19.2.22

Telas em Movimento abre em Altamira no domingo

A partir da temática “As narrativas climáticas da Amazônia”, a Negritar Filmes e Produções, aliada às lideranças locais, caciques, organizações sociais, comunicadores populares e produtoras independentes realiza abre neste domingo, 20, a 5º edição do Telas em Movimento começa neste domingo, em Altamira, no Sudoeste do Pará, onde está sendo realizada a oficina “Da pré a pós produção de audiovisual”, em parceria com o Festival Curta Xingu, promovido pelo coletivo Arte Comunicação Xingu (ACX). A turma é formada por indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares e jovens de movimentos sociais da região. 

Neste ano, o Festival de Cinema das Periferias e Comunidades Tradicionais da Amazônia - Telas em Movimento expande sua atuação para novos territórios nos estados do Pará e Maranhão, com o intuito de democratizar o acesso ao cinema e incentivar dinâmicas de criação, percepção e distribuição de narrativas plurais em defesa da Amazônia viva, produzidas e narradas por aqueles que vivem seu território e estão na linha de frente dos impactos causados pela crise climática. 

Para Val Araújo, produtora cultural e coordenadora do ACX, a crise climática tem atingido a região de forma intensa: “As mudanças climáticas aqui na região do Xingu estão provocando escassez, calor e muita chuva. Os rios não subiam tanto como está agora devido ao aquecimento global, a mudança no clima e também ao empreendimento de Belo Monte, aí sobem muito as águas e os peixes se espalham e fica difícil a pesca para os pescadores, a agricultura familiar tá sentindo muito nesse aspecto de muita chuva e muito sol ao mesmo tempo”.

As populações que residem ou fazem parte do entorno de territórios com grandes riquezas naturais, que possuem a presença de grandes empreendimentos, a exemplo de Altamira, e áreas protegidas como terras indígenas, unidades de conservação, bem como os territórios nacionais que por lei ou tradição têm por objetivo a proteção ambiental são as primeiras a sofrerem os impactos da emergência climática, decorrente do aumento da temperatura média do planeta por conta das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). 

De acordo com o estudo inédito do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), divulgado no início de fevereiro deste ano, o desmatamento na Amazônia no período de 2019 a 2021 foi 56,6% maior que o período anterior, entre 2016 e 2018. Mais da metade do desmatamento do último triênio ocorreu em terras públicas, principalmente em áreas de domínio federal. 

Não à toa, a floresta amazônica viveu em 2021 o seu pior ano em uma década. De janeiro a dezembro, foram destruídos 10.362 km² de mata nativa, o que equivale a metade do estado de Sergipe, segundo os dados mais recentes do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que monitora a região por meio de imagens de satélites. 

Impactos e estado de emergência ambiental

O avanço do desmatamento, a agropecuária, a extração de petróleo, a pesca desenfreada e o despejo de poluentes nos oceanos são alguns dos fatores que fizeram o Brasil aumentar, na contramão do mundo, as emissões no ano 2020, crescendo 9,5%, enquanto no mundo inteiro elas caíram em 7%, em conformidade com os dados da última estimativa do Sistema de Estimativas de Emissão de Gases do Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, que todo ano calcula quanto o Brasil gerou de poluição climática

Frente este cenário, a disputa de narrativas na esfera pública de debate por parte das juventudes, das populações quilombolas e indígenas, e ativistas que protagonizam a defesa e a conservação dos territórios é fundamental para o fortalecimento do espaço cívico na Amazônia. Nesse sentido, o audiovisual é uma ferramenta imprescindível para contribuir com esse processo.

“Além das oficinas e das exibições nas comunidades, o Telas em Movimento vai articular com cada comunidade que faz parte da nossa rede, a produção de uma carta compromisso que será entregue para parlamentares estaduais e federais, porque a gente precisa entender que é obrigação e dever de todo mundo para que a gente possa mudar a realidade em relação a crise climática que estamos vivendo”, diz Tamara Mesquita, diretora de produção do festival. 

Ao final da oficina, neste domingo, 20, será realizada uma mostra com o filme produzido pelos participantes, logo após terá um bate papo sobre o processo de aprendizado e construção audiovisual, além de contar com a apresentação cultural do Rap da Transamazônica e da associação dos grupos folclóricos de Altamira (AGFAL). O estudante de engenharia florestal, Jhonathan Prado, é um dos participantes da oficina e acredita que o audiovisual é uma ferramenta importante para o processo de fortalecimento das narrativas da sua região. 

“Não precisa vir alguém de fora para contar nossa história, a gente mesmo tendo noção e conhecimento do audiovisual pode colocar nas nossas telinhas a nossa realidade, o que a gente vive aqui. Então o audiovisual chega até nós para fortalecer esse processo de ‘nós por nós’, nós mesmos contarmos as nossas próprias histórias”, diz.

Pequena retrospectiva dos três ano do festival

A primeira edição do projeto aconteceu em 2019, em Belém do Pará, e beneficiou toda a cadeia do audiovisual, incluindo seus agentes e receptores em várias regiões periféricas e ilhas da capital do estado. Em 2020, o Telas em Movimento retornou às comunidades e realizou as ações “Fica no teu setor”, “Telas contra a Covid-19” e o “Telas da Esperança”, mobilizando alimentos, kits de higiene, difundindo informação acerca da Covid-19 e incentivando as crianças à imaginação criativa através dos seus desenhos. 

No primeiro semestre de 2021, na sua terceira edição, trouxe a pauta da inclusão digital a partir temática “Navegações Inclusivas”. E durante o segundo semestre, em sua 4° edição intitulada “Telas em Rede: Conectando Juventudes e Ancestralidade no Baixo Tapajós”, foi para o Oeste do Pará, realizando vivências na Aldeia Vista Alegre do Capixauã, dentro da Resex Tapajós-Arapiuns, e na comunidade de Vila Brasil, no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, ambas no município de Santarém. 

Como resultado desse processo, as juventudes do Baixo Tapajós produziram seis filmes por meio de smartphones, possuindo gêneros diversificados: Documentário, ficção e vídeo para internet, abordando temáticas que valorizam os seus territórios, exaltando as belezas naturais, as mobilizações locais e as boas práticas realizadas, como o reflorestamento e o turismo de base comunitária, contrapondo narrativas hegemônicas depreciativas a partir do protagonismo e emancipação da juventude por meio do audiovisual.

Serviço

A 5° edição do Festival de Cinema das Periferias e Comunidades Tradicionais da Amazônia - Telas em Movimento será realizada de fevereiro a setembro deste ano. Neste domingo, 18h, haverá Mostra em Altamira, com exibição de filmes locais e apresentação do Rap da Transamazônia  e Carimbó do AGFAL. Na Praça da Independência, Rua da Orla, Recreio - Altamira-Pa. Gratuito e aberto ao público!

(Holofote Virtual, com informações enviadas pela assessoria de imprensa)

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