtuoso e por essa verve sensibilíssima. Valéria Nascimento.