25.9.24

3o !PULSA! em diálogo com movimentos culturais

Artistas de Belém na escutaria, em abril
O !PULSA! Movimento Arte Insurgente será realizado em Belém de 9 a 17 de novembro, mas desde janeiro que a programação vem sendo construída pelas produtoras Olhares Instituto Cultural e Outra Margem por meio de "escutarias", para a qual foram convidados, em abril, artistas e gestores de instituições públicas e privadas locais. 

É a primeira vez que o evento acontecerá na região Norte. As edições anteriores foram realizadas em Itabira (MG), mas sempre com a ideia de escutar, trocar e conhecer as práticas artísticas e as realidades da cidade em que chegar. E o resultado desses encontros é que constroem as ações que vão nortear a programação, de uma perspectiva anticolonial.

Guilherme Marques explica que o !PULSA! nasceu de um desejo comum dele e da Andreia de colocar no centro do debate questões sobre colonialidade e a invisibilidade. "Com o !PULSA! a gente quer irrigar imaginários, pensar novos mundos e discutir questões muito estruturais e violentas da nossa sociedade que perpassam sobre corpos subalternizados, sobre ecologia, povos originários e sobre questões de gênero".

Na opinião de Andreia Duarte, o movimento insurgente vem enfrentar visões dominantes como aquela que considera periferia um lugar regional distante do centro, por exemplo. "É uma ideia muitas vezes arraigada e muito limitada. A nossa pergunta é: o que é o centro? não só geográfico, mas centro de conhecimento", indaga. “Não estamos interessados na colonização dos corpos e dos territórios, mas estamos interessados no que já diria Nêgo Bispo: quando o pensamento, o conhecimento e experiências se misturam, se cruzam, outra coisa é gerada, há uma confluência, outra forma de estar no mundo ". 

Escutar a cidade - artistas, articuladores, gestores, produtores, etc é muito interessante e justo", afirma Wlad Lima, atriz, encenadora, dramaturga e cenógrafa, uma das convidadas para construir a escutaria, em Belém, ao lado de Marcia Kambeba e  Marise Maués.

Guilherme lembra ainda que o !PULSA! promove a escutaria para conhecer as práticas, os equipamentos e espaços culturais. Dessa maneira, os movimentos culturais locais apresentam a cidade, contribuindo para formular coletivamente um pensamento curatorial para a atual edição. 

Escutarias mergulhadas na produção artística local

"Altamira" Foto: Nereu Jr.

Wlad diz que "sentiu esta competência" em Guilherme e Andreia que conseguiram "cartografar, tanto a infraestrutura como a dinâmica das relações humanas e artísticas para pactuarem as devidas parcerias".

O professor e artista visual Alexandre Sequeira, também convidado para ser um dos articuladores da escutaria, considerou a iniciativa excelente. "Confesso que não lembro de práticas dessa natureza. Participei dos encontros e achei as dinâmicas empregadas muito interessantes enquanto forma de reunir os múltiplos anseios e expectativas apontadas pelas/pelos participantes, opinou. 

Para Sequeira, a escutaria reconheceu algumas singularidades do modo como a cultura se organiza em Belém. Ele afirmou que a cena independente local tem gerado há muitos anos ações culturais de grande significado e criticou o que chamou de "miopia seletiva do poder público estadual ou municipal". "Acho que o !PULSA! surge como mais um espaço de exercício dessa pujança cultural que (como poucas outras áreas) promove a imagem da cidade e do estado para além de suas fronteiras", completou.

Sequeira destacou um aspecto nesta cena cultural que são as ações sendo realizadas de modo autônomo. "Não por esses grupos não necessitarem de suporte do poder público, posto que tal suporte se constitui em um dever do estado, mas acima de tudo por reagir ao imobilismo e tornar pública a potência e a diversidade cultural da cidade quase sempre subjugada". 

A cidade vai pulsar da periferia ao centro 

Nando Lima, na performance "Black Rock""
Estúdio Reator
A programação do!PULSA! oferecerá ao público paraense mais de 15 espetáculos teatrais, performances, instalações, várias ações reflexivas, pedagógicas e encontros que se revezam em mais de sete espaços culturais diversos espalhados pela cidade do chamado centro da cidade às práticas culturais existentes nas periferias da capital. 

Criado em 2009, o Estúdio REATOR, idealizado e conduzido pelo performer Nando Lima, um laboratório de experimentação em plena ação. é uma das iniciativas artístico-culturais que está em diálogo com a curadoria do !PULSA!. "Acho uma atitude lúcida e criativa, uma forma honesta de se relacionar com a produção local", declarou Nando sobre as conexões que o movimento tem realizado em Belém. 

"Eu só consigo entender essas práticas e atividades artísticas no aqui e agora, no tempo em que elas acontecem, porém o que sempre enxerguei na minha prática: é que é natural da poética ser dissidente e insurgente, não há novidade, o banal e comum, o ordinário e cotidiano, não salta aos olhos. Talvez o que aconteça nesse momento é que a “superexposição” que é a normativa que se vive agora, exponha mais, um subterrâneo que sempre existiu", refletiu Nando se referindo à proximidade da COP 30 que será realizada em Belém no próximo ano.

Elisa Lucinda, em "Parem de falar mal da rotina"
Além da produção local, a programação também traz espetáculo incríveis de outros estados, entre eles, o monólogo "Parem de Falar Mal da Rotina", com direção de Geovana Pires, texto e encenação de Elisa Lucinda. A peça, em cartaz há mais de duas décadas, aborda a rotina como um reflexo das escolhas individuais. 

A 3a edição do !PULSA! Movimento Arte Insurgente é totalmente gratuita, realizada através da Lei de Incentivo Federal, Ministério da Cultura, com patrocínio do Instituto Cultural Vale, e realização das produtoras Olhares instituto cultural e Outra Margem.

Também compõe o corpo de consultores artísticos do !PULSA!, Romário Alves, artista visual e Lívia Conduru, produtora cultural, idealizadora da Bienal das Amazônias.  Para acompanhar o desenrolar da programação, conhecer os artistas envolvidos, acompanhem aqui pelo blog e também pelo perfil @pulsamovimento

(Holofote Virtual com colaboração da jornalista Railídia Carvalho)

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