5.8.11

Cia Madalenas circula pelo país levando espetáculo e oficinas

Rodrigo Braga (fotos: Alan Soares)
Montado em 2009, com o Prêmio Myriam Muniz (Funarte), "Corpo Santo” já participou de vários festivais na capital paraense. Agora, selecionado mais uma vez pelo Miriam Muniz (2010), na categoria circulação, o grupo levará além do espetáculo, duas oficinas para as cidades de São Luis (MA), onde estará já nesta sexta-feira, 05, Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG). E depois disso já tem previsto um novo projeto, contemplado pelo Programa de Patrocínio Cultural do Banco da Amazônia (2011).

Corpo Santo é o primeiro monólogo da Cia. de Teatro Madalenas, que está celebrando 10 anos de fazer teatral. Mergulhando num universo mítico e sincrético, o espetáculo apresenta a singularidade do princípio da dança pessoal do ator e a metáfora camuflada entre o homem e o trabalho.

Marcado pelas canções e toques de umbanda e candomblé, o Mina-Nagô, a Capoeira Angola o espetáculo proporciona uma experiência sensorial e emotiva para o espectador que tem a oportunidade de conferir de perto a transfiguração do ator em cena, valendo-se das matrizes corporais aliadas às técnicas do teatro físico.

Daí a ideia de construir duas oficinas, como parte do projeto de circulação. A oficina Vida em Cena, com o ator Rodrigo Braga que abordará a técnica de ator utilizada no processo de construção do espetáculo e a oficina Percussão Amazônica: sons da floresta, com o músico Kleber Benigno (Paturi), busca apresentar através da percussão a diversidade de sons e ritmos produzidos na Amazônia.

Formado por Leonel Ferreira, Rodrigo Braga, Michele Campos, Flavio Furtado, Dina Mamede e Tainah Fagundes, a Cia. Madalenas está há dez anos na estrada, sendo hoje reconhecida por sua identificação com o teatro educação, a performance, a comédia e a produção cultural, mas tendo sempre a pesquisa e a experimentação como fundamento.

Com uma década de experiências e reflexões, há muito o que se dizer sobre a trajetória da Cia Madalenas e seus atores. Por isso, o Holofote Virtual conversou com Rodrigo Braga, Leonel Ferreira, Tainah Fagundes e Michele Campos, que também nos conta como está a pesquisa dela sobre a vida e obra de Luis Otávio Barata, um dos nomes mais importantes de um dos momentos mais efervescentes da cena teatral em Belém, e que também inspirou o surgimento da companhia.

Abaixo, eles falam também sobre o trabalho que realizam, um novo projeto e o que esperam para o futuro da companhia.

Holofote Virtual: Qual a importância desta circulação para o grupo?

Leonel Ferreira: A circulação é a oportunidade que se tem para divulgar a produção dos espetáculos do estado do Pará, da mesma maneira que se quer difundir a produção da Cia. Madalenas em outras regiões do país, pois possibilita o intercâmbio com outros grupos, artistas de teatros, produtores e outros profissionais das artes.

De certa forma, contribui com a busca do aperfeiçoamento da técnica, pois se deseja apresentar um bom espetáculo, muito bem acabo e resolvido tecnicamente. Isso nos faz olhar para frente com a responsabilidade de que temos que fazer bem feito, fazer valer a pena os nove meses de ensaio e produção do espetáculo para esta circulação.

Holofote Virtual: Rodrigo, a dança pessoal do ator em Corpo Santo é a marca do espetáculo. Como foi esta experiência para você?

Rodrigo Braga: No início da minha pesquisa corporal tive vontade de sabe o que era exatamente a Dança Pessoal. Com o tempo, aprendi que nessa busca corporal as incertezas que surgem no processo de pesquisa não são um ponto negativo, muito pelo contrário, para mim a dúvida é uma dádiva que permeia constantemente o meu trabalho de ator e me deixa vivo em cena.

Neste tipo de técnica corporal existem nuanças que são indescritíveis, pois passam por vivências corporais muito intensas e bem particulares para quem vive e pratica, mas de forma geral, a dança pessoal é uma técnica que lhe permite vivenciar processos de energização do corpo através da musculatura, e o trabalho do ator é aprender a dançar esses vários níveis de energia para as necessidades da cena.

