Fotos: Rogério Folha |
Em 2013, Renato Torres e Carol Magno se encontraram e se tornaram parceiros na arte e na vida. Desde então passaram a realizar diversos projetos que tiveram como embrião o que agora se materializa em "Cantos de Encantaria", fruto de um processo longo, denso, repleto de intuição e alumbramento, criação e escuta na e da natureza; e que agora pode ser compartilhado com o mundo.
"Esse é o nosso primeiro projeto juntos, temos os espetáculos, performances, mas esse trabalho é como se fosse o projeto mãe de todos os outros. Tudo começou de forma natural, a partir dos lugares que a gente ia e vivenciava algumas experiências que nos levaram a compor. E com o tempo, isso ganhou uma linguagem própria, uma cara. Ele fala, por meio da música, muito das imagens que a gente constrói sobre essa Amazônia, que está na nossa pele, na nossa carne. É uma forma de ver o mundo, de como esse lugar constitui a gente", comenta Carol Magno.
Renato Torres conta que no início foram sendo experimentadas habilidades e possibilidades que eles já possuíam e experimentavam unindo encenação, poemas e música, coisas que eles já gostavam de realizar, até que percebessem que ali havia algo a ser mais precisamente investigado. "A gente percebeu que havia um material falando mais especificamente dessas energias que a gente percebe como influências ou heranças afro indígenas, principalmente no norte amazônico, como a pajelança cabocla, e a maneira como as religiões de matriz africana e a própria espiritualidade indígena funcionam dentro do nosso ethos, nosso modo de viver”, diz o músico.
O projeto se concretiza, em meio a pandemia, a partir de emenda parlamentar do então Deputado Federal Edmilson Rodrigues. "Esse trabalho me transforma, provoca uma coisa que eu acho muito cara dentro da obra de arte que é a pausa, ele me faz parar para olhar pra dentro, pensar e refletir sobre tudo isso foi vivenciado esses anos, dentro dessas matas e igarapés. A possibilidade de realizar esse trabalho, em plena pandemia, foi algo transformador. Esperamos que aqueles que escutarem o disco consigam sentir o que foi tudo isso, que todos sintam integralmente o que quisemos passar, traduzir", diz Carol.
São ao todo 13 músicas e cada uma tem sua história
Já a canção "Encantado", a segunda canção do álbum, veio de uma experiência em Santa Bárbara, no meio do mato. "Chegamos a um igarapé e fomos seguindo seu leito até nos perceber na mata, num lugar de muita beleza e energia. Paramos num determinado ponto que parecia uma piscina e estávamos com mais um amigo e parceiro que compôs conosco a canção", relembra.
O tema que veio ali naquele dia, fala de uma entidade que os acompanhava, algo que tinha a mesma sinuosidade do próprio leito do igarapé, como se fosse alguém que se transformava em cobra. "Este alguém invisível a andar pela mata observa esse canto e me sopra as palavras", diz a letra. "E assim percebemos que essas canções tinham uma conexão ou materializam essa conexão que estávamos, os três, ali sentindo”, diz o músico.
Para ele, viver em Belém e frequentar os demais municípios paraenses, os possibilitou adentrar na mata para ouvir com profundidade seus sons e formas de vida. Essa foi a chave de tudo, pois lhes permitiu vivenciar junto às comunidades e moradores de cada lugar todas essas situações de ancestralidade e conexão com a natureza. "Várias canções começaram a brotar nestas visitas, em que iam surgindo temas de orixás e outros que simplesmente tratavam de reverberações e vibrações que sentíamos nos lugares e não sabíamos nomear", continua Renato, que também possui um trabalho de produção musical para o teatro e de participação e criação de diversas bandas da cidade.
Não há caráter religioso, mas essa obra nos religa à natureza
Para o coletivo, essa ancestralidade afro indígena é algo que torna especiais as pessoas que vivem nesta região, mas é também uma tradição musical que já existe no Brasil. "Não estamos inventando nada, há muitas pessoas e compositores fazendo esse tipo de trabalho, se conectando com essa energia. Nosso diferencial é que também estamos conectados a um tripé formado pelo teatro, a poesia e a música", segue Renato.
Carol comenta que o disco que está sendo entregue esta semana, vem sendo maturado há algum tempo, com parceiros que somam no Coletivo Mergulho. "Cada pessoa que nos agregamos, e com muitas delas sonhamos e convidamos para contribuir com essa identidade amazônica que temos, que entendemos como esse lugar abundante, de natureza, espiritual, de força e energia", continua a artista, que além de artista-articuladora do Coletivo Mergulho, possui uma vasta produção acadêmica. É Mestra em Artes pelo Instituto de Ciências da Arte pela UFPA, tendo lançado em 2016, o livro "Feminino à queima roupa".
E assim, nesta nova produção do coletivo, há participações de músicos como Jade Guilhon, Katarina Chaves, Camila Barbalho, Armando de Mendonça, João Paulo Pires, JP Cavalcante, Marcelo Ramos, Tista Lima, Príamo Brandão, Rodrigo Ferreira e Paulo Borges. O disco sai pelo selo carioca Labidad Produções, com apoio também da UFPA, via Fundação de Amparo e Desenvolvimento à Pesquisa - Fadesp e Faculdade de Comunicação.
"Esse trabalho recebeu recursos de emenda parlamentar e somos muito gratos a todos que nos apoiaram, como Inês Silveira, que foi assessora de Edmilson quando deputado federal; e a professora Ana Prado, da Facom que foi quem coordenou o projeto, pela universidade", finaliza Renato.
Ficha Técnica
Produzido e dirigido por Renato Torres e Carol MagnoArranjos de Renato Torres e Carol Magno com a colaboração dos músicos
Pinturas da capa e encarte: Maurício Franco
Projeto gráfico: Eliane Moura
Fotos: Rogério Folha
Maquiagem: Cristina Pessôa
Cantos de Encantaria:
Carol Magno: voz, vocais
Renato Torres: voz, violão, ukulele e vocai
Assessoria de imprensa: Dani Franco
Jade Guilhon: viola (Lamento da Mãe D’água, Mergulho, Oxum e Oxóssi, Riozinho);
Katarina Chaves: percussão (Baia Morena, Cachoeira dos Pretos, Canto Pra Mãe do Mar, Minha Mãe, Riozinho);
Camila Barbalho: baixo elétrico (Chuva);
Armando de Mendonça: violino (Jurunaldeia, Mergulho, Minha Mãe, Oxum e Oxóssi, Riozinho);
João Paulo Pires: percussão (Canção Cigana, Chuva, Jurunaldeia, Maré Cheia, Lamento da Mãe D’água);
JP Cavalcante: percussão (Encantado, Oxum e Oxóssi, Mergulho);
Marcelo Ramos: violão 7 cordas (Baia Morena, Canto Pra Mãe do Mar);
Tista Lima: sanfona (Canção Cigana);
Príamo Brandão: baixo acústico (Cachoeira dos Pretos);
Rodrigo Ferreira: teclados (Maré Cheia);
Paulo Borges: flauta transversal (Chuva).
Serviço
Lançamento do álbum “Cantos de Encantaria” do Coletivo Mergulho. Nesta quinta-feira, 15 de julho de 2021. Nas plataformas Deezer, Spotify e Apple Music e nas redes sociais do @coletivomergulho (Instagram e Facebook) e em breve na Loja Ná Figueredo. O disco foi gravado, mixado e masterizado no Guamundo Home Studio, por Renato Torres, com realização do Coletivo Mergulho, e produção da Reator Cultural Socioambiental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário