Equipe acompanhou roda de Carimbó no Coisas de Negro |
O Canal BIS (ex-Multishow HD) vai exibir nesta segunda-feira, 25, às 19h30, com reprise no sábado, dia 02 de março, o documentário “Ritmos do Pará”. As filmagens foram realizadas no final de 2012, em Belém, Icoaraci e Barcarena.
A equipe da produtora carioca KNVideo formada pela jornalista Esther Meireles (roteiro/produção), e os câmeras Kilmer Menezes e Magoo Neves passou mais de dez dias por aqui, captarando imagens da cidade e realizando entrevistas com objetivo de buscar a essência sonora que constrói a música paraense e a faz reverberar país afora.
O canal Multishow HD já tinha gravado um programa com Gaby Amarantos e Lia Sophia, mas depois que o canal BIS entrou no ar, voltado inteiramente para a música, com documentários e séries, logo veio a ideia de se fazer um programa sobre o Tecnobrega. Esta era a ideia original, mas quando a equipe da KN Video começou a pesquisar, percebeu de imediato que o Pará tem sonoridades diversas, nas quais, inclusive, o tecnobrega se inspira.
Esther conta que descobriu o carimbó, a guitarrada, o brega pop e tantos outros ritmos.
“Foi aí que resolvemos fazer uma salada, dar um panorama mais geral sobe a música paraense”, disse ela ao Holofote Virtual, que acompanhou a maioria das entrevistas feitas para o documentário intitulado “Ritmos do Pará”.
Desde os primeiros contatos com Belém, a equipe percebeu que seria tudo meio corrido pra tanta coisa a ser feita. Mas a equipe deu sorte. O primeiro dia de externa coincidiu com um show do Caboclo Muderno que naquela noite recebeu Paulinho Mosca, Pepeu Gomes e Pedro Luis. Eles, que também deram entrevista para o documentário, revelaram já vir algum tempo bebendo na fonte da música paraense. Marco André, que comanda o bloco, também falou para sobre sua trajetória e o atual projeto que vem desenvolvendo.
Em Barcarena, com Mestre Vieira e Os Dinâmicos |
Também deram entrevistas Mestre Vieira e Os Dinâmicos, Lia Sophia e Pinduca, Dona Onete e Aíla, Pio Lobato, Ana Clara Matos (banda Massa Grossa), Toni Brasil, Gang do Eletro, Felipe Cordeiro, Félix Robbato, Nego Ray (Mundé Cultural), Mestre Coutinho (carimbó/Icoaraci), Boi Pavulagem e Trio Manari, além dos DJs que fazem as festas das maiores aparelhagens que existem hoje em Belém.
O documentário busca ampliar a visibilidade que a música paraense tem alcançado junto ao cenário nacional, uma imagem que ainda atrelada ao tecnobrega, deixa os demais ritmos, segundo Esther, ainda restritos a um público formado por jornalistas, produtores e pessoas ligadas à área da música.
Ela conta que, pelo menos no Rio de Janeiro, onde vive, as pessoas, em geral, conhecem Gabi Amarantos, Lia Sophia e Felipe Cordeiro, além de Waldo Squash, da Gang do Eletro, que tem grande repercussão no universo dos DJs e da música eletrônica, mas o grande público, pouco conhece ainda, os ritmos que influenciam as trajetórias desses artistas.
O “Ritmos do Pará” pretende trazer isso á tona, esmiuçar um pouco mais esta história. Na entrevista que segue, Esther Meireles fala das surpresas e impressões que ficaram pra ela, após a realização deste documentário.
Esther entrevista Cleber Paturi (Trio Manari) |
Holofote Virtual: O que mais te chamou atenção em relação aos ritmos que foram apresentados pelos artistas entrevistados?
Esther Meireles: Na verdade pra mim é tudo muito novo, pois eu fui conhecendo a música daqui na media em que fui trabalhando no documentário. Eu não tinha nenhum conhecimento prévio, ouvia uma coisa e outra, mas não sabia de onde vinha, tinha interesse mas não me aprofundava nesse conhecimento, o que veio acontecer a partir do início deste trabalho.
Holofote Virtual: E o que você achou?
Esther Meireles: Cheguei aqui e fiquei completamente maravilhada, emocionada, com uma série de artistas, tanto os mais antigos, os grandes mestres do carimbó, quanto os mais novos. Eu vejo que eles estão muito bem estruturados e possuem algo sólido a sua volta. Estes artistas sabem onde querem chegar, estão bem organizados neste sentido.
A música paraense, até como algumas pessoas que foram entrevistadas falaram, não é uma moda. Desta vez eu acho que não é mesmo uma moda. É realmente algo que está começando a ser reconhecido como música brasileira.
Holofote Virtual: Estamos falando de uma música que já influencia artistas de outros lugares, além do Pará...
Esther Meireles: Sim. Vimos isso no show do Caboclo, que teve a participação do Pedro Luis, do Pepeu Gomes e do Paulinho Mosca, pessoas que não são daqui e que já tem influências da musicalidade paraense no trabalho deles. Aliás, eu mesma já identifico em outros artistas de outras regiões do país, uma certa musicalidade daqui. O Brasil é muito rido de ritmos, fica cada vez mais difícil você determinar o que é de cada lugar, o que pertence a que região. Influência diversas e muita mistura, é o que a gente recebe.
