Os rolo, um tesouro imagético |
A ideia era lançar as imagens feitas em Super 8, durante as transmissões do Círio, no último domingo, mas só hoje foi possível postá-las nos perfis do Projeto UFPA 2.0 e nas redes sociais.
Além de imagens do Círio de Nazaré, dos anos 40 e 50, há outras inúmeras paisagens da Belém daquela época indo até os anos 1970, também resgatadas, incluindo a primeir gravação de Fafá de Belém cantando. Leiam a entrevista feita pelo jornalista Edney Martins, enviada em primeira mão ao Holofote Virtual. Ele conversa com o arquiteto Flávio Nassar, que herdou o material mais antigo de um amigo e com o artista plástico Ronaldo Moraes Rêgo, que também uniu as filmagens feita por ele, ainda na adolescência. Depois acessem e confiram tudo aqui: http://ufpadoispontozero. wordpress.com/
O Círio além dos tempos e das imagens
Por Edney Martins
Imagem do acervo do IPHAN, anos 1950 |
Dos mais antigos arquitetos atuantes no Pará, formado nos EUA, onde também ministrou aulas na Escola de Arquitetura de Kansas, Paul Albuquerque participou da fundação do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Pará e foi responsável por uma das mais importantes divulgações da arquitetura brasileira, ao contribuir com a organização, em 1943, de edição do Museu de Arte Moderna de Nova York, onde publica uma das primeiras referências sobre a obra de Antônio Landi.
Paul retornou a Belém no início dos anos 50 e foi um dos primeiros arquitetos atuantes na cidade, projetando residências e à frente de seminários que ampliaram o estudo sobre a obra de Landi. Amigo de Albuquerque, o professor Flávio Nassar, Pró-Reitor de Relações Internacionais da UFPA, recebeu do professor Paul uma caixa com rolos de filmes gravados por ele, entre as décadas de 40 e 50.
Quando finalmente conseguiu tratar o material, Nassar se deparou com uma profusão de imagens que não retratam só parte de uma cidade e seus costumes, mas o cotidiano de uma família e suas andanças, emolduradas por um tempo dessa Belém da qual muitos de nós sempre falamos, mas que poucos são os que de fato a conheceram.
Junto a esse material, se junta uma outra caixa que guardava filmes de 8mm e de Super 8, gravados pelo artista plástico Ronaldo Moraes Rêgo. É uma secessão de experimentações, tomadas e participações especiais, como Luis Braga e Janjo Proença.
Nos dois materiais, lá está ela, a procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré vista em duas janelas do tempo, em 1950 e 1970, com um trajeto impressionante de um promesseiro registrado por Paul andando pelas ruas da cidade em busca de pagar a sua promessa à Santa.
Aqui Nassar conta sobre essas descobertas.
Como surgiu esse material?
Nassar: Eu e Paul sempre fomos amigos e trocávamos constantes informações sobre Belém e sua memória. Quando estava fazendo o inventário da iconografia do Círio de Belém, que levou o Círio a ser declarado patrimônio da cultura brasileira, falava para ele que não era possível que não tivesse imagem em movimento da procissão, e perguntei para ele se sabia quem tinha ou se tinha visto alguma imagem de filme do Círio.
Um dia ele chegou comigo com alguns rolos de filme antigo e me entrega, dizendo: “Com certeza tenho imagens do Círio aqui, mas acho que não dá para ver, porque era de uma câmera Super 8 e eu não tenho mais o projetor.
Flávio Nassar, que herdou o legado |
Edney Martins: Em que ano foi essa conversa?
Flávio Nassar: Foi no início dos anos 2000. Um ano antes do Círio ser declarado ele me entrega esse material dizendo que ali tinha imagem, mas tinha que procurar uma forma de converter isso.
