28.9.10

Livro sobre histórias invisíveis do Teatro da Paz é lançado em Belém

Autora espera um público de historiadores, artistas e demais interessados para uma noite festiva e reveladora sobre um dos mais importantes patrimônios arquitetônicos erguidos em Belém na Bélle Époque. O lançamento é nesta quarta, 29, a partir das 20h, dentro da programação do Festival de Ópera da Amazônia.

E pensar que tudo começou em 1997, quando foi solicitado à jornalista Rose Silveira, que produzisse um histórico do Teatro da Paz para subsidiar a obra de reforma e restauro que seria realizada pela Secretaria de Cultura do Pará entre 2000 e 2002.

Mais do que elaborar o documento, ela acabou dando início à pesquisa que resultaria em sua tese de mestrado, defendida em São Paulo, onde mora desde 2007, e um pouco mais tarde no livro intitulado “Histórias Invisíveis do Teatro da Paz: da construção à primeira reforma (Belém do Grão-Pará, 1869-1890)”, como resultado de todos estes anos de investigação.

“É a minha dissertação de mestrado defendida no ano passado, no Programa de História da PUC-SP, com a orientação da professora Estefânia Fraga, que assina a apresentação”, explica Rosa Silveira, ao ser entrevistada pelo Holofote Virtual alguns dias antes de pegar o avião, em Sampa para aterrisar, neste final de semana, no aeroporto de Val-de-Cans em Belém.

“Para a publicação em livro, o texto recebeu acréscimos sugeridos pela banca de defesa e eu mesma resolvi inserir mais algumas informações, novas fontes que encontrei depois”, continua. A jornalista acredita que fazer pesquisa é um tipo de neurose. “Quanto mais a gente procura, mais encontra”, e avisa que não se espere um texto formal, dentro do mais formal tipo acadêmico.

“Por mais que eu tenha me esforçado em fazer um texto acadêmico à rigor, acabei escrevendo do meu jeito e isso foi muito positivo na avaliação da banca. A academia avalia bem os escritos mais autorais, autônomos em relação às teses defendidas e aos referenciais teóricos”, revela.

ao lado, foto de Tiago Kunz

“Tentei fazer isso. Ao mesmo tempo, eu acho que existe muito preconceito em relação ao trabalho acadêmico, como se ele não pudesse ser lido e compreendido.

Na verdade, a qualidade do texto independe do gênero, não é mesmo? Há textos bons e textos ruins no jornalismo, no mundo acadêmico, na prosa e na poesia, nos relatórios de empresa, enfim, no universo da escrita”, continua.

“O meu trabalho, pra dizer a verdade, tem muito humor, sobretudo no segundo capítulo, no qual falo de como a parcela da população que não era rica frequentou o Teatro da Paz no século 19”.

Público - A expectativa de Rose, quanto ao público em Belém, é particular. “Espero um Mangueirão lotado”, diz bem humorada, com certeza.

“Sempre pensei que, publicando o livro, o lançamento só teria sentido se fosse no Teatro da Paz”, diz Rose. Por isso, foi ela mesma quem propôs o lançamento à organização do festival, que acatou de cara a proposta de realizar uma sessão de autógrafos durante o evento.

“Foi tudo convergente: o desejo de apresentar essas histórias invisíveis no lugar onde elas ocorreram, quase 150 anos atrás, e o festival. Espero que os pesquisadores, os arquitetos, os jornalistas, os historiadores, enfim, o público de Belém possa ir lá”, enfatiza.

A sala de espetáculos, com vista do Paraíso, no clic de Paula Sampaio

Autógrafos e palestr
a

O lançamento do livro faz parte da programação do IV Festival Internacional de Ópera da Amazônia. A noite inicia às 20h, com uma pequena palestra antes dos autógrafos. Em seguida ainda haverá um concerto lírico.

“Vai ser, no mínimo, uma noite festiva”, diz ela, lembrando que o livro foi patrocinado pelo Banco da Amazônia e publicado pela Paka-Tatu. Para saber mais detalhes sobre o livro, acesse também o blog da pesquisadora.