Não faltou a dança tremida na cabeça da águia |
Holofote Virtual: Vocês também foram a festas de aparelhagem. Como foi a experiência?
Esther Meireles: Eu fiquei muito impressionada, as pessoas comparam muito este cenário do tecnobrega com o funk carioca. Mas eu acho que a única semelhança é o fato de ser uma cultura que nasce na periferia, e que por isso sofre um pouco de preconceito das pessoas, da crítica, mas a festa em si, o evento em si, eu achei muito diferente.
É de uma grandiosidade..
Tem muita luz, um som potente, de uma qualidade chocante. Você não vê isso em outras festas de periferia, como no caso do funk, por exemplo,que faz um som rachado, ruim. Aqui, o som da aparelhagem é poderoso, profissional, digno desses shows de Madona e U2. Tem uma pirotecnia de dar inveja aos artistas internacionais. Eu já tinha visto as aparelhagens em vídeos postados em youtube, internet , mídia, mas ver ao vivo é impressionante.
Holofote Virtual: Quais os momentos mais emocionantes pra ti durante a realização das entrevistas?
Esther Meireles: É difícil dizer qual momento foi mais marcante, todos foram muito especiais. Conhecer o trabalho do Trio Manari, na fala do Paturi (Cleber – percussionista) foi emocionante. O encontro de Lia com Pinduca foi incrível e foi também a primeira vez que eles tocaram juntos. Eu até achava que eles já tinham feito algo junto.
Quando propomos o documentário, pensamos em fazer encontros musicais, por isso a produção ligava pros artistas e consultava. Não queríamos forçar nada que não batesse a química.
Quando falamos com Lia, foi proposto o encontro dela com Pinduca. E tudo fluiu super bem. A gravação foi rápida e em 20 minutos fizemos a entrevista sobre a carreira deles, sobre o encontro e a inlfuência de um, no trabalho de outro. Eles tocaram três musicas e pronto, fluiu maravilhosamente bem.
Esther com João Paulo, Aíla, D. Onete e David Amorim |
Holofote Virtual: E teve também Dona Onete e Aíla...
Esther Meireles: Foi outro encontro muito legal. As duas têm uma química ótima. Já tinham feito coisas juntas e são parceiras. Dona Onete compõe letras para Aíla cantar. Foi uma gravação incrível. As duas são muito especiais. Aíla é uma dessas jovens cantoras que tem consistência e acho que ela vai conseguir se projetar bem fora do Pará.
Holofote Virtual: Aqui os nossos ritmos tradicionais se fundem em trabalhos contemporâneos. Você percebeu isso muito bem...
Esther Meireles: Isso. Temos que entender que estamos em um mundo globalizado e por isso tem que reciclar sua música para passar de geração em geração. Alguns mais puristas vão dizer que se está mexendo num ritmo de raiz, mas as pessoas não percebem que, mexendo nestes ritmos tradicionais ajuda a fortalecê-los também.
Algumas pessoas disseram que existe o carimbó mais de raiz, que matem as tradições. E tem outros grupos que misturam a esta sonoridades, elementos mais modernos. O Cabloco, por exemplo, como o próprio nome diz é 'Muderno'. O próprio Pinduca faz um carimbó mais moderno. Ele saiu na frente, sofreu preconceito por sua reinvenção, mas com isso o carimbó também rompeu fronteiras.
Holofote Virtual: Como você percebe a difusão da música paraense fora daqui?
Esther Meireles: Sinceramente, acho que ainda é um meio mais fechado que conhece as musicas do Pará. São artistas, jornalistas, pessoas ligadas a comunicação, ao meio artístico. É aos poucos que as pessoas vão conhecendo melhor este trabalho.
Lia Sophia e Pinduca batem um papo antes da entrevista |
Holofote Virtual: Quem está em evidencia?
Esther Meireles: Gaby e Felipe Cordeiro já tem uma certa visibilidade no Rio de Janeiro, assim como a Lia Sophia, mas a gente não tem a noção da dimensão da cultua paraense.
No Rio, essa questão da guitarrada, do carimbó, ainda não são de amplo conhecimento. Acho que as pessoas nem sabem que a própria Lia, a Gabi e o Felipe têm de fato estas influencias, não sabem a historia deles, os ritmos que norteiam suas músicas e que os transformam em ícones da musica brasileira.
Holofote Virtual: E você acha que o Ritmos do Pará vai conseguir trazer este outro viés de informação sobre a cultura musical paraense?
Esther Meireles: Sim, é o que esperamos. E os próprios artistas falam muito disso. Abordamos tudo que norteia a trajetória de cada um dos entrevistados, mostrando presentes sempre o carimbó, a guitarrada, que dão base pra estas pessoas que estão ai. Felipe mistura bastante, mas não é guitarrada, não é tecnobrega, e não é o brega, nem carimbó.
Ao mesmo tempo, estes artistas também têm influência de vários artistas da MPB e internacionais. Eles deixam claro que isso que fazem não é aquela coisa hermética, não é pra ser entendido como folclore. É música brasileira. Faz parte da MPB.
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