25.7.13

In Bust e Sirênios chegam de bubuia em Macapá

In Bust, no rio Amazonas - Fotos: José Rodrigo
Sim, navegar é preciso. O In Bust Teatro com Bonecos sempre soube disso e agora mais do que nunca. Foi pelo rio Amazonas, depois de passar em outras cidades, que eles chegaram em Macapá, nesta última terça-feira, 23, à noite, depois de navegar por 12 horas. 

O grupo vai realizar por lá uma oficina, de 25 a 27 de julho, na Fortaleza de São José, em Macapá (Rua Cândido Mendes, s/n), onde também apresentará o espetáculo Sirênios, na sexta, 26, e no sábado, 27. A comunidade de Maruanum (AP), também ganha uma apresentação, no domingo, 28, na sede da Associação do Quilombo de Santa Luzia, a partir das 18h.

Pegar o barco e sair por aí. Este é o objetivo de “Sirênios de Bubuia no Rio Amazonas”, projeto que foi lançado em Belém, dia 30 de junho, no Casarão do Boneco. Naquele domingo, a seleção brasileira de futebol estava jogando para garantir sua posição na final na Copa das Confederações. A pergunta que não queria calar, era: "vamos ter público?". Teve!

O lançamento, no anfiteatro dos Tajás
E sob fogos de artifício e gritos de gol, que vinham dos prédios em torno do anfiteatro dos Tajás, uma plateia de aproximadamente 20 pessoas viu a apresentação do espetáculo Sirênios, que partiria de mala e cuia, no dia 8 de julho, para o oeste paraense.

As apresentações e uma oficina iniciaram em Santarém e Alter do Chão. De Santarém, a turma de nove bravos integrantes - Adriana Cruz, Paulo Nascimento, Aníbal Pacha, Cristina Costa, Cincinato Marques, Íris Nascimento, Dandara Nobre, Milton Aires e José Rodrigo -, seguiu para Alenquer, depois Monte Alegre, Prainha e Almerim até chegar em Macapá.

Contemplado com o Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro/Minc/Governo Federal, o projeto “Sirênios de Bubuia no Rio Amazonas”, concluirá então, neste final de semana, sua primeira etapa. Na próxima segunda-feira, já estarão em Belém novamente, para o planejamento da segunda fase, que deve, em outubro, circular por cidades do arquipélago do Marajó, em mais uma experiência fluvial.

Projetos itinerantes

Alter do Chão
Para quem já percorreu tanto chão, pegar um barco ao invés de uma van, é mais que necessário, afinal  de contas a gente vive aqui neste mundão de águas. E na verdade não foi a primeira vez.

É fato. Os maiores projetos do In Bust são os de circulação.

O grupo realizou pelo menos cinco edições do projeto “Bonecos na Estrada”, e levou seus espetáculos a municípios próximos ou mais distantes e às comunidades quilombolas espalhadas por diversas regiões do estado. Já esteve, só com este projeto, a mais de 50 municípios, mostrando-se para um público de mais de 20 mil pessoas.

O In Bust já visitou diversos espaços e comunidades, no centro ou periferia de Belém, e chegou à região das ilhas que ficam no entorno da capital, com o “Sábado Comunidade”. E também já participou do Sesc Amazônia das Artes, chegando a outros estados da região Amazônica e uma cidade no nordeste, e do Palco Giratório, também do Sesc Nacional, indo para outras regiões do país. Mas já havia algum tempo, que não se saia assim, levando a sua arte de manipular e interagir com bonecos, linguagem que pesquisa há mais de 16 anos em que está... na estrada!

Adriana, em cena - Alenquer
Olhar é alimento - Tais viagens, mais do que simplesmente seguir o roteiro de um projeto, são alimento poderoso para o processo criativo do grupo. Para ele é costume e lema beber na fonte do imaginário popular, chegar mais próximo da cultura e do cotidiano na vida de quem vive na ribeira ou no coração da Amazônia. 

“A circulação não é pra gente mostrar simplesmente um trabalho, mas pra gente alimentar e recriar nossos espetáculos, a partir do lugar em que chegamos”, diz Adriana Cruz. Para ela, o espetáculo funciona como um diálogo com o público. Ela fiz que em cada lugar este diálogo acontece de uma forma diferente.

“Algumas coisas que acontecem ali, podem se alterar na hora o espetáculo. São coisas que nos apropriamos e agregamos ao espetáculo, que aliás, volta da circulação bem diferente do que foi. Nunca é o mesmo. Estamos com os canais de percepção sempre ativos para ouvir histórias, pesquisar e registrar, tomar café com as pessoas.. ouvimos sempre boas historias. Isso tudo, de alguma forma, vai nos servi ali ou mais na frente”, continua Adriana.

Prainha
“O olhar é tudo pra gente”, dispara mais um dos integrantes do grupo, Aníbal Pacha, ator manipulador, bonequeiro e cenógrafo do grupo que também mergulha na arte do figurino.

“O meu olhar, particularmente, vai pras coisas do local, a sua artesania, a arte popular, os objetos de utilidade que posso encontrar no mar, no rio, enfim, tudo que possa trazer pra gente elementos pra nossa estética da nossa criação”, explica Pacha.