É preciso prestigiar, afinal foram 12 anos de pesquisa mais de uma centena de documentos analisados e inúmeras visitas às estantes do Arquivo Público do Estado do Pará, Biblioteca Estadual Arthur Vianna (setores de Microfilmagem e Obras Raras) e Museu da Universidade Federal do Pará (Sala Vicente Salles), além do acervo virtual do Center for Research Libraries.

A autora encontrou sem dúvida muito do que falar sobre este que é um dos símbolos arquitetônicos mais fortes da nossa Bélle Époque, palco de diversos acontecimentos importantes ao longo de sua trajetória secular. Por isso, a autora sempre lembra que o Teatro da Paz ainda é um mar aberto à tantas outras pesquisas.

Uma nova investigação surge

Após o lançamento de “Histórias Invisíveis...”, Rose Silveira deve retornar à capital paulista, onde mora e cursa atualmente um doutorado, também na PUC. Ela conta que ainda este ano sairão mais dois livros seus, sendo que em um deles, o “José Márcio Ayres: guardião da Amazônia”, ela também assinará a edição.

Já o doutorado, bem, é um estudo da historiografia do pesquisador paraense Vicente Salles. Realmente, a autora tem razão. Em pesquisa quanto mais se busca, mais se acha...

“Ainda tenho um chão imenso pela frente nessa nova fase. Mas, como a vida não dá trégua, também estou fazendo freela como pesquisadora, revisora e editora - além de ser, claro, dona de casa, modelo fotográfico, cabeleireira, esteticista, cozinheira, lavadeira, passadeira, dona de hospedaria e guia turístico”, brinca denunciando mais uma vez sua veia para o humor.

Acervo de preciosidades

Certa vez, tive o prazer de entrevistar o historiador Vicente Salles. Ele estava em Belém, visitando o Museu da UFPA, onde acontecia o projeto de recuperação e difusão do acervo musical que faz parte de sua coleção, doada à Universidade Federal do Pará, ainda em 1993.

Além da parte musical, cujo projeto foi contemplado no edital da Petrobras, em 2006, o acervo reúne livros, periódicos, correspondências, vários documentos sociais e culturais (na foto acima, de Márcio Ferreira, o maestro Jonas Arraes, que coordenou o projetro). São mais de quatro mil, sem falar de uma coleção de cartuns, fotografias de época, cordéis, peças de teatro do repertório regional e nacional, teses, folhetos e cartazes, e cerca de 70 mil recortes de jornal, sobre temas como música, folclore, negro, artes cênicas e literatura.

Vicente Salles dizia que já não tinha mais onde armazenar, em segurança, todas as preciosidades que guardara com ele por toda uma vida. Graças a sua preocupação com a preservação desse acervo, este já colaborou com vários pesquisadores, como Rose Silveira, que já o utilizaram e souberam retirar dele, pérolas da nossa história cultural.

Aliás, outra boa notícia é que este ano o Museu da UFPA aprovou mais um projeto que beneficia este acervo, desta de informatização dos Livros e Periódicos da Coleção do historiador, aprovado pela Lei Rouanet e em fase captação.

A entrevista com Vicente seguia, enquanto ele percorria os corredores do acervo, localizado na parte inferior do Museu da UFPA, um espaço devidamente preparado para abrigar a coleção (Programa Cultura Pai D’Égua, TV Cultura do Pará, 2006/2007).

O professor Vicente Salles (foto) ia pegando documentos, revistas, coleções raras e contando um pouco sobre seus significados, histórias. Perguntei como ele começou estas coleções, quais as primeiras coisas que foram guardadas por ele.

“Comecei recolhendo o lixo do Teatro da Paz”, disse ele relembrando, por alguns segundos, os tempos em que resgatou cartazes de espetáculos e outras coisas do gênero, que integram, hoje, sua coleção e que eram descartadas do lixo pelos próprios funcionários, em mais um episódio invisível do Teatro da Da Paz.

Atenção: O livro de Rose Silveira está disponível para venda na Editora Paka Tatu. Informações: 91 3242.5403 e 91 2312.1063.


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