Estive ontem (11) na inauguração do Parque Cemitério da Soledade. E não começo este texto dizendo isso, pelo duro motivo desta matéria, que é comunicar o falecimento de um amigo querido, mas porque justamente ao entrar ali lembrei muito dele, sem saber que ele havia sido hospitalizado novamente. Foi estranho, o coração apertou, chorei ao sair de lá, mesmo feliz pela entrega de um projeto que há décadas era esperado, inclusive pelo próprio Afonso Gallindo. E também porque foi ali que, em 1999, gravamos cenas do curta-metragem As Mulheres Choradeiras, no qual ele fez a assistência de direção da cineasta Jorane Castro. Eu fazia a continuidade. Fechamos os anos 1990 com alegria e entusiasmo de ver o cinema brasileiro florescer. Estávamos na retomada do audiovisual em todo o país e aqui em Belém não era diferente.
Afonso Carlos Lisbôa Gallindo ou simplesmente Afonso Gallindo, seu nome artístico, era carioca de 53 anos, passou a maior parte de sua vida em Belém do Pará. Ele era mais que um realizador. Foi publicitário, apaixonado por imagem, participou de diversos cursos e oficinas de cinema e audiovisual até receber o convite de Marta Nassar (1999) para contribuir em seu curta-metragem “Quero Ser Anjo”, quando também pudemos trabalhar juntos, ele como assistente de direção e eu como continuísta.
Desde então dedicou a vida às diversas produções audiovisuais e na construção de caminhos através da militância, participando de grupos, mesas e fóruns por todo país. Parceiro da cultura, Gallindo foi um ativista que lutou por mais de trinta anos pelo cinema paraense e nos trouxe inúmeras conquistas, como grande articulador político no campo da imagem. Sindicalizado pelo STIC e dedicou-se à luta pela cota regional na Ancine, foi uma de suas bandeiras e graças a isso, hoje, temos inúmeras séries, documentários e longas metragens paraenses, realizados a partir de 2014.
Afonso Gallindo e Cássio Tavernard nas gravações de voz da série "Os Dinâmicos". Foto minha <3 |
Gallindo era um ser inquieto, intenso e que neste percurso também participou como avaliador de editais e festivais em diversos Estados. Sua partida, tão cedo, aos 53 anos, é uma perda irreparável. E o conhecendo como o conheci, sei que ele tinha planos e sonhos para realizar. Mas também sei que agora ele sorri em paz e amoroso como sempre foi.
Em sua filmografia constam inúmeras outras produções, mas ele deixa uma obra inacabada, faltando finalização, o curta Zuleika, cuja pós-produção foi retomada em 2020, com esperanças de lançamento mas veio a pandemia e as coisas pararam novamente. Espero que em breve possamos assisti-lo, no mesmo Líbero Luxardo em que hoje nos despedimos de seu corpo físico, pois Gallindo é dessas pessoas que não morrem.
A história dele daria um roteiro de cinema com uma história que se ele mesmo não tivesse me contado eu acharia que era só uma ficção. Uma ficção que terminaria com o velório de hoje, no dia do aniversário de Belém, cidade que ele tanto amava, e num lugar tão representativo para o cinema paraense. O Afonso Gallindo merece todas as homenagens e nossa gratidão.
FILMOGRAFIA
Colar de Pérolas
Co-Roteirista e Produtor
1998 - Curta-metragem de Ficção – Betacam.
Cuia – Quinhentos anos em um minuto
Roteiro e Direção
1999/2000 - Curta Experimental - Betacam
Shot da Bota
Assistente de Direção (estágio)
1999 - Curta-metragem de ficção - 16 mm
Quero ser Anjo Segundo
Assistente de Direção
1999 - Curta-metragem de ficção - 35 mm
As Mulheres Choradeiras
Primeiro Assistente de Direção
2000 - Curta-metragem de ficção - 35 mm
Marília
Roteiro, Direção de Arte e Assistência de Direção
2002 - Curta-metragem de ficção Vídeo
Abalada
Roteiro e Assistência de Direção
2002 - Curta-metragem de ficção/Vídeo
A Origem dos Nomes Primeiro
Assistente de Direção
2004 - Curta-metragem de ficção - 35 mm
Curiua-Catu – A Expedição de Pedro Teixeira
Gerência de Produção
2004 - Suporte misto (Película 35mm e Vídeo) - Ficção
Moto-Contínuo
Co-roteirista, edição
2004 - Documentário
A Onda: Festa da Pororoca
Pós-Produção 2005 - Animação
O Homem do Balão
Extravagante
Coordenador de Produção
2005 - Documentário
O Negro no Pará” – Cinco décadas depois...
Roteiro, edição e Direção
2005/2006 Documentário
Vamos dançar Carimbó?
Roteiro, Edição e Direção
2010 Documentário
Links para vídeos
https://www.youtube.com/watch?v=3ZfXlyuDex8
https://www.youtube.com/watch?v=YIMe_mEzAdg
https://www.youtube.com/watch?v=Z4FkcnZoVB8
Canal do Diretor:
https://www.youtube.com/user/Afonsogallindo/videos
http://www.youtube.com/watch?v=SJDzlhyvWQg&feature=channel
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