Holofote Virtual: Como vais conduzir as oficinas que serão levadas a estas quatro cidades?

Rodrigo Braga: É bom deixar claro que minha oficina não será de Dança pessoal, mas inevitavelmente os exercícios e a técnica desenvolvida pelo Lume em especial o Simioni vai está embebida no meu trabalho. A oficina será de dois dias e trabalhará as potencialidades cênicas de cada indivíduo através da dilatação do corpo, como forma de buscar uma plenitude do ator em cena, estudando infinitas possibilidades de ser vários, descobrindo dentro de si muitos personagens.

Holofote Virtual: Depois desta circulação, vocês já têm novos projetos?

Leonel Ferreira: A Cia completa 10 anos em novembro deste ano e para comemorar, realizaremos um espetáculo de rua, com características de teatro mambembe e Comédia Dell’Arte. Será um mergulho nos contos clássicos infantis e da literatura universal.

Com o prêmio de patrocínio cultural do Banco da Amazônia 2011, vamos encenar o espetáculo Fábulas Fabulosas: Histórias que sua Mãe não Contava para você Dormir, que estreará em outubro no Anfiteatro da Praça da República e seguirá com apresentações pelas praças públicas da Região Metropolitana até dezembro. É um espetáculo cheio de surpresas e para todas as idades. Será uma grande experiência e aprendizado. Estou animadíssimo com o projeto.

Tainah Fagundes: Ações de responsabilidade sóciocultural é uma estratégia que agrega um valor imensurável em ações a serem executadas. Estamos pensando neste formato para projetos futuros da Madalenas, como o Fábulas Fabulosas, que nos possibilitará essa experiência, pois a Cia realizará tanto oficinas, quanto espetáculos gratuitos para uma população a qual os bens de cultura não chegam com tanta facilidade. 

Holofote Virtual: Tainah, como foi teu encontro com a Cia. Madalenas?

Tainah Fagundes: Eu fui entrando devagar na Cia. Primeiro nos agradecimentos especiais, pois sempre me envolvia nos espetáculos desde 2003. Depois assumi funções administrativas e de produção, até que fui de fato convidada a fazer parte da Cia, em 2007, quando realizei a produção do espetáculo Pop Porn, na comemoração dos seis anos da Madalenas.

Procurei colocar em prática os fundamentos da comunicação e marketing, minha área de formação, dentro da Cia., o que foi bem aceito por todos e, de certa forma, a Cia foi assumindo outra postura, graças à cooperação de todos.

Acredito que o planejamento estratégico para a realização de uma produção de um espetáculo, consegue transcorrer com mais fluidez quando se consegue aliar confiança, responsabilidade, dedicação e acima tudo, amor por aquilo que se acredita.

Holofote Virtual: Quais os segredos para se obter êxito em uma área ainda tão difícil da produção cultural no país, como é o teatro?

Tainah Fagundes: O caminho é este que estamos traçando, mas ainda se tem muito que aprender. Trabalhar com a produção dos projetos da Cia., é uma forma de estar presente na cena teatral, ainda que nos bastidores, procurando executar com profissionalismo a função que me foi confiada.

Penso que o estudo e a pesquisa são ferramentas essenciais e é o que cada um dentro da Cia vem fazendo. Conhecer experiências bem sucedidas e replicá-las com outros parceiros é um exemplo.

Leonel Ferreira: Nos últimos cinco anos a Cia foi levada a pensar em ações mais planejadas. Elegemos prioridades. Dedicamos-nos a estudar sobre captação de recursos e escrever projetos, dedicar-se a um projeto de vida, mesmo que isso seja uma tarefa hércula, às vezes algo quase impossível. Penso que estamos aprendendo e seguindo o caminho”, diz.

Holofote Virtual: Michele, são anos fora de Belém estudando o teatro de Luis Otavio Barata, cujo trabalho inspirou o surgimento do grupo, com o espetáculo “Paixão Barata Madalenas”. Como está esta tua pesquisa, até onde fostes?

