12.1.23

Adeus a Afonso Gallindo no Cine Líbero Luxardo

O realizador e ativista do cinema paraense Afonso Gallindo despediu-se do plano físico, nesta quarta-feira, 11 de janeiro. Ele fazia o tratamento de controle de um câncer diagnosticado em 2021, em casa, mas em dezembro, após uma queda, voltou ao hospital e ontem desencarnou causando uma enorme comoção entre amigos e companheiros de profissão. Era também publicitário e jornalista. O velório está acontecendo até às 15h desta quarta-feira, 12, no Cine Líbero Luxardo, lugar de afeto para ele, em vida. Não haverá sepultamento, o corpo será cremado. 

Estive ontem (11) na inauguração do Parque Cemitério da Soledade. E não começo este texto dizendo isso, pelo duro motivo  desta matéria, que é comunicar o falecimento de um amigo querido, mas porque justamente ao entrar ali lembrei muito dele, sem saber que ele havia sido hospitalizado novamente. Foi estranho, o coração apertou, chorei ao sair de lá, mesmo feliz pela entrega de um projeto que há décadas era esperado, inclusive pelo próprio Afonso Gallindo. E também porque foi ali que, em 1999, gravamos cenas do curta-metragem As Mulheres Choradeiras, no qual ele fez a assistência de direção da cineasta Jorane Castro. Eu fazia a continuidade. Fechamos os anos 1990 com alegria e entusiasmo de ver o cinema brasileiro florescer. Estávamos na retomada do audiovisual em todo o país e aqui em Belém não era diferente. 

Afonso Carlos Lisbôa Gallindo ou simplesmente Afonso Gallindo, seu nome artístico, era carioca de 53 anos, passou a maior parte de sua vida em Belém do Pará. Ele era mais que um realizador. Foi publicitário, apaixonado por imagem, participou de diversos cursos e oficinas de cinema e audiovisual até receber o convite de Marta Nassar (1999) para contribuir em seu curta-metragem “Quero Ser Anjo”, quando também pudemos trabalhar juntos, ele como assistente de direção e eu como continuísta.  

Desde então dedicou a vida às diversas produções audiovisuais e na construção de caminhos através da militância, participando de grupos, mesas e fóruns por todo país. Parceiro da cultura, Gallindo foi um ativista que lutou por mais de trinta anos pelo cinema paraense e nos trouxe inúmeras conquistas, como grande articulador político no campo da imagem. Sindicalizado pelo STIC e dedicou-se à luta pela cota regional na Ancine, foi uma de suas bandeiras e graças a isso, hoje, temos inúmeras séries, documentários e longas metragens paraenses, realizados a partir de 2014. 

Afonso Gallindo e Cássio Tavernard nas gravações
de voz da série "Os Dinâmicos". Foto minha <3

Incentivada por ele e outros amigos, inscrevi o projeto da série Os Dinâmicos, contando com ele para fazer a direção junto comigo. E foi lindo. Projeto aprovado em 2016 e realizado até 2018, quando finalmente estreou nas tvs públicas. Gallindo foi mais que um amigo, parceiro, diretor. Foi cúmplice nas horas mais difíceis e muito, mas muito generoso. Há muitas lembranças e não cabe contar tudo aqui, memórias que guardarei, palavras que terei sempre para falar sobre ele, que foi um incansável.

Gallindo era um ser inquieto, intenso e que neste percurso também participou como avaliador de editais e festivais em diversos Estados. Sua partida, tão cedo, aos 53 anos,  é uma perda irreparável. E o conhecendo como o conheci, sei que ele tinha planos e sonhos para realizar. Mas também sei que agora ele sorri em paz e amoroso como sempre foi. 

Em sua filmografia constam inúmeras outras produções, mas ele deixa uma obra inacabada, faltando finalização, o curta Zuleika, cuja pós-produção foi retomada em 2020, com esperanças de lançamento mas veio a pandemia e as coisas pararam novamente. Espero que em breve possamos assisti-lo, no mesmo Líbero Luxardo em que hoje nos despedimos de seu corpo físico, pois Gallindo é dessas pessoas que não morrem. 

A história dele daria um roteiro de cinema com uma história que se ele mesmo não tivesse me contado eu acharia que era só uma ficção. Uma ficção que terminaria com o velório de hoje, no dia do aniversário de Belém, cidade que ele tanto amava, e num lugar tão representativo para o cinema paraense. O Afonso Gallindo merece todas as homenagens e nossa gratidão. 

FILMOGRAFIA

Colar de Pérolas 

Co-Roteirista e Produtor

1998 - Curta-metragem de Ficção – Betacam.

Cuia – Quinhentos anos em um minuto

Roteiro e Direção

1999/2000 - Curta Experimental - Betacam

Shot da Bota 

Assistente de Direção (estágio)

1999 - Curta-metragem de ficção - 16 mm

Quero ser Anjo Segundo

Assistente de Direção

1999 - Curta-metragem de ficção - 35 mm

As Mulheres Choradeiras

Primeiro Assistente de Direção

2000 - Curta-metragem de ficção - 35 mm

Marília 

Roteiro, Direção de Arte e Assistência de Direção

2002 - Curta-metragem de ficção Vídeo

Abalada 

Roteiro e Assistência de Direção

2002 - Curta-metragem de ficção/Vídeo

A Origem dos Nomes Primeiro

Assistente de Direção

2004 - Curta-metragem de ficção - 35 mm

Curiua-Catu – A Expedição de Pedro Teixeira

Gerência de Produção

2004 - Suporte misto (Película 35mm e Vídeo) - Ficção 

Moto-Contínuo 

Co-roteirista, edição 

2004 - Documentário 

A Onda: Festa da Pororoca

Pós-Produção 2005  - Animação

O Homem do Balão

Extravagante

Coordenador de Produção

2005 - Documentário 

O Negro no Pará” – Cinco décadas depois...

Roteiro, edição e Direção

2005/2006 Documentário 

Vamos dançar Carimbó?

Roteiro, Edição e Direção

2010 Documentário

Links para vídeos

https://www.youtube.com/watch?v=3ZfXlyuDex8

https://www.youtube.com/watch?v=YIMe_mEzAdg

https://www.youtube.com/watch?v=Z4FkcnZoVB8

Canal do Diretor:

https://www.youtube.com/user/Afonsogallindo/videos

http://www.youtube.com/watch?v=SJDzlhyvWQg&amp;feature=channel

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