O patrimônio arquitetônico conta parte da história de uma cidade, mas além de suas características e estilos de arquitetura, também revela muito sobre a sociedade de sua época. Antes de ser erguido o prédio que já foi sede da Fumbel, e está hoje quase em ruínas, na Rua Padre Champagnat, esquina da Rua Dr. Assis (antiga Rua do Espírito Santo), no Largo da Sé, existia um sobrado azul que por uma triste coincidência desapareceu devido ao abandono de seus donos e do poder público.
Investigando sobre o processo de restauro do prédio da Fumbel, que deveria ter sido entregue à população, em 2018, isso contando com os diversos adiamentos da prefeitura de então, acabei descobrindo que o sobrado azul foi identificado pelos técnicos do IPHAN, graças a uma litografia de 1867 de Joseph Leone Righini, publicada por Conrad Wiegandt no álbum de 12 gravuras de Belém do Pará: Panorama do Pará em Doze Vistas (RIGHINI, 1867). Na obra de arte há mais três edificações na sequência, cada uma com três vãos, totalizando 20 janelas.
Os últimos moradores do Sobrado Azul foram Maria Violeta Vasconcelos Souza Filho e Ernestino Souza Filho, jornalista e advogado, proprietário da Revista A Semana. A família morava no pavimento superior e a gráfica da revista no térreo. Havia também sala de estudos e de jogos para os filhos. Antigos moradores daquela área informaram que havia outros sobrados ali, mas que este, foi o único a se manter em pé até 1960, mantendo suas características originais. No entanto, sem manutenção, abandonado pela família proprietária, após uma chuva, parte dele ruiu e logo tudo se perdeu.
Ex-sede da Fumbel, em 2018 Foto: Cláudio Ferreira |
Em 1988, graças a isso, teve início o projeto arquitetônico da atual edificação, sendo desenvolvido pelos arquitetos Paulo Chaves Fernandes e Jaime Bibas, já falecidos, além de Rosário Lima e Mariângela Melo.
Em estilo contemporâneo, mas com elementos que remetem ao passado, o 'novo" prédio foi inaugurado em 1992, como sede da Nossa Oficina, uma unidade da Fundação Papa João XXIII, até sofrer novas intervenções para abrigar a Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL), inaugurada em 31 de janeiro de 2003. Uma década se passou e em 2013, o prédio foi uma das edificações selecionadas para restauro com recursos do PAC 2 - Cidades Históricas, através da Portaria nº 383 de 20 de agosto de 2013, publicada no Diário Oficial da União – Seção 1, página 6, no dia 22 de agosto.
Prédio foi abandonado após chuvas em 2014
O mesmo prédio, em 2019 Foto: Otávio Henriques |
Localizado no entorno da Praça Frei Caetano Brandão (antigo Largo da Sé), tombada pelo IPHAN desde 1964, o prédio é vizinho de monumentos tombados e de valor histórico e arquitetônico como a Catedral Metropolitana de Belém, a Igreja de Santo Alexandre, o Museu de Arte Sacra, o Forte do Presépio e o Museu da Casa das Onze Janelas.
Por isso, o prédio tem proteção patrimonial garantida por lei, em nível federal (Decreto Lei Nº 25/37 que organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e em nível municipal (Lei Nº 7.709/94 de Preservação e Proteção do Patrimônio Histórico Artístico, Ambiental e Cultural do Município de Belém).
Em 2014, uma forte chuva gerou danos no telhado e no forro da edificação. Desde então a sede da Fumbel foi transferida para o Memorial dos Povos e ex-sede seguiu abandonada, à disposição de cupins e de água parada. Pedras de mármore foram destruídas, a tubulação foi entupida, quebrada e retirada. A escada ficou toda enferrujada.
Em 2018, ainda houve esperanças de que o prédio fosse restaurado, com a assinatura do termo de aditamento que prorrogou até novembro daquele ano, a vigência do Termo de Compromisso PAC CH nº 274, mas que nada. O processo para o restauro do prédio ex-sede da Fumbel, segundo os processos junto ao IPHAN, já conta com os documentos de Identificação e Conhecimento do Bem e com o Anteprojeto, mas ainda estavam faltando ser aprovados o Projeto Básico e o Projeto Executivo.
Em 2022, espera-se pelas ações de patrimônio, e além de ex-sede da Fumbel, há ainda o Palacete Pinho, que precisa ser olhado, e o Cinema Olympia, que completará em abril, 110 anos, e está fechado. Esse debate em torno das políticas públicas para a cultura e patrimônio me fez lembrar da reportagem que escrevi para a Revista Circular N. 3 e da qual reproduzo aqui alguns trechos, numa reedição. As informações foram pesquisadas diretamente no processo administrativo referente à ação do PAC CH, disponível no IPHAN.
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