13.8.13

Corte Seco: um ensaio sobre a impermanência

“Uma mudança brusca no fluxo da imagem.” Essa é a definição de corte seco, termo da linguagem audiovisual usado para definir um tipo de passagem na montagem de cinema e vídeo, e que dá nome à mais recente série do fotógrafo paraense Alberto Bitar. A exposição abre nesta quarta-feira, 14, na sala Gratuliano Bibas, na Casa das Onze Janelas, onde fica à disposição do público até setembro. 

Crime, violência e morte. Foi nesse cenário que Alberto instalou seu tripé e levou a câmera para testemunhar as cenas que formam a exposição "Corte Seco", uma analogia ao fluxo da vida interrompido abruptamente pela violência diária que acomete vidas na grande Belém. 

A série nasceu depois de Alberto Bitar acompanhar por mais de um ano as rondas de reportagens policiais atrás de cenas de homicídio. E não foram poucas. Premiada com o Marc Ferrez 2012, a mostra é formada por imagens de crimes ocorridos nas noites da cidade e capturam a atmosfera deixada instantes após a violência urbana abandonar mais um corpo inerte no chão de terra batida ou do asfalto cor de chumbo. 

“Desde 2009 que eu trabalho na edição de fotografia de um jornal de grande circulação em Belém e no início de 2010 eu comecei a perceber algumas conexões entre trabalhos que eu havia produzido anteriormente, que tratam de questões como a memória a transitoriedade e outras existenciais, com alguns aspectos das imagens produzidas para o caderno policial do periódico. Quase instantaneamente lembrei de um procedimento que havia pensado para um outro trabalho onde as longas exposições seriam utilizadas e imaginei que o resultado disso me daria as imagens que buscava”, explica o fotógrafo. 

As luzes multicoloridas apreendidas pelas longas exposições da câmera diante dos corpos abandonados próximos a soleiras de casas da periferia emprestaram para o cenário caótico uma energia transcendental. A baixa velocidade do obturador torna borradas as faces dos curiosos que rodeiam os corpos, formando uma imagem fantasmagórica, quase irreal, afastando as imagens de uma relação direta com o fotojornalismo praticado nos jornais diários.

“Apesar da série trazer fatos de interesse jornalistico que estão no cotidiano das nossas grandes cidades, esse não é o objeto principal de Corte Seco. Claro que isso não pode deixar de ser percebido e não deixa de ter relevância, mas a ideia principal é nos fazer pensar sobre a nossa condição de impermanência e sobre o quanto somos frágeis”, diz o autor da série. 

Por isso, "Corte Seco" não é um estudo ou uma critica do jornalismo policial praticado na redação dos jornais impressos das grandes cidades, mas um espaço para elucubrações sobre temas como transitoriedade, memória e a impermanência. 

Os segundos contados em silêncio por Alberto Bitar deixam a série falar por si mesmas sobre questionamentos que sempre inquietaram seu autor, que aqui aproveita até o vermelho incandescente projetado pelo giroflex da viatura do carro de polícia como pigmento mordaz que remete à morte, ao crime. 

A 30ª Bienal de São Paulo foi a primeira experiência do “Corte Seco” numa exposição, para onde a série foi pensada para ser apresentada na sala dedicada ao fotografo paraense. Depois as imagens percorreram o interior e se instalaram na mostra itinerante da Bienal, em Bauru. 

Hoje, as cinco imagens montadas em metacrilato, um material translucido afixado na imagem como um vidro em estado líquido que endurece sobre a própria fotografia, fazem parte do acervo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP). 

Alberto BItar nasceu em Belém, no ano de 1970 e iniciou a carreira 21 anos depois, já começando a desenvolver ensaios pessoais, como nas séries "Fotografismo Urbano" e "Efêmera Película", série de experimentos sobre o tema natureza, com o qual é selecionado em 1996 pelo projeto Antarctica Artes com a Folha, um mapeamento da produção de jovens artistas do Brasil. 

Em 2002 recebeu o Prêmio Especial do Salão Arte Pará com o vídeo Doris, realizado em parceria com Paulo Almeida e Leo Bitar e no ano seguinte realizou "Enquanto Chove", vídeo com co-direção de Paulo Almeida. Realizou as exposições individuais "Solitude" (1994), "Hecate" (1997), "Passageiro" (2005) – com esta integrou a programação oficial do 7° Mês Internacional da Fotografia de São Paulo- "Efêmera Paisagem" (2009/2011) e "Sobre o Vazio" (2011) com a qual recebeu o Prêmio Marc Ferrez da Funarte. 

O fotógrafo vem participando de mostras coletivas no exterior, como o Salão Internacional de Fotografia Abelardo Rodrigues Antes - Havana/Cuba, e Desidentidad, no Instituto Valenciano de Arte Moderno, na Espanha e Une Certaine Amazonie em Paris. No Brasil participou do Rumos do Itaú cultural, Panorama da Arte Brasileira e em 2012 foi convidado para integrar a 30ª Bienal internacional de São Paulo. 

Serviço
Exposição “Corte Seco", de Alberto Bitar. Na Sala Gratuliano Bibas - Casa das Onze Janelas. Nesta quarta-feira, 14, a partir das 19h. Visitação de 16 de agosto a 24 de setembro. Rua Sequeria Mendes, Cidade Velha, Belém do Pará. Entrada franca.

(informações da assessoria de imprensa)

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