O contemplativo cinema oriental clássico está em cartaz na sessão ACCPA/IAP desta segunda-feira, 3 de dezembro, às 19h. “Contos da Lua Vaga” (no original ‘Ugetsu Monogatari’) é o filme mais laureado de Kenji Mizoguchi, com o qual o recebeu o Leão de Prata no Festival de Veneza, em 1953. Entrada franca.
Tendo produzido quinze filmes, entre eles o trágico “Os Amantes Crucificados”, Mizoguchi constrói uma narrativa fantasmagórica em “Contos da Lua Vaga”. A história se passa no século 16, durante a guerra civil japonesa, e acompanha a viagem do pobre oleiro Genjuro e seu cunhado Tobei com as respectivas mulheres rumo à capital da província onde vivem, nas redondezas do lago Biwa, para vender utensílios de cerâmica. Com as vendas, Tobei compra armas e se torna samurai, abandonando a esposa.
Genjuro, por sua vez, acaba passando vários dias no castelo da misteriosa Lady Wakasa (Machiko Kyô), quando vai entregar as mercadorias.
As cenas filmadas no castelo, com a chegada da primavera, são de uma beleza sublime, reflexo do perfeccionismo de Mizoguchi. Seus filmes têm uma estética remanescente da arte japonesa, detalhista.
Os longos planos, a mis en scéne rebuscada, a encenação pictórica, são frequentes. Ele raramente utilizava close ups, preferindo compor planos conjuntos que revelassem muito aos olhares mais atentos. Sua cenas podiam demorar pouco, mas sempre davam ênfase a ao cenário, à luminosidade.
Certamente foi uma grande influência a cineastas que apreciam a beleza formal, como o chinês Wong Kar Wai.
Reza a lenda que ele repetia tomadas à exaustão, o que em muitos casos se tornaram um pesadelo, principalmente para suas atrizes. Sua preferência por planos longos significava que não havia espaço para erros: conta-se que, em alguns casos, ele chegou a rodar cem tomadas de um mesmo plano.
A essa estética refinada soma-se o envolvimento do público com o tema, e à habilidade com que o Mizoguchi provoca simpatia pelos seus personagens, que em alguns casos são ‘endeusados’ mas, no fundo, são demasiadamente humanos.
Feminino -
O trabalho de Mizoguchi é bastante conhecido pela sua proteção feminina característica. A forma como ele filma Lady Wakasa, é de uma delicadeza comovente. Ela está sempre em destaque, subjulgando com a sua ‘aura’ a presença masculina.
Mizoguchi não era feminista, mas de certa forma revelou no cinema a posição feminina na sociedade japonesa como humilhante e oprimida, e demonstrou que as mulheres podem ser capazes de maior nobreza entre os sexos. Fez muitos filmes sobre os apuros das gueixas, mas seus protagonistas podem derivar de qualquer lugar: prostitutas, trabalhadores, ativistas de rua, donas-de-casa e princesas feudais.
Serviço
ACCPA/IAP apresenta “Contos da Lua Vaga”, de Kenji Mizoguchi. Nesta segunda, 03 de dezembro, às 19h no Cineclube Alexandrino Moreira. Endereço: Instituto de Artes do Pará (Praça Justo Chermont, 216 – ao lado da Basílica de Nazaré). Entrada Franca. Após a exibição, debate entre os críticos da ACCPA e o público.
(Texto enviado por Lorenna Montenegro, da ACCPA)
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