16.1.19

Os diálogos para uma política cultural de Estado


A nova cara da Secult (foto da página de Úrsula Vidal)
No final da semana passada, a nova secretária de cultura do Estado, Úrsula Vidal, anunciou em sua equipe nomes que trazem em seu histórico a luta por políticas culturais de Estado. Alguns têm atuação artística na capital, na cena nacional e  experiências em projetos artísticos e ações em outros municípios. Outros já atuaram em gestões públicas de outros governos.

É o caso do ator, escritor e autor Adriano Barroso, um dos mais ativos críticos a gestão de Paulo Chaves. Ele assume pela primeira vez um cargo público, ao contrário do artista plástico Armando Sobral, que já atuou na extinta Fundação Curro Velho, em gestão do PSDB, entre 2001 e 2006, e dos músicos Allan Carvalho, que esteve na Secult na gestão não tão bem sucedida do PT, e Junior Soares, que estava no quadro de gestores do PSDB, na Fundação Cultural do Pará, nos governos do Jatene.

Ainda da área das artes plásticas, está Emanuel Franco, que traz experiência da gestão privada, de quando dirigiu a Galeria de Arte da Universidade da Amazônia, a Unama. Do audiovisual, está o cineasta Januário Guedes, e o produtor, diretor e militante do áudio visual Afonso Gallindo, que sempre foi um grande articulador desta cena. Da produção criativa, temos as militantes da cultura Tainah Jorge e Lorena Saavedra, mas ainda faltam nomeações, assim como há outros nomes confirmados como Joyce Cursino e Márcia Carvalho, jornalistas, e José Maria Zehma Reis, que traz sua experiência na cultura popular, o cantor lírico Daniel Araújo, e o produtor Sérgio Oliveira. Confiram todos os nomes e suas funções no site da Secult.

Depois da euforia causada nas redes sociais, com a apresentação dessa equipe, e dos eventos festivos da Cabanagem, no dia 7, e do aniversário de Belém, em seus 403 anos, no sábado, 12 de janeiro, a ação mais esperada  e aguardada pelo público de artistas e produtores foi tomada pela secretaria. Nesta terça-feira, 15, Úrsula Vidal e equipe, em uma ação conjunta realizada pelas redes sociais, convocaram um encontro os fazedores de cultura, para ouvir as categorias e anunciar suas novidades.

O convite está feito para esta sexta-feira, dia 18/01/19, às 18h, no Teatro Gasômetro, localizado no Parque da Residência. O próximo passo talvez seja ir aos municípios, uma vez que a gestão deve se intensificar também nas demais cidades paraenses, evitando a concentração da ações apenas na capital, uma reivindicações que já está sendo feita também pelas redes sociais. Por enquanto, quem estiver fora de Belém, poderá acompanhar pelas redes sociais, pois haverá transmissão pela página da secretaria no facebook.

Definições e espera de outras nomeações na área cultural

Monumento da Cabanagem: ação imediata de recuperação
Ainda há área ligadas à cultura indefinidas, mas em notícia divulgada nesta manhã pelos veículos de imprensa da família Barbalho, está confirmada na Fundação Carlos Gomes, a volta da professora Glória Caputo, após 22 dois anos de uma gestão que foi uma das mais elogiadas e que abraçava ações em todos o estado.

Para a Funtlepa, a Cultura Rede de Comunicação, até ontem sem nenhuma chefia, parece que também já foram nomeados dirigentes, segundo postagem desta manhã, do radialista Fabrício Rocha, funcionário da rádio cultura. De acordo com ele, assumem a presidência, Hibert Nacimento (Binho Dilon), a direção da rádio, Nonato Cavalcante, e Vanessa Vasconcelos, a direção da TV.

Helder Barbalho ainda divulgou nomes para a Fundação Cultural do Pará, responsável pela gestão da  Lei de renúncia fiscal, Lei Semear, e os incentivos diretos da micropolítica dos Editais SEIVA, implementados na gestão de Dina Oliveira.  A fundação também detém o controle sobre os espaços Casa das Artes (IAP) e Curro Velho, antes instituições independentes, que foram extintas pelo governo Jatene, mais um dos grandes golpes dados na área cultural. 

