O primeiro LP do grupo “Secos e Molhados” faz 40 anos. Para comemorar, a Black Soul Samba desta sexta-feira, 22, no Palafita, em Belém, traz show de Gláfira e banda. Fora do circuito noturno, dedicando-se a trabalhos próprios, a cantora disse, em entrevista ao blog, que está entusiasmada. Acompanhada por uma banda que promete causar, ela vai cantar as músicas que mais marcaram a carreira do grupo, com o vocalista Ney Matogrosso.
Nascido na década de 1970, atrás de “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos, “Tropicália ou Panis et Circensis”, de vários artistas, “Construção”, de Chico Buarque, e “Chega de Saudade”, de João Gilberto, “Secos e Molhados”, da banda homônima, é o quinto colocado na lista dos melhores 100 discos, eleitos pela revista Rolling Stones, em 2007.
Os elementos do glam rock e do rock progressivo, misturados a poemas que se tornavam letras de canção, como ”Rosa de Hiroshima”, de Vinícius de Moraes, deram status de inovador ao trabalho da banda, que acabou se tornando um dos maiores fenômenos musicais no país, após o surgimento do tropicalismo.
Em período militar, um dos momentos mais violentos da nossa história, o “Secos e Molhados”, de forma performática e marcante, emergia daquela cena como uma flor de lótus saia da lama. Vendeu milhares de discos e atraiu milhares de pessoas aos seus shows e continua, até hoje, arrebatando admiradores.
Indo por aí, já se viu que o show da noite que está por vir, tem tudo para ser em uma viagem no tempo. Só que tem mais um motivo pra isso.
Além de ser um dos repertórios preferidos da Gláfira, o show vai relembrar as velhas gigs que ela fazia do bar-galeria Café Imaginário, onde semanalmente, na segunda metade dos anos 2000, levava o público à catarse, com direito a várias faixas dos Mutantes.
Passou o tempo. E ela, que também era a vocalista da banda de rock Àlibi de Orfeu, resolveu sair do grupo e investir na carreira solo. E assim ela fez. Na entrevista que vem em seguida, a cantora nos conta que está feliz com o primeiro disco e que já vem articulando o segundo.
Além disso, prevê circulação do show de “Jardim das Flores” e enumera os outros planos que tem para 2013. Gláfira revela que não toca mais na noite, diz porquê e confessa que a apresentação na Black Soul Samba é uma grande exceção, mas também uma alegria, pois, para completar sua performance de sangue latino, ela estará acompanhada pelos músicos Maurício Panzera(baixo), Willy Benitez (bateria) e Guibson Landim (guitarra), todos também, super fãs do Secos e Molhados.
Holofote Virtual: Estás voltando ao começo?
Gláfira: Sim. Estou de volta ao começo. Esse show tá me dando uma nostalgia muito gostosa. Quem viveu a época das “lendárias quartas do Café Imaginário” sabe do que eu estou falando.
Mas não, não será uma retomada para voltar a cantar em bares. Não pretendo voltar a fazer noite, cantar em barzinho. Esse show é único, algo especial que vou apresentar. Noite, para mim agora, é para dormir (risos).
Holofote Virtual: Não vale à pena tocar na noite?
Gláfira: Trabalhar na noite é se tornar escravo dela. É abrir mão de sua vida social. Não é mais para mim. Tenho boas lembranças e vou matar a saudade agora com esse show. Mas é só.
Holofote Virtual: De quem foi a ideia?
Gláfira: O show foi um convite dos meninos da Black Soul Samba. Agente vinha, há algum tempo, pensando num show meu na Black. Daí o Uirá lembrou que este ano, o primeiro LP do “Secos e Molhados” está fazendo 40 anos de lançamento, e me fez a proposta que, claro, topei na hora.
E a banda é um achado. Chamei uma galera que curte o Secos e Molhados valendo, e que toca as músicas porque gosta de ouvir aquela música. No baixo tem Mauricio Panzera (o Panziscrazy para os amigos, risos), na guitarra, tem o Gibson Landim e, na bateria, Willy Benitiz.
Holofote Virtual: Está total definido o repertório?
Gláfira: Vamos tocar os dois discos que o Ney Matogrosso cantou. Vai ser um repertório cheio de pérolas, tipo: O vira, Amor, Prece Cósmica, Flores astrais, Mulher Barriguda, Fala, O Hierofante...
Holofote Virtual: Não vai entrar nada da Gláfira autoral ou do disco novo?
Gláfira: Poxa! Não vai entrar nada do meu CD Jardim das Flores. Não cabe porque o repertório é só do ‘Secos e Molhados’ e tem muita música para tocar.
Holofote Virtual: “Jardim das Flores” foi um sonho conquistado, fruto de uma decisão que tomastes lá atrás...
Gláfira: Estou apaixonada por ele. Quando eu o vejo fico muito feliz, porque sou muito crítica comigo, mas ele me dá muito orgulho. É do jeito que eu pensei. Toda a equipe fez o seu melhor, cada um sabia o que estava fazendo e queria fazer bem. Eu tenho ouvido-o sempre e não mudaria nada nele.
O show de lançamento em outubro foi lindo, foi mais um desdobramento do CD. Estava tudo muito certinho e entrei muito tranquila para fazer um show que eu já conhecia. A banda foi a mesma que gravou o disco, o repertório era o do disco, e equipe era a mesma que trabalha comigo em todas as produções. Então em senti em casa.
"Jardim das Flores" (foto: Ana Flor) |
Holofote Virtual: “Acróbata” abre o CD e toca bastante na rádio. Como tem a repercussão do disco após o lançamento?
Gláfira: A repercussão tem sido ótima até hoje. Meus shows são para “ver e ouvir”. O cenário do Carlos Vera Cruz foi um escândalo, meio Jardins suspensos da Babilônia, e o figurino que a Alba Maria fez para mim, abalou Paris. Deem uma olhadinha na minha funpage no facebook, Gláfira Lôbo, procura lá. Lindo!
Holofote Virtual: E quais os novos trampos para 2013?
Gláfira: Acabei de abrir a produtora Reator Cultural e estamos a todo vapor. Voltei a coordenar o CCAA FEST e estou coordenando um projeto ambiental-cultural, chamado Arte na Trilha, lá no Parque do Igarapé para o Instituto Ariri Vivo.
O projeto “Ao Vivo” (ano II) tem tomando corpo, que é um projeto de circulação da música autoral de quatro artistas, sendo eu, a Adriana Cavalcante, o Charles Andí e o Renato Torres no elenco.
Estou no processo de captação de recursos para a edição do DVD do Ao Vivo, que gravamos no Theatro da Paz. Estou montando uma circulação nacional para o meu disco. E por ai vai. Não disse que preciso de férias, senão a mina pira?! (risos)
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