6.12.12

Memória sensorial em performance de Nando Lima


O ator, diretor, cenógrafo e pesquisador Nando Lima estreia nesta quinta-feira, 06 de dezembro, às 21h, no Reator, “O coração na curva de um rio”, performance de 35 minutos, resultado do projeto que ganhou a Bolsa de Pesquisa de Criação e Experimentação Artística do Instituto de Artes do Pará. O próprio Nando Lima está em cena, com desenho de som de Leo Bitar e assistência de produção de Lenilsom Farias. A entrada é franca.

Após meses de um longo processo de pesquisa que envolveu leituras de livros, jornais e publicações antigas, viagem para captação de imagens e áudios, e um seminário, “O coração na curva de um rio”, finalmente tem sua primeira fase finalizada e concretizada na performance que será mostrada ao público nos dias 6, 7, 8 e 15 e 16 de dezembro, no Reator. A performance traz como sujeito marcante o vídeo que revela imagens captadas ao longo de todo o processo. 

A equipe viajou até o Marajó, refazendo a viagem de 40 anos atrás feita pelo navio Presidente Vargas, que naufragou na baía. Chegando em Soure, os aspectos mais marcantes da cidade foram registrados por Nando e Leo Bitar: largas avenidas, o Farol na praia do mata fome e principalmente o antigo trapiche da cidade.

Há ainda algumas imagens de Belém ao longo do porto, da silhueta da cidade moderna, os vilarejos ribeirinhos, e também o cotidiano atual do transito fluvial. As projeções também estarão impregnadas de imagens que mostram aspectos de alguns bairros que dizem respeito a própria história de Nando Lima. Outras são imagens raras registradas em microfilme de jornais antigos, pertencentes ao acervo da biblioteca Arthur Viana.

Para Nando tudo isso foi uma forma de revisitar sua memória, sempre voltada a cores e formas para a construção de sua arte. Diferindo-se do mero registro documental, estes vídeos tem a intenção de traduzir para o espectador o olhar e a memória do artista filtrados ao longo dos anos. 

“Eu acho que tem esta questão da memória de resgatar, mas não uma memória assim tipo documental, que trabalhe com real, mas a memória sobre a impressão visual. Na minha vida inteira eu olho para as coisas não olhando pra elas objetivamente, mas para suas formas e cores. Nesta pesquisa me remeto à memória e fatos históricos, como este do navio e da estadia de Clarice Lispector e Mário de Andrade em Belém”, explica Nando. 

O ambiente da performance é dividido em duas partes: a Curva – hall de entrada do Estúdio Reator; um ambiente expositivo com imagens da pesquisa; fotos, frames de vídeo, objetos, que introduzem o espectador visitante, no universo das memórias, sejam as “reais” de fatos vividos, ou sabidos e pesquisados, ou as construídas, inventadas a partir do que “poderia ser” ou o “advir”. 

A segunda parte é o coração, onde acontece a performance com duração de 35 minutos, em que Nando Lima recebe os espectadores para juntos com eles mergulhar em um universo criado com luzes, vídeos, sons, objetos, e cenários, que constroem um “rio” sinestésico, um fio tênue de memórias deliberadamente refeitas e arquitetadas, matéria transmutada em pulsar. Para a performance foram utilizados objetos de madeira e metal que se opõem a fluidez da cenografia de laminas de tecido transparente. 

“É esta dicotomia do construto que possibilita a reflexão, e a discussão entre as veracidades, os fatos, os esquecimentos, os pontos de vista múltiplos, que compõem o parecer coletivo ou as certezas individuais”, explica. 

O figurino encerra o sentido da viagem: “O Marinheiro” quase um clichê do estado fugaz do ser humano de natureza errante, que tenta dominar sua trajetória mesmo quando navega por mares das novidades, as lembranças das trajetórias, tragédias, e alegrias vividas, dos rumos perdidos, e da figura que num remanso, se cola as memórias fugidias sem as quais não é possível habitar-se em si o ser humano.

“Diferente da questão do espetáculo teatral voltado ao drama, o que pessoas vão ver são sequências de imagens e pequenas ações complementando estas paisagens. Não há a intenção de dramatizar ou elucidar o drama ou o fato histórico ou qualquer um outro fato que localize um lugar, Soure ou Belém. Isto tudo soma com a ideia do sensorial, ligado a questão das artes visuais”, conta Nando.

O roteiro, exercícios e ações vivenciais para a performance, assim como, antes, o seminário que foi realizado em setembro, com palestras sobre a memória conduzidas pelo fotografo, professor e pesquisador Alexandre Sequeira, pela professora e documentarista Anna Lúcia Lobato, pela atriz, professora e diretora de teatro Karine Jansem e pelo diretor de fotografia e cinegrafista Marcelo Rodrigues, foram criados e aconteceram no REATOR, espaço de experimentação do artista, aberto a apresentações.

Aliás, todos os bate papos feitos entre os palestrantes, equipe do projeto e o público inscrito foram registrados e serão aos poucos publicados e postados no blog do projeto e na rede social de Nando no Facebook. 

“Na verdade, o projeto não encerra com esta apresentação da performance. Tem muito mais resultados a serem entregues e processados. No projeto estava previsto apresentar o resultado antes. A performance também será filmada para que eu apresente o projeto no IAP este mês de dezembro. 

Terei em mãos um documentário sobre o processo de criação, além do que tem na internet, no blog colocarei outras publicações ainda em construção. Já está disponível, por exemplo, a palestra do Alexandre Sequeira. 

Isso tudo não acaba e continuarei o trabalho durante os próximos seis meses, a fim de voltar a apresentar a performance, com mais elementos no ano que vem”, conclui Nando Lima.

Serviço 
“O coração na curva de um rio”, performance de 35 minutos se Nando Lima, resultado da Bolsa de Pesquisa de Criação e Experimentação Artística do Instituto de Artes do Pará. Nos dias 06, 07, 08 e 15 e 16 de dezembro, no Reator – Ru 14 de abril, n. 1053, próximo a Gov. José Malcher. Entrada franca. Mais informações: 91 8112.8497. A partir das 21h, com entrada franca.

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