Além do processo próprio do grupo, desta vez, Aníbal Pacha também estará atento a algo mais extenso. “Sirênios vai, provavelmente, se desdobrar no meu trabalho de mestrado. Elegi este espetáculo, seus objetos e bonecos, como elementos para eu discutir o In Bust”, diz o bonequeiro, que explica, ainda: "este espetáculo possui um diferencial. Nasceu em formato gigante para depois ter tudo seu reduzido, mas carregado nestas matérias de pesquisa", diz.

Ele utiliza a artesania que o grupo descobre exatamente quando circula. "São basicamente as cestarias desta região que constroem a estética de Sirênios. E claro, vou coletar outras coisas pra alimentar o nosso fazer enquanto objetos dentro da cena, seja o boneco, o adereço, o cenário e tudo que se formata dentro desses nossos repertórios”, reflete.

O 1º embarque foi em barco de linha...
Aprendendo com a produção 

Além do fator processo de criação,não podemos esquecer que isso só acontece porque há um planejamento, uma produção que permite que se circule.

E junto a isso, há o custo (amazônico), as grandes distâncias, e dificuldades de comunicação, relacionados à produção cultural na Amazônia. E com toda a experiência que carrega, In Bust reconhece que nesta relação entre capital e interior, no quesito produção, cada projeto traz novos e diversos riscos e apontam outros caminhos.

“Antes de viajar, mapeamos o nosso roteiro. Em algumas viagens registrei coisas que achei importante para próximas produções, e muita coisa aprendemos, mas desta vez as coisas funcionaram diferentes. Na região oeste do Pará, tudo pareceu mais difícil, como a questão do transporte”, diz Paulo Nascimento.

“Queremos fazer um diário de bordo registrando mais e mais detalhes desta viagem, para disponibilizar a todos e quem sabe ajudar outros projetos que queriam ser feitos nesta região", continua. Dá certo. Uma das experiências que foram aproveitadas de outras viagens do grupo foi a decisão de fretar um barco próprio do projeto, ao invés de ficar dependendo dos dias e horários dos barcos de linha que os levariam aos municípios que fazem parte do itinerário de “Sirênios de Bubuia...”.

... até chegar ao barco Sirênios.
“Isso com certeza foi algo que nos facilitou muitas coisas. Quando batemos martelo no trajeto mais complicado, resolvemos fretar um barco que ficasse a nossa disposição do que ficar dependendo do barco de linha, por ter que esperar horários etc. Na primeira vez que fomos de Santarém para Manaus, tivemos contratempos assim” , conclui Paulo Nascimento.

O roteiro ficou assim. O grupo chegou em Santarém de avião e pegou de lá um barco para Alter do Chão, retornou a Santarém, seguiu para Monte Alegra, Alenquer, Prainha e Almerim, para agora seguir para outro estado, o Amapá. Para a produtora do grupo, Cristina Costa, o aprendizado da vez foi compreender que entre a ansiedade da produção e a realidade dos lugares para onde se queria levar o projeto, há uma enorme diferença "que precisa ser assimilada e não combatida", ressalta.

"Cada lugar tem seu ritmo e é preciso aprender a lidar com isso. Queremos fechar as coisas, deixar tudo bem amarrado, há urgência, mas a vida lá é outra, o ritmo é outro e a forma que as coisas se desenrolam lá é outra. É importante ter este entendimento na produção”, diz Cris.

Levando nove pessoas na equipe, entre atores manipuladores e técnicos, um aparato de luz, som, além do cenário e outras ferramentas que fazem parte do projeto, a ideia do In Bust é estar preparado para se apresentar em qualquer lugar, sem necessitar de tanta infraestrutura da cidade.

Alter, em Santarém
“Embarcamos para realizar uma circulação independente de estruturas. Só precisamos de energia e talvez de algumas cadeirinhas, mas enquanto nos planejamento, sempre criamos um modelo que nos proporcione aproveitar bem os espaços disponíveis em cada cidade.

A escadaria de uma igreja, o anfiteatro da praça, a sede social, comunitária, enfim, é tentar ver na cidade, de que forma a gente ressignifica os espaços que já existem ali”, conclui Cristina.

Ficha Técnica

Elenco: Adriana Cruz, Anibal Pacha e Milton Aires.
Direção: Paulo Ricardo Nascimento
Produção: de Cristina Costa
Roteiro e criação dos textos: coletivos, do grupo
Confecção de bonecos e cenografia: Aníbal Pacha, baseado nos bonecos originais de Aline Chaves
Máscaras: Bruce Macedo
Figurino: Mariléia Aguiar
Sonoplastia: Paulo Ricardo Nascimento, com consultoria de Nazaco Gomes, e contribuições de Fábio Cavalcante e André Mardock
Operação de som: Dandara Nobre
Assistência de direção: Íris Nascimento
Assistência de produção: Cincinato Marques Jr., Andrea Rocha e Thiago Ferradaes 
Registro Fotográfico: Rodrigo José
Assessoria de imprensa: Luciana Medeiros ;)

AGENDA - Amapá

Oficina

Macapá
Dias 25, 26 e 27 de julho, das 8h30 às 12h30
Local: Fortaleza de São José de Macapá (Rua Cândido Mendes, s/n ).
Oficineiro: Adriana Cruz/Assistência: Paulo Ricardo Nascimento

Apresentações de Sirênios

Macapá
Sexta, 26 e sába, 27, às 20h
Local: Fortaleza de São José de Macapá

Maruanum 
Dom, 28 de julho, às 18h
Local: Sede da Associação do Quilombo de Santa Luzia do Maruanum.

Informações: 91 8110.5245.

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