Zélia Amador de Deus
Foto: Holofote Virtual/Luciana Medeiros
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Palco do Theatro da Paz. Dia 22 de abril de 2019. Pela primeira vez uma coletiva da Secult foi realizada neste espaço do monumental e centenário teatro, ao invés do hall de entrada. E o assunto não era o Festival de Ópera. Cheguei um pouco atrasada e me deparei com Zélia Amador de Deus, sem entender muito bem o que minha ex-professora de Teoria do Teatro, na época em que cursava Comunicação na UFPA, fazia ali.
Imediatamente, memórias ótimas vieram à minha cabeça, enquanto Úrsula Vidal, também jornalista e hoje secretária de cultura do estado, falava aos demais comunicadores sobre a 23ª Feira Pan Amazônica do Livro, que vai ser realizada este ano de 24 de agosto à 1º de setembro no Hangar Centro de Convenções da Amazônia e outros espaços em Belém.
Zélia com Júnior Soares, Úrsula e Paes Loureiro.
Foto: Joyce Cursino/Secult
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No dia da coletiva, o Holofote Virtual postou uma nota na página do facebook, com foto dela ao lado do poeta, professor e escritor João de Jesus Paes Loureiro, que também será homenageado nesta edição da Feira (e também conversei com ele, prometo publicar em breve). Uma avalanche de pessoas curtiram a notícia, compartilharam e postaram comentários. As mensagens foram emocionadas, aprovando ambas as homenagens, reconhecendo-as como legítimas e necessárias.
ENTREVISTA
Um bom domingo a todos!
ENTREVISTA
Um bom domingo a todos!
|Foto: Joyce Cursino |
Eu disse, “mas eu? Eu não sou escritora”, vai ser você e o João de Jesus, “mas João é, eu não, eu sou faladeira, sou militante, a minha tarefa de militante me leva a falar, falar, então eu sou muito mais faladeira” (e disseram), mas essa que vai ser a característica este ano da feira do livro, homenagear as multivozes, as múltiplas vozes que existem na sociedade amazônica. Aí eu digo “então vamos lá”, e quando eu estava indo para a primeira reunião me instigam a publicar um livro, aí pegou né?
Holofote Virtual: Acho que você já devia, na verdade, ter organizado um livro, pois tem uma produção textual importante ...
Zélia Amador de Deus: Bem, eu tenho muitos artigos, vou reunir pra organizar um livro, porque não dava mais tempo, de agora para daqui a um pouco escrever um livro, a não ser que eu só fizesse isso na vida e não é o caso, eu tenho uma vida muito intensa, eu dou aula, eu falo, falo, falo, dou palestras, enfim... e eu escrevo também, mas falo sempre muito mais do que escrevo. Bom, então é isso, o livro vai sair, eu não sei o que é ainda.
Equipe Secult. Coletiva Pan Amazônica do Livro
Foto: Joyce Cursino/Secult
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Zélia Amador de Deus: Sim, eu estou fazendo a curadoria, tem uma pessoa me ajudando, enfim... já combinei com uma outra pessoa para fazer um prefacio. E vai sair.
Holofote Virtual: Você tem protagonismo em várias áreas de movimentos sociais, movimento negro e também tem o teatro na tua vida...
Zélia Amador de Deus: É verdade. Acho que o teatro está sempre na minha vida, a minha forma de escrever, ela é teatral também, então isso vai estar presente no livro com certeza, a estrutura, a organização dos textos, eu estou sempre pensando nas cenas.
Holofote Virtual: Nesse momento Zélia, como está a tua atuação na universidade, o que você está desenvolvendo?
Zélia Amador de Deus: nesse momento estou implantando e coordenando uma assessoria da administração atual. É a Assessoria da Diversidade e Inclusão Social. A universidade hoje é diferente da universidade de alguns anos atrás. A partir das cotas para negros, a UFPA vivencia a presença de homens e mulheres negros. Estes não são mais as “exceções” que fogem a regra. Antes a regra geral era a ausência, hoje a universidade foi além das cotas para negras e negros e teve muitos avanços.
Zélia Amador de Deus: As cotas para negros, negras e pessoas pobres, que é cota de classe também, já estão previstas no Projeto de Lei, mas a universidade hoje possui uns projetos especiais para ampliar essa diversidade, então ela tem reserva de vagas para indígenas e quilombolas, ela tem educação no campo, que ela recebe camponeses, ela tem o etno desenvolvimento, porque além de receber o indígena e o quilombola, ela recebe também os ribeirinhos.
Zélia posando para a imprensa
Foto: Holofote Virtual/Luciana Medeiros
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Zélia Amador de Deus: Essa esfera internacional ela sempre teve, mas é verdade que só não fazia com os países africanos, o que de um determinado momento, por pressão do grupo de estudos afro-amazônicos, a universidade criou a casa Brasil África, que é um local que faz esta conexão com o continente africano, e não só com o continente africano, mas também com a diáspora no continente americano. O Brasil é resultado disso, a presença negra e africana aqui em nosso país é resultado dessa diáspora africana no continente americano.
Holofote Virtual: Como funciona a assessoria que você está agora empenhada em desenvolver na UFPA e que relevância isso traz à sociedade?
Zélia Amador de Deus: Então, como eu dizia, eu trabalho, e estou montando a Assessoria da Diversidade Social e Inclusão Social, para atender de alguma forma as demandas dos grupos que historicamente estavam de fora da universidade. Essa é a minha militância, lutar contra o racismo, então funciona em você trazer grupos que estavam historicamente fora da academia, para dentro da academia.
E isso é importante, não apenas para pessoa que vem para a universidade e que tem a oportunidade de ter um diploma de nível superior, isso é pouco. Isso é importante para os grupos na sociedade, e muito mais importante para a universidade, que amplia o seu horizonte de conhecimento, pois ela vai ter conhecimento produzido a partir de diversas cosmovisões, de diversas leituras de mundo e realidade. Assim, a universidade amplia as suas linhas epistemológicas, tu vais trazer pra cena, Epistemes que estavam à margem.
Holofote Virtual: E fazendo um paralelo com a feira do livro este ano me parece que tem uma proposta próxima a isso, essa questão das multivozes, estou certa?
Zélia Amador de Deus: É isso que a feira está tentando fazer... e eu acho importante que todas as políticas públicas que aconteçam, tenham esse viés, que é tentar alcançar a sociedade na sua diversidade, porque a sociedade é muito mais do que aquilo que ela se permite mostrar. O que é mostrado é apenas uma parte, mas isso é muito mais amplo, e o que não é mostrado é o meu trabalho em fazer com que venha à tona. Eu faço disso a minha militância e vida inteira. Eu luto para que aquilo que não é mostrado ou que é colocado por debaixo do pano, tornado invisível, aquilo que a sociedade quer esquecer, venha pra cena.
Holofote Virtual: Que maravilha, professora. Grata!
Holofote Virtual: Que maravilha, professora. Grata!
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