10.10.16

Líbero Luxardo na estreia do Cineclube Casa Velha

A estreia cineclubista traz filme de Líbero Luxardo e anuncia que terá programações a cada quinzena, quando um convidado da assume o papel de projecionista, escolhendo um filme para exibir e após a exibição abrir o debate com quem estiver interessado. “Se quiser falar algo sobre o dito que fique à vontade, caso não que igualmente fique de boa”, diz Marco Tuma, da Casa Velha. A entrada é colaborativa e solidária em prol de um projeto cineclubista muito bacana, realizado no bairro do Barreiro. É nesta quinta-feira, 13, a partir das 19h, 

O convidado para a projeção inicial é João Cirilo, técnico em gestão cultural na Fundação Cultural do Estado do Pará, que escolheu exibir o longa-metragem de Líbero Luxardo, “Um dia qualquer”. Marco na história do cinema brasileiro, o filme mostra um dia qualquer da vida de um homem que acaba de enterrar um grande amor e, atordoado, resolve circular pela cidade de Belém, mostrando com isso costumes, manifestações culturais e comportamento na Belém dos anos 1960.  

Traz no elenco, como protagonistas Tômas Barcinski e Maria de Belém Rhossard, além de Eduardo Abdeonor, Cláudio Barradas, Nilza Maria, Carlos e José Ohana, Zélia Porpino, Alberto Bastos, entre outros, além de participações de Sebastião Tapajós, que toca numa roda de choro ou de samba, já não lembro, e de Marina Monarca, do Babalorixá Raimundo Silva e dos bumbás Novo Querido e Boi Brilhante. 

O longa é precioso também em sua trilha sonora que traz música com regência de Pixinguinha, para a Orquestra de Sebastião Tapajós, as músicas Pregão de Cheiro e Toadas de boi Bumbá, de Waldemar Henrique, cujas letras são de Bruno de Menezes e traz ainda o coral da Orquestra da Universidade do Pará, soba regência de Nivaldo Santiago. 

O filme "Um Dia Qualquer" é  um clássico ao mostrar uma paisagem urbana de Belém, algumas que ainda reconhecemos, outras que já não existem, configurando-se  numa cidade já diluída pelo tempo. Por tudo isso, "Um Dia Qualquer" é considerado um longa metragem paraense, ainda que Líbero fosse paulista . 

Aliás, vamos falar de Líbero Luxardo

Cena de nudez e amor num igarapé nos arredores de Belém
Ele completaria 108 anos no próximo dia 5 de novembro. Nascido em Sorocaba, veio para Belém onde faleceu também em novembro, dia 2, em 1980. Fica logo aqui a sugestão de mais sessões sobre a sua obra,  neste novo cineclube de Belém, situado na histórica Cidade Velha. 

Em 2008, o cineasta foram feitas homenagens pelo seu centenário de nascimento, numa programação organizada pelo Museu da Imagem e do Som do Pará, que guarda outros de seus filmes, alguns deles precisando urgentemente de restauro.

Um ano antes, em 2007, a partir do Programa de Restauro Cinemateca Brasileira – Petrobrás -, foram restaurados “Um Dia Qualquer” (1965) e “Marajó Barreira do Mar” (1967), além dos cine-jornais: “Belém 350 Anos” e “Memórias Póstumas de Magalhães Barata”, entregues ao MIS-PA em cópias novas em 16 e 35mm e mais 20 DVDs de cada filme, para acesso e difusão da obra do cineasta. Procurem ver se ainda estão lá pelo MIS, situado em espaço cedido dentro de outro museu de Belém, o MAS – Museu de Arte Sacra.

"Brutos Inocentes"
De sua filmografia se destaca ainda “Um Diamante e Cinco Balas” (1968), filme que infelizmente encontra-se perdido, um mistério rodeado de especulações e palpites sobre seu paradeiro, como a possibilidade de existir uma cópia fora do Brasil. 

No acervo do Museu da Imagem e do Som Pará restou apenas a trilha sonora deste filme composta pelo maestro Waldemar Henrique. Um trailer foi restaurado e exibido na programação de centenário, em 2008.

