21.10.12

Festival recupera a cultura da ópera em Belém

Luciana Tavares (solista) + Anne Dias e Katarina Nassar (coro)
A primeira já foi. “Cavalleria Rusticana” lotou o Theatro da Paz em suas três récitas. Na estreia, que aconteceu na quarta-feira, 17, assim como nos dois últimos dias, sexta, 19, e sábado, 20, a obra de Pietro Mascagni foi ovacionada pelo público. É só o começo

Quando o projeto do Festival de Ópera do Theatro da Paz foi implantado em  2002, o objetivo era trazer de volta para Belém, a cultura da ópera, já experimentada pela capital paraense entre o final do século XIX e início do século XX. A ideia, ousada, tinha porém, claros, os caminhos para sua concretização. A profissionalização local, criando mão de obra especializada para este tipo de espetáculo, e a formação de público, duas duas metas fundamentais, que vêm sendo cumpridas com destreza.

Um outro ponto obviamente fundamental é a sua programação, que precisa ser pensada de forma coerente para agradar e formar, tanto a plateia quanto os que estão nos bastidores e no palco. Assim, o XI Festival de Ópera do Theatro da Paz traz sua Master Class com a soprano Laura de Souza, no dia 23, e o recital Luso-Brasileiro, no dia 25, com o baixo barítono Antônio Salgado e a pianista Adriana Azulay, na Igreja de Santo Alexandre, além do concerto experimentalista e inédito "Quando o Jazz encontra a Ópera", no dia 31, com a Amazônia Jazz Band, no Theatro da Paz.

Já em novembro, o concerto "Centenário de Gentil Puget", com Marina Monarcha, dia 25, será oportunidade para se conhecer este compositor, contemporâneo de Waldemar Henrique e que por  isso mesmo, talvez, tenha permanecido ofuscado na história da música erudita produzida na região norte, e pouco acessado pelos paraenses.

O carro-chefe do festival, porém, é a ópera e ainda teremos mais duas este ano.  “João e Maria”, que vai literalmente enfeitiçar adultos e crianças, nos dias 1º, 3 e 4, e “Salomé”, a obra de maior dificuldade de execução deste festival, nos dias 24, 26 e 27 de novembro.

Há ainda mais um diferencial neste projeto. Desde 2002 que algumas das óperas apresentadas no festival são gravadas e editadas para serem lançadas em DVD. Já há quatro engatilhados, sob a direção de Neivas Ortega. Gravada por ele, em duas das récitas, "Cavalleria Rusicana" foi exibida, neste domingo, pela TV Cultura do Pará.

"Temos Iara que é uma ópera escrita por José Malcher - paraense - e que foi encenada há uns 5 anos, e é absolutamente inédita no mundo! Baseada na lenda amazônica da Iara, está pronta pra lançar, mas faltam alguns detalhes burocráticos", explica Neivas.

Apoiado pelo governo do estado, através de sua secretaria de cultura, e pela equipe do  Theatro da Paz, que tem atualmente como diretora Ana Cláudia Moraes, o festival é feito hoje por uma maioria de profissionais paraenses, entre artistas, músicos e técnicos, que continuam se aperfeiçoando, em contato com grandes nomes  que fazem a ópera no Brasil e no mundo. Alguns assumem postos de coordenação dentro do evento, como Ribamar Diniz que comanda a execução do cenário, concebido por Duda Arruk, e Cláudio Bastos, diretor de palco. Isso sem falar dos inúmeros cantores líricos que engrandecem o côro do festival, ou que já despontam como solistas, caso das sopranos Luciana Tavares e Alpha de Oliveira, que brilharam em Cavalleria.

A dedicação e seriedade com que o diretor do festival Gilberto Chaves vem conduzindo este empreendimento cultural, evidenciam-se nos seus resultados. Para ele, esta décima primeira edição traz muitas emoções e envolve 600 pessoas em sua construção e execução. “Trabalhamos para recuperar e formar plateia, sempre primando pela qualidade das montagens de óperas consagradas. A presença do público a cada edição, lotando o teatro, é um indicativo de que o caminho percorrido estava certo”, diz Gilberto Chaves.