Dois espaços que ficaram à deriva neste últimos anos e que merecem atenção da gestão que vier. Vale lembrar que no extinto IAP havia um núcleo do "Pará Criativo", que foi desmantelado, e o Núcleo de Produção Audiovisual NPD, que chegou a ser coordenado por Afonso Gallindo, no primeiro governo de Jatene, e que hoje está também sucateado.

A ex-fundação Curro Velho manteve como pôde suas oficinas, mas há muito tempo que vem perdendo sua função de ator social em um dos bairros mais pobres de Belém, a Vila da Barca. Tudo isso merece um olhar mais cuidadoso. Tomara que haja com estes espaços, a mesma e imediata preocupação que houve em recuperar o monumento da Cabanagem, que sabemos, foi inaugurada no governo de Jáder Barbalho,  pai de Helder, e senador reeleito.

Do Sarau Multicultural às expectativas de uma nova gestão


Jorge André (foto de sua página no FB)
Buscando dialogar sobre a situação atual da cultura em níveis municipal, estadual e federal, o blog conversou com o produtor e ativista cultual Jorge André, que produz uma das cenas de maior resistência da cidade, o Sarau Multicultural do Mercado de São Brás. Ele diz que mesmo com o cenário de perseguição institucionalizada visto no Governo Federal, acredita que no âmbito local as coisas sejam diferentes, ao menos na esfera estadual.  



“Anseio ver ainda mais ativistas envolvidos na discussão sobre caminhos a seguir, cobranças sobre as medidas adotadas nas gestões passadas, participação na construção de politicas públicas inclusivas e, principalmente, respeito à cultura popular, fomento, transparência e democratização administrativa”, diz. As expectativas por mudanças na gestão estadual dos recursos da cultura são grandes.

Na esfera estadual, o ativista diz que espera ver uma profunda mudança no modo como os recursos, espaços e modelo de gestão foram conduzidos ao longo de toda a história do Pará. "Nunca tivemos ativistas diretamente engajados no fazer cultural conduzindo a Secretaria de Cultura, salvo o período em que o professor Edilson Moura assumiu o cargo, vale ressaltar”, diz Jorge André.

Já na administração municipal de cultura as coisas são mais nebulosas. Voltando ao Mercado de São Brás, onde além do Sarau Multicultural, da "Batalha" de São Brás (cena Hip Hop), das rodas de capoeira, dança de rua, skate e quadrilhas juninas, também observamos um dos momentos de maior abandono em sua história. 

“O mercado está abandonado tanto em sua estrutura física, quanto na ausência total ou precária manutenção e limpeza, perseguição a permissionários que se insurgem em denunciar as arbitrariedades administrativas da SECON, órgão da prefeitura responsável pela administração e com a ausência da Guarda Municipal, que já teve inclusive um posto avançado no local, porém hoje nem rondas faz naquela praça de grande circulação e recorrente incidência de casos de violência urbana”, relata Jorge André.

No terceiro ano do segundo mandato seguido do prefeito Zenaldo Coutinho Jorge, Belém vê seu patrimônio cultural sucumbindo, a Lei Tó Teixeira sendo desmantelada e o edital lançado no segundo semestre do ano passada, por sua formatação mais voltada às ações sociais, deixando do lado de fora  inúmeros projetos culturais.

“Aguardo a execução das duas sentenças de cassação do mandato do atual prefeito, que cometeu crimes eleitorais, realiza uma gestão inexplicável que abandona a cidade, permitindo a deterioração de patrimônios históricos, desperdiça nosso poderoso potencial cultural, econômico, turístico e de desenvolvimento humano, gerando o crescimento da pobreza, da violência, a perda de memorias e saberes, sem esquecer diversas outras mazelas que transversam a situação”, aponta Jorge André.

Pois bem, o ano está só começando e já há muitas novidades, mas nenhuma tão animadora quanto a mudança de paradigmas que se espera na Secult Pará. É preciso literalmente virar as chaves que abrem as portas da secretaria de cultura de estado ao público, aos artistas aos gestores da economia criativa.

Os artistas, agora gestores públicos, deverão colocar à frente de seus projetos pessoais e suas carreiras, os interesses coletivos para que efetivamente se construa uma política de estado, que deixe seu legado após o mandato. Vamos aguardar o que a secretaria de cultura vai dizer, colher e compartilhar, mas os fazedores de Cultura também precisam propor, participar, fiscalizar e cobrar. Estamos querendo ver a roda girar. 

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