Um desvelamento poético do abandono é o fio condutor de Imêmores, exposição que o fotógrafo paraense abre neste sábado, 15, na Galeria Virgílio, em São Paulo. A série traz trabalhos desenvolvidos entre 2013 e 2019, composta por cinco eixos: docs, voos, móbeis, cidades e margens, o último, ainda inédito.
A primeira subsérie a ser fotografada foi Imêmores (docs), a partir da inspiração de uma pauta de Alberto Bitar como repórter fotográfico, porém foi Imêmores (voos) que estreou em exposição, em 2014/15, e que fortaleceu o conceito do trabalho. É a primeira vez que o artista reúne obras de todas as séries produzidas até o momento. A curadoria é de Mariano Klautau Filho, fotógrafo e pesquisador com quem Alberto tem uma grande afinidade, de longa data.
Sobre Imêmores, Mariano comenta: “Creio que o que conecta as séries é um aparente ‘estado de repouso’ dos objetos que ele escolheu para fotografar: documentos, automóveis, edificações, barcos, aviões e elementos naturais. Essa aparência, que é da natureza da visibilidade que a fotografia nos oferece, nos leva para um limite silencioso entre uma certa placidez dissimulada pelo rigor e equilíbrio com que ele fotografa e um mergulho um pouco mais fundo e inquieto na observação sobre o que esses lugares e objetos falam, de fato, no discurso que ele construiu com as imagens.”
A série traz ecos de outros momentos da carreira de Alberto. Segundo ele, trabalhos relacionados à memória, como Efêmera Paisagem e Sobre o Vazio, já indicavam o caminho para Imêmores. O movimento também é um aspecto que já vinha presente na abordagem do artista. Ele pontua:
“Desde o início da minha trajetória, a captura do movimento na fotografia fixa era algo que me atraía, que buscava, e usei e ainda uso bastante, como nas séries Passageiro e Corte Seco. A partir de 2002, comecei a ver esse movimento acontecer de fato utilizando fotografias fixas no suporte do vídeo. E agora, em Imêmores, penso nesse movimento de uma outra forma, não um deslocamento no espaço, mas o deslocamento no tempo. As imagens dessa série, quase que totalmente, parecem fixas mas trazem signos e marcas dessa transposição na linha do tempo.”
Um pouco destes outros trabalhos poderá ser conferido pelo público nos livros que estarão disponíveis para a venda durante a exposição. Além de Efêmera Paisagem, Corte Seco e Sobre o Vazio, haverá exemplares de Súbita Vertigem e de Imêmores (voos) – primeiro de uma coleção de publicações prevista sobre a série que estará em exibição na Galeria Virgílio.
O olhar atravessado por referências afetivas, a contemplação do que foi esquecido, entre o registro e a ficção, em certa atmosfera melancólica, ainda pode se voltar para muitos assuntos e Alberto Bitar deve seguir expandindo Imêmores.
Como observa Mariano Klautau Filho acerca do que é instigante e comum aos direcionamentos temáticos da série, “o que move o artista e é capaz de inquietar o espectador é o fato de todos terem sido colocados em uma mesma narrativa e conformação plástica e convocarem outros aspectos da condição de documento, entre vestígio de memória pessoal, restos de uma cultura, pedaços de uma história coletiva, perdas afetivas irreversíveis ou ainda o enfrentamento do artista (nos confrontando com as nossas perdas) com as passagens do tempo, passado e futuro”.
Formado em Administração de Empresas pela Universidade da Amazônia em 1995, Alberto Bitar iniciou na fotografia em 1991, ano em que passou pelas oficinas de fotografia da Associação Fotoativa, e desde 1992 desenvolve ensaios pessoais. Foi selecionado em 1996 pelo projeto Antarctica Artes com a Folha, mapeamento da produção de jovens artistas do Brasil. No mesmo ano, começou a fotografar para um jornal de grande circulação em Belém, onde permaneceu até 2001.
Realizou as exposições individuais Solitude (1994), Hecate (1997), Passageiro (2005) – com que integrou a programação oficial do 7° Mês Internacional da Fotografia de São Paulo –, Efêmera Paisagem (2009/2011), Sobre o Vazio (2011), Corte Seco (2013 em Belém e 2015 em Porto Alegre) com estas duas recebeu o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte, e ainda Imêmores (voos) (2014), Súbita Vertigem (2015), a retrospectiva Fluxo (2016), Imêmores (docs) (2016/17), Flux (em Durban-Corbiere em 2017) e Timeline (2019).
Tem participado de mostras coletivas no Brasil e exterior, como Evocaciones – mostra de videoarte em Art Lima (Perú), Neblina: A Fotografia no Acervo do MACRS, Usina do Gasômetro (RS), Coleção Itaú de Fotografia Brasileira (Rio de Janeiro e Belém), Salão Internacional de Fotografia Abelardo Rodrigues Antes - Havana/Cuba, Festival Internacional de Curtas de São Paulo, Desidentidad, no Instituto Valenciano de Arte Moderno, na Espanha, e Une Certaine Amazonie, em Paris, dentre outras.
Alberto Bitar (centro) na mostra que esteve na Kamara Kó
Galçeria, em Belém (Foto: Cláudio Ferreira)
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Participou do Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural em 2009, Panorama da Arte Brasileira em 2011. Em 2012 foi convidado para a 30ª Bienal Internacional de São Paulo – A iminência das poéticas e em 2015 para a 10ª Bienal do Mercosul – Mensagens de uma nova América.
Tem obras em acervos como o da Coleção Pirelli/MASP, Museu de Arte Contemporânea da USP - MAC/USP, MAC/RS - MAC Rio Grande do Sul, Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM da Bahia, Museu de Arte do Rio - MAR, Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Rômulo Maiorana, Coleção de Fotografias da FNAC/SP, Coleção de Fotografias do Itaú Cultural, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Museu da UFPA, Sistema Integrado de Museus do Pará e Museu de Arte Brasil Estados Unidos.
Serviço
Exposição individual Imêmores ( ), de Alberto Bitar, com curadoria de Mariano Klautau Filho, de 15 de junho a 17 de julho, na Galeria Virgílio, em São Paulo (Rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto 426). Informações: (11) 3062.7339 e galeriavirgilio.com.br.
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