O Lamugem – Memórias Vividas na Palma da Mão se despede do público numa culminância que ficará na memória e deixará seu legado. A programação neste domingo, 26, começa às 10h com lançamento da coleção de eco joias "Mãos de Lamugem", de Val Genú, música ao vivo do Trio Chamote e vai até 17h com vivências no torno, exposição de peças de mestres ceramistas e feirinha de produtos orgânicos. Tudo na Olaria do Espanhol, em Icoaraci, com entrada gratuita.
O evento de enceramento do Projeto Lamugem vem sintetizar o que foi vivenciado entre julho e agosto, na Olaria do Espanhol. Em mais de um mês e quatro encontros pontuais, três rodas de conversa, uma vivência e uma oficina, o Lamugem – Memórias Vividas na Palma da Mao, projeto realizado por meio do Programa Seiva da Fundação Cultural do Pará, reforçou a importância da união do novo com o tradicional, abordou diversos assuntos ligados ao saber ceramista e suas novas conexões com o mundo contemporâneo, entre elas as ferramentas do design no processo criativo, preservação e valorização da cultura ceramista.
“Foram essas coisas, principalmente, que objetivaram o projeto e que estarão presentes neste enceramento. A ambientação que fizemos vai contar ao público também um pouco dessa história e dessa paisagem, que não é mais apenas cênica, é também sonora, pois teremos a música do Trio Chamote que traz os ritmos tradicionais que também fazem parte desse contexto”, diz Milene Guedes, Designer de Interiores e coordenadora do projeto.
Outro recorte importante da programação será a participação de diversos mestres ceramistas, que estarão expondo peças tradicionais de suas criações. A exposição contará com trabalhos de Levi Cardoso, Rosemiro Pereira, da artesã Cissa, já falecida, José Anísio da Silva, Guilherme Santana, Carlos Natividade, Jorge Pachoal e Marivaldo Sena da Costa.
A programação inicia com o lançamento da coleção “Mãos de Lamugem” e música ao vivo do Chamote, que pesquisa o carimbó e outros ritmos que remetem à cultura de Icoaraci, também estará presente uma feirinha com produtos orgânicos da marca Temperos da Ju. O público que se interessar também poderá experimentar o torno e meter a mão no barro para produzir uma peça utilitária com a marca da Olaria do Espanhol.
Peças revelam a cultura do lugar
Inspirada nos elementos que norteiam o ambiente de uma olaria e do contexto ceramista que paira sobre Icoaraci, a primeira coleção criada pela artesã Val Genú integra o projeto Lamugem com 18 séries, reunindo cerca de 60 peças, que se remetem aos hábitos e costumes na vivência dentro do espaço, dando sentidos e significados à historia e cultura ceramista.
“O projeto Lamugem veio como aperfeiçoamento do meu processo de produção e ao mesmo tempo para expandir os meus horizontes em relação ao barro. Ao longo das rodas de conversa pudemos perceber muitas coisas que se somaram a essa vivência. Venho há um ano para esse lugar e aqui tudo me desperta à criação. Os laços de afeto a relação com o mestre Ciro”, diz Val, se referindo a Ciro Croelhas, mestre ceramista da família de espanhóis que chegou ao Pará em 1903 e fundou o espaço que ficaria conhecido como Olaria do Espanhol.
A Coleção “Mãos de Lamugem” se inspirou então na história da própria olaria e suas ligações com a cultura espanhola. As plantas do lugar, ou ainda o chamote, que são os cacos de cerâmica reaproveitados. Triturados e transformados em pó, ele é misturado na argila novamente, fazendo com esta fique mais forte e resistente ao fogo. “É matéria prima usada para a confecção das panelas refratárias de barro”, explica Val.
Algumas peças também são inspiradas nos movimentos da maromba, máquina que amassa o barro e ajuda na limpeza do barro antes dele ir para o torno e ser modelado. Há ainda peças inspiradas em desenhos do Padre Giovanni Gallo, que resultaram em um livro feito especialmente para as bordadeiras do Marajó.
Em seus grafismos e formatos, algumas peças lembram a cultura do uso de redes. A simetria na arrumação da cerâmica utilitária produzida na olaria não passou despercebida e também serviu de inspiração para a artesã. “As peças são colocadas para secar em prateleiras e tem dias que elas estão totalmente preenchidas mas de tal forma que parece até que o serviço foi feito por máquinas. É uma harmonia e de uma beleza absurda a forma como tudo é disposto naqueles espaços”, admira Val.
Vivência e aprendizado
O foco na pesquisa e produção de eco joias em cerâmica artística utilizando o barro como matéria prima de modelagem, é algo recente na trajetória de Val Genú, que já trabalhou com materiais sintéticos, mas que hoje busca uma produção de consumo consciente que agregue elementos da natureza, como sementes, madeiras e fios naturais, proporcionando às peças, um misto de rusticidade e sofisticação.
Nascida em Belém, Val teve os primeiros contatos com a área de artes no final dos anos 1980, ainda com 17 anos, quando trabalhou em uma galeria de arte, mas ea acabou se formando em Serviço Social, profissão em que atuou até 2002. Foi somente após sua pós-graduação em marketing, que ela aperfeiçoou-se na área de pintura industrial, com técnicas variadas. Nessa época, criou o ateliê Art’Genuina, onde passou a trabalhar com a pintura em cerâmica.
“Na época, eu fazia bijuterias em cerâmica plástica e modelagem em porcelana fria, agregada a produção de peças decorativas em MDF, foi somente ano passado, no mês de junho, que resolvi experimentar o barro (argila) e isso foi um grande divisor de águas em minha vida”, finaliza Val.
Serviço
Encerramento do projeto “Lamugem - Memórias Vividas na Palma da Mão”. Domingo, 26 de agosto, das 10h às 17h - OLARIA DO ESPANHOL - Rua Sta. Isabel n° 2010 (entre Andradas e Soledade), Bairro: Paracuri – Icoaraci – Belém - PA.
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