É o mais novo trabalho do cantor e compositor. “Belém Incidental” será mostrado, ao vivo, nesta sexta-feira, 27, no Centro Cultural Sesc Boulevard, a partir das 19h, com entrada franca. Oportunidade para conhecer o novo trabalho de Henry Burnett artista, com antecedência. O 4o disco do músico será lançado primeiro nas plataformas digitais e só depois chegará a versão em CD, ainda não se tem data definida.
O compositor paraense, radicado em São Paulo está por aqui desde o início do mês. Já fez pocket de pré-lançamento do novo disco, na charmosa loja porão Discosaoleo, e um show na também interessante Casa do Fauno, apresentando faixa a faixa do CD “Não Para Magoar”, o terceiro CD, que completou 10 anos.
O compositor paraense, radicado em São Paulo está por aqui desde o início do mês. Já fez pocket de pré-lançamento do novo disco, na charmosa loja porão Discosaoleo, e um show na também interessante Casa do Fauno, apresentando faixa a faixa do CD “Não Para Magoar”, o terceiro CD, que completou 10 anos.
Henry Burnett nasceu em Belém do Pará em 1971. Viveu na capital paraense até os 27 anos. Mudou para Campinas no ano seguinte, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro e, por fim, para São Paulo. Passou também algumas temporadas em Berlim e em Évora, atualmente mora em São José dos Campos/SP. Ano que vem, ele completa 30 anos de carreira.
Certa vez, em outra entrevista ao Holofote Virtual, à época em que lançou “Retruque/Retoque”, em parceria com o poeta Paulo Vieira, ele me falou que tinha cada vez menos interesse pelo funcionamento do mercado. “E não por repudiar o sucesso, mas por não me sentir mais apto ao comércio musical”, disse.
Henry prosseguiu dizendo que não sabia exatamente porque, mas aos 16 anos, “tocando num bar em Belém, senti uma grande tristeza e tomei uma decisão: teria uma outra profissão que mantivesse aquele compositor, em gestação, livre para fazer o que bem entendesse. Rompi, portanto, cedo com o mercado, que talvez não vá me acolher nunca”, continuou e também comentou que já não se ressentia disso.
“..benesses da idade”, concluiu o professor de filosofia da música, que buscou sim, outra profissão, mas “abandonar o prazer jamais”, fechou! Foi lembrando dessa entrevista, que comecei a indagá-lo para falarmos do “Belém Incidental”, disco que começou a ser gravado em Santarém-PA há uns quatro anos e foi finalizado em dezembro, em Belém, no Guamundo Home Stúdio, de Renato Torres.
“Os arranjos foram concebidos pelos dois, mais uma faixa foi produzida em Londrina, por Arthur Alves, que trabalhou comigo no Não Para Magoar”, explica Henry. "O título já diz tudo. Incidental é um evento secundário, episódico, eventual, que tem a ver com a necessidade de se olhar Belém por trás das lentes oficiais e também de mostrar outras faces da música para além dos recortes bem intencionados", diz Henry. "Gostaria que isso fosse dito sem levantar nenhuma bandeira nem retomar aquela velha história que já conheces", comenta o músico.
“... Incidental”, de acordo com Henry, deixa à mostra o que apenas foi insinuado em seus discos anteriores, como a influência do rock, que nunca foi abraçada completamente.
"Isso se liga, indiretamente, à tradição do rock local, este sim um dos movimentos mais fortes para mim da cena paraense e hoje aparentemente bastante enfraquecido ou esmaecido, não sei”, diz. “Convidei a Sammliz para uma participação em Isso É Viver (parceria com Paulo Vieira), como forma de mostrar sutilmente este elo com o rock paraense", revela.
"Isso se liga, indiretamente, à tradição do rock local, este sim um dos movimentos mais fortes para mim da cena paraense e hoje aparentemente bastante enfraquecido ou esmaecido, não sei”, diz. “Convidei a Sammliz para uma participação em Isso É Viver (parceria com Paulo Vieira), como forma de mostrar sutilmente este elo com o rock paraense", revela.
O álbum é também a primeira colaboração de Renato Torres, parceiro de sempre, feita integralmente em home studio, revelando um outro traço da produção musical contemporânea. “É um projeto iniciado há quatro anos atrás, quando Henry chamou o Fábio Cavalcante pra produzir esse trabalho, e lançá-lo na oportunidade dos 400 anos da cidade. Nas idas e vindas do processo, Henry acabou me chamando pra finalizar o disco, o que resultou num trabalho heróico feito em cerca de um mês”, revela Renato Torres.
O músico assina arranjos, gravações, mixagem e masterização do disco, com Henry gravando à distância.
“Arranjei seis das dez canções do disco, além de regravar alguns instrumentos em "Belém de Passagem", arranjada pelo Fábio. O grande desfio foi aproximar a concepção eletrônica do Fábio ao esquema rock de baixo-bateria-guitarra do qual dispomos pras canções que arranjei. Estamos muito felizes com o resultado”, afirma Renato.
“Arranjei seis das dez canções do disco, além de regravar alguns instrumentos em "Belém de Passagem", arranjada pelo Fábio. O grande desfio foi aproximar a concepção eletrônica do Fábio ao esquema rock de baixo-bateria-guitarra do qual dispomos pras canções que arranjei. Estamos muito felizes com o resultado”, afirma Renato.
O novo álbum conta também com arranjo de cordas do Arthur Alves, gravado em Londrina (PR). “É um disco interestadual, internético, feito em Santarém, São José dos Campos, Londrina e Belém, onde ficam os home studios do Fábio, Henry, Arthur, e o Guamundo Home Studio, onde finalizei o disco como um todo”, finaliza o músico e produtor.