Levei para o IPHAN, informei que tinha isso, mas àquela época ainda era muito caro converter esse material da película para o digital, e eles disseram que não tinham dinheiro para fazer isso, mas mesmo assim eu deixei lá, mas não conseguiram, por isso fui lá buscar depois de um ano mais ou menos, dizendo que iria guardar e depois eles poderiam pegar comigo.
Edney Martins: E ficou em suas mãos até agora?
Flávio Nassar: Passou mais um período no MIS, que soube que eu tinha esse material e me sinalizou com a possibilidade de fazer a conversão das imagens, mas tive que buscar de novo, porque não conseguiram dar andamento a isso. Daí disse que ficaria com esse material, até ter condições de fazer tudo para trazer aquelas imagens de volta, porque sabia que isso era um tesouro escondido.
Edney Martins: E essa data finalmente chegou?
Flávio Nassar: Chegou! Agora, no Forum Landi, por conta do Projeto UFPA2.0, nós estamos em busca de conteúdo para postar nos perfis do projeto nas redes sociais, e me lembrei dos filmes e disse: “chegou a hora!”.
O Super 8, que resisiu ao tempo |
Edney Martins: E quais os tesouros que o senhor encontrou?
Flávio Nassar: Dentro desse material têm cenas impressionantes de Belém, do seu porto a partir do cais e de dentro de um navio da família do Paul, de cenas do carnaval na Presidente Vargas com o Grande Hotel ainda de pé e com as pessoas assistindo o desfile de corsos pela rua cheia de mascarados, homens, mulheres e crianças fantasiadas.
Também têm cenas que ele gravou no Acre, em Havana, quando esteve logo após a revolução, em vários lugares de Belém, como o Ver-O-Peso, o aeroporto de Belém, o casamento das filhas, praias no Mosqueiro...um material riquíssimo.
Edney Martins: Como foram identificadas as localidades presente nos filmes?
Flávio Nassar: Somente com a ajuda do filho dele, o Paul Marcos Albuquerque, que conseguimos identificar os locais na decupagem que fizemos juntos. Convidei o professor Haroldo Baleixe, da FAU-UFPA, para participar desse resgate das imagens editando o material e produzindo os vídeos que estamos preparando para lançar os filmes, os colocando à disposição de todos, e esse é mais um material que o Projeto UFPA 2.0 faz circular.
Edney Martins: E o material do Ronaldo Moraes Rêgo?
Flávio Nassar: Esse material me foi entregue pelo Ronaldo quando disse a ele que tínhamos como recuperar as imagens, e foi outro grande presente que ganhamos, porque, além das imagens do Círio, temos raridades como alguns episódios de uma perseguição em que o fotógrafo Luis Braga e o jornalista Janjo Proença atuam como personagens de um suspense. Para o professor Moraes Rêgo, a notícia de que esses filmes foram recuperados e podem ser convertidos para o formato em DVD geraram uma curiosidade nova para rever essas imagens que ele gravou ainda na adolescência.
Moraes Rego: filmes experimentais |
Edney Martins: Qual a sensação de saber que esse filmes estão de volta?
Moraes Rêgo: A ficha ainda não caiu. O Flávio vinha me fazendo um convite há anos e não sei nem como eles sobreviveram, porque fiz uma reforma na minha casa e eles ficaram jogados no forro por muito tempo. Eu sempre tive vontade de revê-los, mas deixei de lado, por achar que já estavam perdidos.
Quando eles foram realizados?
Moraes Rêgo: Eles são do meio da década de 70, quando também realizamos os vídeos do episódio de aventura que tem várias sequências, inclusive uma em que a Fafá de Belém tem sua primeira performance gravada. Eu tinha entre 14 e 16 anos.
Edney Martins: O que os levou a fazer os vídeos?
Moraes Rêgo: Na minha cabeça, a inspiração veio do formato dos quadrinhos, porque eu gostava de desenhar, e me envolvi com a vontade de criar essas sequências, mas depois vi que a pintura é que era a minha vida.
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