12.6.17

Boi Pavulagem triunfa em domingo de diversidade

Foram dias intensos, mas fechamos a semana com chave de ouro, ou melhor, com “Olhos de papel de seda e uma estrela na testa”, festejando a cultura popular. Na manhã deste domingo, 11, o Boi Pavulagem concentrou seu batalhão de estrelas, formado por brincantes de todas as idades, crianças, e instrumentistas, homens, mulheres, coisas da diversidade. 

Desde muito cedo, a movimentação já era grande, em frente ao Instituto Arraial do Pavulagem, na Praça dos Estivadores. Já passava de 11 da manhã, quando iniciou o deslocamento do cortejo, que subiu a Av. Presidente Vargas, um trecho percorrido há décadas, em direção à Praça da República.

Um dia memorável para quem acredita na arte como transformação. Vale lembrar que durante a semana, o boizinho veio às redes sociais denunciar a falta de apoio da Prefeitura de Belém e isso causou indignação na população que, aliás, tem sido alvo direto dos cortes à cultura. Depois de quase 30 anos, tendo ao final do cortejo um show aberto em palco montado na Praça da República, este ano, o cortejo do Boi Pavulagem encerrou em frente ao Theatro da Paz, mas a falta de um palco não o impediu nem de sair e nem de brilhar, como talvez se quisesse. E foi lindo de ver.

A chuva veio sim, já passava do meio dia, afinal estamos em Belém do Pará, mas ninguém foi embora, mesmo sem palco, e em meio à praça efervescente, ainda que com as calçadas não acabadas e com tapumes encobrindo seus coretos e o tradicional Bar do Parque, frutos de uma obra que já dura mais de um ano, a chega do cortejo em frente ao Theatro da Paz, foi triunfal. 

A grande roda formada por uma multidão composta por artistas, músicos, brincantes e população fez coro para cantar as músicas e também ecoar: #foratemer #forajatene e #forazenaldo. O sol voltou, secou nossas roupas, o ventou soprou o suor do rosto e o Boi Pavulagem abriu passagem. No próximo domingo tem mais.

É incompreensível que uma ação de ampla aceitação popular seja tratada de forma tão desproporcional pelos gestores públicos, que tão pouco e, na maioria das vezes, nada faz pela cultura popular. Se mesmo com o grande e nacional reconhecimento a ação de décadas do Pavulagem foi ignorada, dá pra imaginar como é com os bois do Guamá, de Icoaraci, o carimbo e tudo o mais. 

Poder público X iniciativas independentes

Em Belém do Pará falta política pública para a cultura. Não basta ter uma Lei de Incentivo, que é apenas uma ferramenta, envolvendo empresariado local e, ainda assim, sabemos, a Lei Tó Teixeira possui falhas na sua execução e muitas reclamações em cortes nos projetos inscritos, sem haver justificativa.

A omissão e a falta de entendimento entre os órgãos responsáveis pela cultura e organização dos espaços públicos, como as praças, ficaram mais evidentes ainda, quando a prefeitura soltou uma nota em resposta à postagem do Boi Pavulagem, dizendo que os responsáveis não tinham solicitado nenhum apoio oficialmente. O Instituto Arraial do Pavulagem respondeu.

“O couro do Boi Azul é tecido por juras de livramentos. E para ser livre é preciso carregar a essência da verdade. Em resposta à declaração pública da Prefeitura de Belém, de que não a procuramos para solicitar apoio, publicamos agora o ofício encaminhado.

Ele sequer foi recebido no protocolo, sob a alegação do decreto nº 83.410, de 17 de agosto de 2015, cujo artigo 2º suspende todo e qualquer tipo de auxílio financeiro para realização de eventos relacionados a atividades festivas promovidas por instituições não governamentais. O ofício nº 102/2017, do Instituto Arraial do Pavulagem, foi levado à Prefeitura de Belém no dia 23 de maio e não foi aceito no protocolo. Como podemos ver no anexo, o documento é primeiro aceito e depois recusado”. E não precisou dizer mais nada.

Obra na Praça da República: mais de um ano

Momentos diversos na Praça da República
Assim, o domingo chegou ao som das toadas, cantadas pelas várias vozes que acompanharam o cortejo até a Praça da República, espaço de diversidade incontestável, principalmente aos domingos.

É um ponto de fuga e abrigo para milhares de paraenses ou turistas de passagem. Além do Pavulagem era tanta coisa acontecendo ontem, em meio a materiais de construção, pedras portuguesas reviradas, fazendo monte de gente tropeçar. Tinha sebo de livro, protesto contra a chacina de Pau D'Arco, Pássaro Junino Colibri no Waldemar Henrique, fruto de um projeto deles, apoiado pelo edital do Banco da Amazônia. Entrada franca. 

É bem verdade que um dos trechos de calçamento já está pronto e é lindo de ver. Estou me referindo a um tempo maior que o necessário para uma obra findar e entregar a praça ao publico. O Bar do Parque precisa sair dos tapumes, os garçons e atendentes do quiosque merecem seus empregos de volta.

É na soma que a gente se representa

O Bar do Parque sob tapumes
O Arraial do Pavulagem é uma das iniciativas independentes da sociedade civil. Assim como este exemplo, há vários outros, de tantos segmentos artísticos, e que merecem atenção do poder público. Este, ao contrário do que se vivencia, deveria somar e potencializar o que já tem prontinho.

É na soma e na transparência que qualquer projeto em parceria entre setor privado, público e independente pode florescer. Não se pode travar o diálogo, ele deve fluir, todos ganham. A cidade agradece, o povo aplaude, se diverte e cresce em consciência de seus direitos e deveres. Porque é tão difícil entender isso ou, melhor, colocar isso em prática? Efervescência há, produção artística não falta e vem vindo aí outra semana repleta de ações que vamos acompanhar e contar aqui pra vocês. Sigamos!


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