15.9.18

Unidade e culminância no 1o EP de Ramon Rivera

Fotos: Rodrigo Correia
Inspirado no processo de cicatrização que substitui os tecidos normais lesados ou seccionados, gerando uma marca ou da fissura e sua reconstituição lenta, dolorosa e gradual, o primeiro EP da carreira de Ramon Rivera traz três músicas autorais inéditas. “Cicatriz” resulta das experiências do artista com e na cidade. O lançamento será no dia 19 de setembro, próxima quarta-feira, às 19h, no Espaço Na Figueredo.

Por Bianca Levy

Arranjos bem trabalhados e referências que remontam o jazz, rock psicodélico, música latina e música popular brasileira. Como sugere o próprio nome do trabalho, o EP foi construído em um processo lento, de continuidades e descontinuidades. Cerca de dois anos separaram o início da gravação ao lançamento deste material que agrega tempos e bagagens do passado e presente do artista. 

Para Ramón, mesmo com o transcurso do tempo, a vivência e a experiência estética e conceitual destas cicatrizes ainda estão abertas. “Este EP tem um conceito ligado à memória. Essa ideia de cicatriz dispara um conceito poético de memória física que o nosso corpo carrega, e o EP é a materialização desta memória. 

Apesar das músicas serem antigas, no sentido de tempo de maturação, esse conceito de “Cicatriz” ainda é muito forte em mim, pois ele traz momentos preciosos que viraram canções. E nesse sentido eu não sei dizer quando essa cicatriz vai fechar. Talvez quando o público recepcionar o trabalho, rolar uma identificação e eles devolverem o feedback disso tudo, quando eu realmente sentir uma gratidão por me expor tanto nessa criação”, explica.

Como em todo trabalho bem lapidado, esta “cicatrização poética” se constituiu em um material pungente, de um multiartista que além da voz e do trabalho impecável com a guitarra –primeiramente na banda Les Rita Pavone e atualmente com o Dois na janela-, traz no début musical os conhecimentos das outras linguagens com as quais ele trabalha, como o teatro, o cinema e a docência. Ouvir as faixas de “Cicatriz” é adentrar em um universo estético e sensorial fértil e instigante. 

EP representa o impulso na carreira do artista

"Este EP veio pra culminar anos de trabalho, me dedicando ao teatro, à composição musical dentro do teatro- que eu comecei fazer dentro do teatro, mas que acabou se espraiando pra fora dele; e hoje em dia, no encontro com o cinema. Então eu nunca consigo trabalhar se não for dentro desta unidade, nem raciocinar estas linguagens de forma unilateral, separadamente, pois pra mim elas são altamente ligadas, unas num sentido integral, como nos rituais primitivos que deram origem ao teatro”, diz Ramon.

 “Cidade Morena”, “Sequela Flor” e “Recuerdaste” são os nomes das três faixas do compacto. A primeira, contém influência do soul music brasileira (Marku Ribas, Carlos Dafé, Cassiano), e além do groove, traz em sua letra uma pegada política, ao questionar a democracia racial e o título de cidade morena à Belém. “Sequela Flor” é, como enfatiza o artista, “a música que define o conceito do EP: um Arrocha Rock Artaudiano”. Com influências de teorias teatrais que exploram o próprio conceito de cicatriz, como a Dramaturgia pessoal do ator e o Teatro da Crueldade, a canção é dedicada à mãe de Ramón. Já “Recuerdaste”, é uma música acústica que fala de amor. Com letra em espanhol, ela faz alusão à ancestralidade paterna latina do músico.
     
Para Dan Bordallo que assina a produção de parte do trabalho pelo Estúdio Casarão Floresta Sonora, o cuidado dispensado à produção do EP resultou em material que é, na verdade, uma surpresa boa para a cidade e uma aposta em um músico que desponta na cena. “Agora que a gente finalizou o trabalho, eu vejo como este processo cuidadoso, gerou bons resultados. É um som meio tropical, pop, mas com elementos distintos e raízes no que já foi feito antigamente. Então a galera que gosta do que tá rolando na música atualmente vai gostar”, afirma Dan. 

Ele é complementado também pelo sócio do estúdio Léo Chermont que acompanhou de perto as gravações: “O EP tem uma sonoridade boa e foi feito em um momento em que o Ramón está se encontrando musicalmente dentro de todo o repertório que ele tem. É um disco muito legal de um artista bom que está aí”, resume.

As faixas do Ep “Cicatriz” serão lançadas virtualmente no mês de agosto nas plataformas do músico. A agenda do lançamento está sendo fechada e os shows serão feitos em formato de power trio com os músicos Ismael Rodrigues na bateria e Elder Queiroz no contrabaixo, Para acompanhar a divulgação do trabalho, é só acessar as redes sociais do músico. 

Serviço
Lançamento do EP nesta quarta-feira, 19, às 19h, no Espaço Na Figueiredo. Av. Gentil Bittencourt, próximo a Banjamin Constant. Entrada gratuita.

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