Domingos da Silva, conhecido como Mestre Pelé, faleceu na noite deste sábado, 13, em Belém, deixando seis filhos e um legado de mais de 200 músicas inéditas. O corpo está sendo velado neste domingo na casa da família em Marapanim (R. 7 de setembro, n. 441 – Centro), sua terra natal, de onde sairá um cortejo, ás 9h, desta segunda-feira, 15, em direção à igreja de São Raimundo. Na ocasião será rezada uma missa em sua homenagem.
Ele tinha acabado de completar 54 anos no dia 28 de junho. O apelido de Pelé vem da infância quando, além de já acompanhar as tocadas de Mestre Lucindo, ícone do carimbó de Marapanim, também curtia uma boa partida de futebol. Foi só depois que passou a se envolver diretamente com o carimbó, que Pelé ganhou também o nome de Mestre.
Doente desde o início do ano passado, quando passou mal durante uma apresentação no festival de carimbó de Marapanim, Mestre Pelé este ano nem chegou a se apresentar com o Flor da Cidade, grupo que comandava há mais de 15 anos.
Nesta última semana ficou quatro dias internado no Pronto Socorro de Belém e chegou a ter alta, voltando para seu município, mas depois voltou a passar mal e retornou a Belém, ontem à tarde, mas sem resistir aos problemas pulmonares que já vinha tendo, faleceu ás 22h30.
Em 2012, os jornais publicaram que Domingos da Silva não recebia aposentaria e dependia do Sistema Único de Saúde (SUS), que muitas vezes não funcionou como devia e ele ficava sem realizar os exames e o tratamento. A situação agravou e Mestre Pelé precisou afastar-se das atividades do grupo de carimbó por sentir-se fraco e sem disposição para fazer o que mais gostava que era cantar.
“Meu pai está deixando pelo menos 250 músicas inéditas e sem registro. É carimbo, mas também tem brega e forró. Tenho tudo arquivado e vamos precisar de ajuda pra poder concluir este trabalho.
Queremos organizar este legado para não deixar se perder sua história. Ele gravou quatro discos, o último foi Carimbó Gostoso, lançado em 2012”, disse agora pouco por telefone, Raimundo Rodrigo dos Santos Silva, um dos filhos de Mestre Pelé.
Homenagem - Neste domingo, a roda de carimbó Coisas de Negro, de Icoaraci, reduto de resistência desta tradição fará uma homenagem ao mestre. “Sempre lembramos do mestre por suas composições pela poética que retrata da natureza a questões sociais”, diz Luizinho Lins do Coisas de Negro. De acordo com o músico, Mestre Pelé tinha um estilo no cantar diferente de muitos cantadores de carimbó e suas letras traziam um compasso também diferente.
“Quando estive em Marapanim, o conheci pessoalmente. Ele me mostrou o banjo e tocou pra mim e ele aprendeu de tanto ver o povo tocar. Ele tinha um sotaque suave na batida, que ainda não tinha ouvido nos outros. O povo do carimbó de Marapanim reconhecia nele um dos grandes compositores e cantores como os mestres Lucindo e Cantídio. No palco ele tinha estilo também”, conta Luizinho.
No Coisas de Negro, cantando e tocando banjo |
Mestre Pelé era pescador. Como todo mestre da cultura popular, sem contar com atenção específicas de políticas que subsidiem a sabedoria ancestral desses tocadores, ele nunca pôde se dedicar somente ao carimbó. Mas desde que adoeceu, nem pescar mais ele podia.
“E às vezes ainda cantava e tocava por teimosia”, conta o filho Rodrigo.
Marapanim, no nordeste do estado, é um dos principais berços do carimbó. Não à toa a cidade, considerada a Terra do Carimbó, está de luto. A cultura popular paraense também está. E neste momento em que se luta por direitos e por uma política cultural digna para o Estado, os mestres das culturas tradicionais não serão esquecidos.
Um comentário:
OBRIGADO PELA FORÇA AMIGOS...TENHAM A CERTEZA QUE O SONHO DO MESTRE PELÉ VAI CONTINUAR POR SUA FAMILIA QUE LEVA NO SANGUE O CARIMBÓ PARAENSE...RODRIGO SANTOS FILHO
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