18.1.23

Série revela guardiões da tradição afro-brasileira

Ao todo são 10 curtas-metragens inéditos que nascem do Acervo Maracá, resultado de aproximadamente 30 anos de convivência intensiva e apaixonada da musicista Renata Amaral com culturas tradicionais brasileiras, seus mestres e artistas. Selecionado pelo Rumos Itaú Cultural, o projeto apresenta o primeiro episódio “Tenda São José”, dirigido por Luiza Fernandes, e que traz ainda um CD às plataformas de música. Tudo disponível no Youtube.

Neste curta, vamos conhecer mais sobre a religião afro-brasileira centenária com origem no interior do Maranhão, pelo olhar de Mãe Gildete, Mestra Luizinha e Manoel Batazeiro, guardiões dos ritos do Terecô. Toda terça-feira, o público terá acesso a um novo episódio, dirigido por diferentes profissionais, e a publicações associadas à temática, como álbuns e filmes pertencentes ao Acervo. 

O próximo audiovisual da série, disponível no dia 24, é dirigido pelo artista e pensador guarani Carlos Papá, sobre Avá Djejokó, uma das principais lideranças Guarani de sua geração, morto em 2011. Em seguida, encerrando o mês de janeiro, no dia 31, o vídeo intitulado Legba – senhor dos caminhos, relacionado ao orixá Exu – mostra uma cerimônia Vodun, da Coletividade Kpengla, em Abomey, região do antigo reino do Dahomé, no Benin, África Ocidental. A direção é do músico Kiko Dinucci, fundador das bandas Metá Metá e Passo Torto, e da produtora Beatriz Dantas.

“As entrevistas e depoimentos apresentados nos vídeos, mostram a força criativa e o fazer artístico presente nas comunidades. São melodias, movimentos e ritmos matrizes da nossa cultura urbana, muitas vezes criados em meio a um contexto de conflito e exclusão social”, explica Renata, idealizadora do projeto.

Registros na Tenda São José iniciaram no final dos anos 1990

Os registros, feitos desde 1999, foram compactados neste episódio inicial, mostrando a dança circular, os costumes e cantigas do Terecô – também conhecido como Umbanda e Tambor da Mata – nas vozes dos mestres artistas Mãe Gildete, Luizinha e Manoel Batazeiro. Religião típica da bacia do Rio Itapecuru, seguindo até Codó, ambos no Maranhão, dialoga com elementos do Tambor de Mina, mas se distingue em um universo próprio de coreografias, figurinos, instrumentos, toques e liturgias.

Mãe Gildete, chefe do terreiro Tenda de São José, falecida em 2016, é definida por Renata como sendo toda amor, espalhando-o sem alarde. “Com uma história comum na região, enlouqueceu e quase morre até descobrir sua vocação espiritual, que exerce com dedicação e suavidade chefiando as médiuns de um dos terreiros mais conhecidos, entre muitos, da pequena Pirapemas”, conta Renata. 

Já Seu Manoel, de acordo com ela, é dono de um vozeirão treme-terra, é batazeiro – nomenclatura para quem toca o tambor Batá – dos mais solicitados da região, capaz de tocar dois tambores ao mesmo tempo. Sobre Mestra Luizinha, afirma ser uma impressionante combinação de força e delicadeza. “A voz rasga o batuque e tem um agudinho de brisa e passarinho. Usa sempre os vestidos, chamados de fardamento, mais bonitos do salão. Luizinha tem uma expressão única de sua espiritualidade através da música.”

Renata, conta que conheceu a Tenda São José em 1999, durante o projeto Universidade Solidária, com o grupo A Barca, do qual faz parte. “Mãe Gildete se mostrou uma fonte inesgotável de belezas”, lembra. “São centenas de doutrinas gravadas lá e dezenas delas já formaram o repertório de diálogos musicais com meus grupos A Barca e Ponto br, além de serem material constante para aulas e práticas em grupo.” 

Como resultado das experiências vividas no local entre 1999 e 2003, em cerca de 15 viagens, Renata produziu o CD Tenda São José, no ano de 2016, e que poderá ser apreciado pela primeira vez nas plataformas digitais. O trabalho entra no ar no mesmo dia de lançamento do audiovisual, 17 de janeiro. 

“Em várias dessas visitas, tive a companhia dos queridos André Magalhães, parceiro em boa parte das publicações do Acervo, Marcelo Pretto, Lincoln Antonio, Marquinhos Mendonça, Jandir Gonçalves, A Barca e a família Menezes, que sou grata por dividir comigo o encantamento inesgotável dessas melodias”, fala Renata. “Muito mais dessas lindezas podem ser ouvidas no acervomaraca.com.br.” 

A longa convivência de Renata com mestres e artistas resultaram no registro de festas e celebrações de mais de 100 comunidades, passando por 56 municípios de 15 estados brasileiros. O Acervo Maracá tem diversas premiações no currículo, entre elas o Latin Grammy Research and Preservation Award, conquistado em 2019. “É um amplo painel da cultura tradicional brasileira hoje, mostrando uma cultura popular exuberante e vigorosa, onde o talento dos artistas e a vitalidade destas tradições revelam diversidade e identidade em um Brasil contemporâneo”, afirma ela. 

Serviço

Lançamento do Acervo Maracá – 10 Pedras, de Renata Amaral - Rumos Itaú Cultural 2019-2020. Já está disponível o episódio Tenda São José (MA), Dirigido por Luiza Fernandes. Os próximos estreiam no dia 24 de janeiro: Avá Djejokó, O Guardião dos Nomes (SP); e dia 31, Legba (Benin – África Ocidental). Classificação: Livre. Canal de Youtube: https://www.youtube.com/@AcervoMaraca

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