Ele tem razão. Pelo que se viu na penúltima récita de Cavalleria Rusticana, pode-se dizer que a segunda meta também está garantidamente alcançada.  Era sexta-feira, em um país tomado pela cultura da televisão e o teatro estava repleto para a ópera, mesmo com a possibilidade de se perder o último capítulo da novela global do momento, um verdadeiro feito. 

Um dos momentos de João e Maria
João e Maria - E mais um passo nesta direção da formação de público é dado este ano, com a montagem de "João e Maria". 

Encenada no Brasil há quase 10 anos, tendo sua estreia no Teatro Municipal de São Paulo, a obra do compositor alemão Engelbert Humperdinck (1854 – 1921) é inspirada num conto clássico dos irmãos Grimm e promete trazer o público mais jovem para a ópera. Além do encanto que a história dos dois irmãos que se perdem na floresta, encontrando pela frente uma bruxa má e uma casa feita de doces e chocolates, exerce sobre as pessoas, a ópera traz outro quesito que merece a atenção desta plateia .

A parte musical da ópera será executada pela Orquestra Jovem Vale Música, do projeto Vale Música-Belém, criado 2010, tendo atualmente 67 alunos, com idade entre 13 e 23 anos, sob a regência do Maestro Miguel Campos Neto. Em dois anos de existência a orquestra já traz um largo histórico de apresentações musicais e já tem uma montagem inédita, a ópera infanto-juvenil “O Viajante das Lendas Amazônicas”, de Serguei Firsanov e João de Jesus Paes Loureiro, apresentada em Belém (Theatro da Paz) e no Ginásio Poliesportivo de Marabá, assim como no Palácio das Artes, em Belo Horizonte-MG, mas também já executou “Cambialle de Matrimônio”, de Rossini, que fez parte integrante do festival, em 2009.

Além de ter Miguel Campos Neto, como regente, a OJVM tem recebidos vários maestros convidados, como Jooyong Ahn (Coreia do Sul), Walter Michael Vollhardt (Alemanha) e Phillipe Forget (França). Em “João e Maria”, o regente será o maestro paulista Jamil Maluf, pianista e compositor, fundador da Orquestra Experimental de Repertório de São Paulo, criada em 1990.

Annemarie Kremer, solista holandesa será Salomé
Salomé - Depois de "João e Maria", o festival terá mais um desafio posto à prova. O público já aguarda ansiosamente a estreia de Salomé, para a qual os ingressos já estão praticamente esgotados. 

A ópera em um ato, com libreto de Hedwig Lachmann, é a tradução quase literal da peça que Oscar Wilde escreveu em francês entre 1891 e 1892, baseado em trechos do Evangelho segundo São Mateus (14:3-11) e São Marcos (6:21-28). Pouco se sabe da Salomé histórica, a não ser aquilo que eles dois mencionam sobre ela, mesmo sem dar-lhe um nome, no episódio da morte de São João Batista. 

A personagem bíblica ficou conhecida pela dança que ela teria executado na festa de aniversário de Herodes. O rei, seduzido por ela, pede que dance para ele e que se ela assim o fizesse, poderia lhe pedir qualquer coisa. Ela dançou. E pediu em troca, a cabeça do profeta servida em uma bandeja de prata. A partir daí, Wilde entra em cena e constrói a adolescente bela, lasciva e perversa, que teria se despido em frente de Herodes durante a mitológica dança dos 7 véus.

A obra musical é do compositor alemão Richard Strauss (1864 – 1949), considerado um dos mais destacados representantes da música clássica entre o final da Era Romântica e do início da Era Moderna. É autor do tema de 2001 Uma Odisséia no Esaço.

Em Salomé, Strauss cria uma composição de extrema complexidade e de difícil execução, para refletir ao máximo clima emocional e de alienação proposto pela história e seus personagens, que atuam em um cenário que sugere um terraço no palácio de Herodes, com vista para o Mar da Galiléia. A ópera que se passa na Palestina por volta do ano 27 (antes de cristo), estreou em dezembro de 1905, no teatro Hofoper de Dresden. Vai ser um dos momentos mais marcantes do festival de ópera do Theatro da Paz, com certeza. Para saber mais e conhecer toda a programação acesse o site oficial: http://festivaldeopera.pa.gov.br/

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