Outra obra é “Brutos Inocentes” (1974), realizado com apoio da Embrafilme. O filme é considerado sua maior obra cinematográfica e valeria também uma sessão dele no Cineclube da Casa Velha 226, trazendo ótimas e atuais discussões sobre várias questões existentes até hoje na sociedade brasileira, como o estupro, o trabalho escravo e o fanatismo religioso. 

Não sei em que estado este filme deve estar atualmente, mas a cópia ganhou restauro patrocinado pela secretaria de cultura do Pará, nos anos 1990. Até pouco tempo eu tinha o pôster. Entre os documentários raros de Líbero Luxardo estão Pescadores da Amazônia e “Viagem à Amazônia: Rio Purus”, títulos que podem ser visto on line. Em 2008, no evento de centário, foram exibidas também duas raridades, "Alma do Brasil" (1932), marcando a estreia de Líbero Luxardo na direção de um longa-metragem em parceria com Alexandre Wulfes.

Outra obra que leva sua assinatura, mas na produção, é "Aruanã" (1938), do qual achei duas partes das cinco que foram também parar no universo on line, a outra acesse aqui. Produzido por Líbero Luxardo, o filme mostra uma expedição aventureira em busca do ouro ao longo do rio Araguaia e o enfrentamento com os nativos, além da paixão de uma índia por um branco. Mistura ficção e documentário.

Líbero Luxardo iniciou sua carreira no cinema influenciado pelo seu pai Júlio e o irmão Alfredo aos treze anos de idade. Em suas andanças pelo Brasil, mais especificamente em Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul, realizou também  Aurora do Amor (1930), Novidades Regionais (1932), As Maravilhas de Mato Grosso (1934 - filme inacabado) e Caçando Feras (1936). 

Já como cineasta consagrado chega a Belém em 1939, fazendo amizades com a elite local e importantes políticos, entre eles os governadores Alacid Nunes e Magalhães Barata, este último, de quem foi amigo e cinegrafista oficial chegando a realizar uma série de cine-jornais por todo o Estado pela sua produtora Lux Filmes.

Influenciado por Magalhães Barata, entrou na vida política onde foi eleito deputado  estadual por seguidas vezes. Com o fim da era Barata, Líbero se volta novamente para o cinema. Este foi o período em que mais produziu e dirigiu filmes de ficção no Pará, deixando uma parte preciosa de sua coleção no acervo de películas do Museu da Imagem e do Som do Pará. 

Pipoca e guaraná para as sessões do Barreiro

A entrada para o Cineclube Casa Velha 226 é colaborativa e solidária, pois se pede na porta, mas não é obrigatório, a doação de milho de pipoca e/ou refrigerante, que serão repassados para o projeto Um Cineminha no Quintal, ação independente coordenada por João Cirilo, e que acontece no Barreiro, bairro periférico de Belém. 

A finalidade é “proporcionar projeções de filmes de curtas e longas-metragens a um público que, muitas vezes, não possui acesso às salas de exibição cinematográfica, seja pelo valor elevado de ingresso, seja por falta de tempo ou de interesse de pais e responsáveis no investimento de circunstâncias de lazer e de cultura aos pequenos”, explica Tuma.

As sessões ocorrem sempre no quintal de uma casa do bairro, para onde cadeiras, bancos e assentos são trazidos ao lugar pelo próprio público. Além das exibições, são oferecidos gratuitamente pipoca e refrigerantes para cada pessoa presente, em grande parte crianças e pré-adolescentes. E é aí que a entrada colaborativa da casa Velha, entra.

Voltada, sobretudo, à exibição de produções de animação, a ação envolve a realização de pelo menos duas sessões por edição, de títulos diferentes, sempre a partir das 19h e às 21h, com entrada franca, para um público com média de 20 pessoas por edição. 

Serviço
Cineclube da Casa Velha - Quinta-feira, 13, às 19h. Casa Velha 226 fica na Travessa Gurupá, 226, entre Dr Malcher e Cametá, na Cidade Velha.

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