O pocket na Discosaoleo |
Henry Burnet: Um dos meus ex-orientadores, prof. Celso Favareto, que escreveu um dos primeiros estudos acadêmicos sobre o tropicalismo publicadso no Brasil, chamado "Tropicália: alegoria alegria" (Ateliê Editorial), depois de assistir um concerto que fiz com o Paulo Vieira no Instituto Cervantes, em São Paulo, me disse a seguinte frase mais ou menos assim: "Não se preocupe, sua música pertence a um momento anterior à invenção do mercado, ela soa mais medieval que moderna, você não tem nenhuma chance no atual cenário". Foi um comentário forte, que recebi com um misto de tristeza e orgulho, mas hoje o compreendo como uma das audições mais profundas que já tive, e o aceito com muita tranquilidade.
Holofote Virtual: Dito de outra forma, a música continua sendo o prazer e a academia o oficio? Como tu enxergas o encontro das duas no teu próprio trabalho?
Henry Burnett: Tenho um prazer imenso em escrever e meus cursos são momentos de grande independência. Sinto-me privilegiado em ter podido criar uma linha de pesquisa que une sem maiores pretensões a reflexão filosófica com a cultura musical, principalmente a popular. Meus alunos e orientandos já me deram provas suficientes de respeito e dedicação que me permitem seguir adiante nessa quase cruzada pelo aprofundamento da crítica musical de traço filosófico no Brasil. Isso só foi possível porque a Unifesp não tinha uma área de Humanidades específica quando cheguei junto com o 1º grupo de professores. A liberdade e o prazer foram essenciais naquele momento, há exatos 10 anos.
Holofote Virtual: Tua parceria continua firme e forte com Paulo Vieira, se não me engano cinco das 10 musicas de Incidental trazem letras em parceria com ele...
Henry Burnett: Nosso encontro tem a mesma idade do Não Para Magoar, ele estava no lançamento aqui em Belém e foi o Milton Kanashiro que nos apresentou. Foi um encontro feliz, porque sofremos angústias vitais parecidas. Disso resulta uma afinidade que encontrou termo nas canções. Uma adequação muito forte entre a poesia moderna dele e minha música arcaica.
Holofote Virtual: Este é um disco feito inteiramente independente, como foram os demais trabalhos ou tivestes Lei de Incentivo etc, aliás, como enxergas estes mecanismos de incentivo a cultura?
Henry Burnett: Acredito nos mecanismos, mas não sou capaz de adequar o que faço a algum tipo de identidade musical em voga, algo que me colocasse no páreo para um edital de música autoral. Novamente a frase do Favareto serve para iluminar minha resposta: o mercado musical não precisa de melancolia, de canções profundas, para ele só a festa tola serve de alimento. E eu não vejo lá muita razão pra festa.
Holofote Virtual: Que escolhas foram feitas para o “Belém Incidental”, que traz também parcerias com Edson Coelho e Renato Torres...
Henry Burnett: Quis lançar o disco novo reunindo meus três parceiros mais frequentes, cada um a seu modo faz parte essencial da minha história com a música, que em 2018 completa 30 anos. Edson foi meu primeiro parceiro valendo, eu ainda era um adolescente.
"Por uns tempos", dessa primeira safra, retornou no DVD por sugestão do Paulo e acabou se tornando o título do projeto. O Renato ajudou a definir musicalmente o que faço, e é o responsável pela finalização do Belém Incidental no Guamundo Home Studio, que ele montou e vem lapidando cada vez mais.
"Por uns tempos", dessa primeira safra, retornou no DVD por sugestão do Paulo e acabou se tornando o título do projeto. O Renato ajudou a definir musicalmente o que faço, e é o responsável pela finalização do Belém Incidental no Guamundo Home Studio, que ele montou e vem lapidando cada vez mais.
É meu 1º disco gravado totalmente em estúdios caseiros, levando o conceito de independência às últimas consequências. O que assino sozinho são canções de mais de 20 anos, como "Vozes do norte" e a mais recente, que escrevi para minha mãe ano passado, quando ela completou 70 anos, "E nós".
Holofote Virtual: Quando viajas para fora do país, participando de conferências acadêmicas, sempre acabas tocando. Em Portugal foi muito bacana aquele encontro com o “Campo e a Cidade”, tive o privilégio de estar na plateia. Pensas em levar "Incidental" a Europa, tamb?
Henry Burnett: Estive recentemente em Berlim, onde fiquei durante um ano e fiz alguns concertos. A recepção é sempre tocante e respeitosa. Na Alemanha sempre foi assim, nas 4 temporadas que passei lá desde 2001, eles amam a música e a respeitam, e como a música do mundo migra para a cidade, sempre fui recebido muito bem. Os concertos nas igrejas, sempre abertas à música, são inesquecíveis.
Holofote Virtual: Depois deste CD já há algo engatilhado, algum outro trabalho, em relação à música e também à filosofia, claro.
Henry Burnett: Inscrevi um projeto de um livro-DVD infantil chamado "Livro de imaginacéu" em uma seleção pública, mais um trabalho conjunto com o Paulo Vieira. Um projeto de execução cara, mas no qual eu aposto muitas fichas. Escrevi também um conjunto de letras para músicas de um compositor brasileiro que conheci em Berlim chamado Guilherme Valverde, este projeto está em produção e devemos lançar em breve, vai se chamar Sangue.
O Guilherme assina o projeto gráfico do Belém Incidental também, e a capa criada sobre a foto do Luiz Braga [Pescador em Soure], gentilmente cedida para o disco. Tenho um projeto de reunir as minhas canções mais melancólicas, diluídas nos 5 álbuns e montar um show com o Arthur Alves, celista paraense que vive atualmente em Londrina; será um grande momento abraçar a melancolia no mar da euforia neurótica da alegria nacional.
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