31.7.13

Mostra Terruá encerrou mesmo em grande estilo

A confraternização no final das apresentações
O site do evento previa isso dias antes da terça, que teve no cardápio musical a banda Molho Negro, Olivar Barreto, Aíla e João Golsalves e os Populares de Igarapé-Miri, além da Banda ARK e de Felipe Cordeiro, as últimas atrações da noite que, eclética, foi aquecida pelo calor humano e ritmos contagiantes do Pará. 

De 14 de maio a 30 de julho, em 12 terças-feiras seguidas, sempre com seis shows em cada, somando as 72 atrações selecionadas entre as mais de 300 inscritas. A comissão artística que vinha acompanhando todos os shows, além do diretor do espetáculo, o produtor Carlos Eduardo Miranda, que esteve presente, ontem, no Teatro Margarida Schivasappa, devem divulgar o resultado ainda neste final de semana. 

Apenas 12 irão integrar o show oficial do Terruá Pará, que será apresentado em São Paulo, sem data definida ainda para acontecer. A tarefa da comissão será árdua. O próprio Miranda disse a Raul Bentes e Beto Fares, da rede Cultura de Comunicação, que está mais uma vez impressionado com a diversidade da música do Pará e que não será nada fácil definir o novo show do Terruá.

Aila, Arthur Espíndola, Luê, Calibre e mais...
“São 12 atrações, mas teremos também músicos convidados que irão compor o grande show. Queremos algo equilibrado, que garanta um ótimo espetáculo ao público e qualidade também aos artistas.

Vamos divulgar logo isso”, informou o produtor aos radialistas que comentaram a mostra nos intervalos dos shows, durante a transmissão pela TV, rádio e Portal Cultura. 

Miranda vem acompanhando a cena musical paraense há um tempo. Em meados dos anos 2000, ele esteve por aqui, à convite de Ney Messias, então presidente da Funtelpa, e participou do festival cultura de verão, realizado em Algodoal, onde grande parte das atrações selecionadas para esta primeira Mostra Terruá subiram no palco, montado na praia em frente à vila dos pescadores. Algodoal, desconfio, é uma espécie de terra natal do Terruá Pará. 

De lá pra cá, a cena, que já era madura, se destacou, de maneira diferenciada, e o Terruá somou ao impulso inevitável provocado pela mídia brasileira, que descobriu, “de repente”, a música paraense. No início sofreu críticas e gerou polêmica, mas foi em clima de confraternização que a mostra encerrou, ontem, no Teatro Margarida Schivasappa. 

Felipe Cordeiro na noite de aplausos 

Felipe Cordeiros encerrando a mostra
Os shows da última noite foram aplaudidos de pé. A abertura ficou por conta do rock do Molho Negro,seguido do charme, talento, presença de palco e excelente repertório de Olivar Barreto, para continuar com Aíla, que fechou sua apresentação performaticamente, cantando Todo Mundo Nasce Artista.

A programação contou ainda com a misturada de lambada, guitarrada e latinidades dos Populares de Igarapé-Miri. Tudo já ia ás mil maravilhas até que no final virou catarse. E se a banda ARK ‘causou’, surpreendendo com seu tecnomelody com sotaque de rock anos 1980, Felipe Cordeiro deixou o público estarrecido.

Postura de star, agora com menos bigode, é verdade, mas com performance cada vez maior e segura no palco, em apenas 20 minutos, ele levantou a plateia que já havia se inflamado com os shows que vieram antes. A apresentação de Felipe Cordeiro na mostra Terruá, o reafirmou como artista admirado do público paraense. Digo reafirmou, pois a multidão que, em abril de 2012, super lotou a Praça do Carmo, no centro histórico de Belém, para o lançamento de seu primeiro CD, já havia dado este recado. 

Os Cordeiros e banda arrebentaram!
Prova disso na Mostra terruá foi ele ser acompanhado em uníssono pelos fãs, quando cantou dois sucessos do ‘Kitsch Pop Cult’, ‘Legal Ilegal’ e ‘Lambada com Farinha’ e depois ao causar frisson mostrando algumas músicas inéditas do novo CD, gravado em Belém, Rio de Janeiro e em São Paulo, pelo programa Natura Musical, com apoio da Lei Semear. Com produção de Cassim e Carlos Miranda e participação de Arnaldo Antunes, o novo trabalho traz claramente as influêcias do ex-Titãs. 

A diversidade presente no resultado musical do show de Felipe também esteve exposta em sua banda. O cantor tem a seu lado um dos melhores produtores e compositores, fomentador da música paraense, o guitarrista Manoel Cordeiro, apresentado pelo filho como marajoara, nascido em Ponta de Pedras no Marajó, mas com cidadania amapaense, bragantina e belenense.

Felipe tem também Betão Aguiar, no baixo, que é filho do cantor e pesquisador Paulinho Boca de Cantor, do grupo Novos Baianos; tem o baterista Márcio Teixeira (bateria), ex-parceiro da banda de seu pai nos anos 1990; o tecladista Otto Ramos, produtor musical e articulador cultural do Amapá e Márcio Jardim (percussão), um dos criadores do Trio Manari, ao lado de Nazaco e Kleber Benigno. Enfim, foi uma grande noite!

Mostra deu certo, mas pode ficar melhor  

Pedrinho Callado fazendo pose!
O Terruá iniciou apenas com músicos convidados, em 2006. Ganhou elogios de quem foi abraçado pelo projeto e fez apresentações em São Paulo, mas gerou, por isso, polêmicas. Em 2012 foi realizado em Belém pela primeira vez, reunindo seu elenco em cinco dias de shows no Theatro da Paz, que ficou tão lotado quanto a I Mostra no Margarida Schivasappa, este ano. 

Na época, mais uma vez, o Terruá sofreu críticas que devem até ter contribuído para o lançamento de um edital em 2013, um passo importante do projeto em direção à democratização de seu processo de seleção. O público local foi conquistado e os artistas envolvidos, conquistados. Mas em um estado de dimensões como o Pará, muitos artistas que moram em municípios mais distantes ficaram de fora ou quiçá souberam do processo de seleção. 

Para ser mais democrático seria interessante realizar audições e inscrições em pelo menos uma cidade de cada região do Pará. Quem sabe uma espécie de seletiva no interior no Estado para a II Mostra Terruá Pará seja um bom caminho? Fica a sugestão. E um desejo: de que o Terruá funcione como ferramenta de mapeamento da produção musical, com objetivo de criar políticas de governo contínuas, incentivando projetos que joguem seus holofotes sobre as outras linguagens artísticas, fomentando, assim, a cadeia produtiva da cultura.

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