O espetáculo onde surgiu a Cia
Michele Campos: Estou fora desde janeiro de 2007, quando fui morar no Rio de Janeiro para tentar o Mestrado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Naquele momento ainda não havia a graduação em Teatro, nem o Mestrado em Artes que hoje há no ICA-UFPA. Foi então que entrei na seleção do Mestrado de 2008-2010, com a orientação do professor Zeca Ligiéro, dentro do Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias - NEPAA/Unirio”, explica.

Holofote Virtual: Mas a tua pesquisa passou totalmente por Belém, claro...

Michele Campos: Durante esses dois últimos anos eu fui várias vezes a Belém e a São Paulo em pesquisas de campo, para tentar percorrer quase todos os caminhos feitos pelo Encenador (Diretor, Dramaturgo, Cenógrafo, e Artista Plástico) Luís Otávio Barata.

A pesquisa sofreu várias modificações, vários títulos, muitos caminhos diferentes, ela vai levando você, conduzindo você para o que tem de mais apaixonante nela e, de um espetáculo, ela me levou para o autor, do autor ela me levou para o homem "Luís", e todo seu entorno, seus escritos, suas cenas, sua militância política, sua articulação teatral na cidade, seus estudos, desenhos, família, amores... de repente, através dele, eu conhecia outra Belém, outro fazer teatral, outros artistas, e também outra Michele. 

Luis Otávio Barata
Holofote Virtual: Como ficou a tese defendida no Rio?

Michele Campos: O título final ficou: "Performance da Plenitude e Performance da Ausência: Vida-Obra de Luís Otávio Barata na cena de Belém". Foram 216 páginas de muita luta, nossa, porque fazer teatro e pesquisa no Brasil não é fácil!!!!

Agora fora do Mestrado e sem bolsa de pesquisa, estou fazendo por conta própria uma pesquisa de um ano na França, estou estreitando os laços que unem Luís Otávio Barata, Antonin Artaud, Jean Genet, Roland Barthes e Sartre de perto, de seus escritos, de sua cultura e de sua língua.

Holofote Virtual: Com certeza é um documento importante sobre a história teatral da cidade... Quando isso tudo termina?

Michele Campos: Volto para o Brasil em janeiro de 2012 na esperança de que algumas articulações dêem certo para a possível publicação desta dissertação sobre este que foi um dos mais importantes artistas do fazer teatral no Pará; sobre uma parte silenciada da história do teatro de Belém na história do teatro brasileiro.

Elenco de "Angélica", com Luis Otávio acima no centro
Acredito que esta pesquisa é um documento histórico importante que precisa de colaboração para que ela não fique engavetada. Então o mestrado acabou, mas a pesquisa ainda está em processo por um ano aqui, onde ganha novo fôlego para encarar uma nova etapa: o doutorado, pois ainda há muito o que dizer sobre esta importante obra que o Luís construiu ao longo de seus 66 anos de vida.

Corpo Santo – Circulação - Ator: Rodrigo Braga; Diretor: Leonel Ferreira; Assistente de direção: Michele Campos; Dramaturgia: Companhia de Teatro Madalenas; Direção Musical: Kleber Benígno (Paturi) - Percussão e coro; Músicos: Valdeci Justino Silva Jr. - Percussão e coro, Wellintton Barreto - Percussão e coro; Cantora: Érika Nunes. 

Concepção e operação de luz: Thiago Ferradaes; Concepção de cenário e figurino: Anibal Pacha; Confecção de figurino: Mariléia Aguiar; Contra-regras: Flavio Furtado e Tainah Fagundes; Produção: Tainah Fagundes; Assistente de Produção: Flavio Furtado.

Cidades: São Luis/MA: Teatro João do Vale - 5 a 7 de agosto; Salvador/BA: Teatro Martim Gonçalves - 12, 13 e 14 de agosto; Rio de Janeiro/RJ: Casarão Nós do Morro - 9 a 11 de setembro de 2011; Belo Horizonte/MG: Galpão Cine Horto - 16 a 18 de setembro.

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