Para esse trabalho "Voo do carapanã" ensaiamos em torno de 6 meses em busca de uma nova sonoridade, caminhos sonoros, formas de tocar, dinâmicas diferentes. Nosso resultado foi muito satisfatório em função do respeito e admiração mútuos que rolam entre nós. Assim, a reunião de duas gerações da música instrumental paraense a minha e a do baterista César Augusto (Gugu), quase cinquentões, com dois meninos os irmãos Willian Jardim, 18, e Wesley Jardim, 20, talentos que estão em plena ascensão no cenário musical paraense.
Gileno Foinquinos: Acompanho os irmãos Wesley e William desde que são crianças, sempre frequentaram minha casa em Belém. Eu e o pai deles o Márcio Jardim somos amigo de longas datas, ele gravou meu primeiro CD de música instrumental o "Cacique Camutá", lançado em 1998 aqui em Belém e sempre estamos trabalhando e gravando juntos.
Trabalhar com eles foi um grande presente pois acompanhar a trajetória deles desde o berço e vê-los tornarem-se grandes pessoas e exímios músicos profissionais não tem preço, só me orgulha e enriquece cada vez mais nossa música.Eles são talentosos refletem a nova geração da música paraense.
Acho muito importante valorizar e reverenciar nossos mestres da música e ao mesmo tempo oportunizar novos talentosos produzidos no Pará, passando conhecimentos, direcionando, fomentando o conhecimento e saberes culturais locais e concebendo a música como chave também de transformação social. Foi com essa concepção inovadora de agregar duas gerações da música e valorização dos ritmos regionais que desenvolvi o Voo do carapanã sob minha direção musical, produzido e gravado em Belém.
Holofote Virtual: A música instrumental paraense, aliás, tem uma história. Desde quando você se interessou por esse tipo de composição?
Foto: Renata Sobral |
Nos anos 90, acompanhei o frenesi pelo qual passou a música instrumental paraense onde as praças da cidade ficavam lotadas por conta das várias apresentações que ocorriam pautadas nesse estilo de música. Em 1994, integrei a banda Amazônia Jazz Band e outras bandas de música instrumental muito ativas naquela época, as bandas Pandora e Estado de Espírito, grupos importantes na medida em que incentivaram a propagação da música instrumental pela cidade.
Belém é realmente uma fonte de grandes talentos. É incrível a nossa riqueza e versatilidade cultural, o poder de criação de música em todos os estilos: brega, carimbó, guitarrada, música popular paraense e nesse caldeirão sonoro temos também a música instrumental.
Holofote Virtual: Soube que você se inspirou em um estudo sobre o carapanã, para compor a faixa título. É isso? E o que exatamente imprimiu no disco?
Foto: Wesley Jardim |
Neste sentido, considero o Voo do carapanã uma composição-desafio pois ao longo de muito tempo venho estudando-a para executá-la com primazia e sem escorregar no dedilhado, ela começa lenta, mas depois termina literalmente voando fazendo alusão ao voo rápido e frenético do carapanã.
Holofote Virtual: A pandemia trouxe dificuldades e também abriu algumas portas no mundo digital. Como tem sido a difusão do disco, tens feito apresentações? Você acredita que esse ano as coisas melhorem, no que diz respeito ao trabalho presencial dos músicos?
Gileno Foinquinos: Confesso que não era muito adepto do mundo digital mas foi uma porta que se abriu, é fundamental usar as ferramentas digitais, precisamos nos reinventar pois essas alterações no mundo digital e expansão midiática vieram para ficar e são importantes para que o artista divulgue seu trabalho e alcance cada vez mais público.
Aderi aos novos formatos de apresentações musicais nos meios digitais e estou assimilando essa nova forma de fazer música. Entendo que o retorno presencial dos shows vai demorar um pouco mas é importante perceber que a vacinação está avançando e alcançando cada vez mais pessoas, isso nos enche de esperança para que possamos voltar também a fazer shows presenciais e sentir a interação e energia do público.
Holofote Virtual: Você tocou e ainda toca com grandes músicos, paraenses e também nacionais. E conseguiu se estabelecer fora daqui vivendo de música. Conta um pouco dessa trajetória, o que foi mais difícil e como foi que rolaram os primeiros contatos com esse universo profissional, a partir de São Paulo.
Foto: Divulgação |
Sabemos que o estilo instrumental não era uma vertente muito comercial então precisava trabalhar em diferentes frentes até me inserir e firmar meu trabalho autoral. Aos poucos fui estabelecendo uma rede de amizades muito importante, conheci depois grandes nomes da música paulistana como Bocato, Nailor Proveta. Conheci um grande baixista Rubem Farias, aí ele montou um grupo de música instrumental Funk Brasil.
Depois conheci o grande maestro Josoé Polia que convidou-me para participar da Orquestra de música Afro-brasileira (FILAFRO) e então não parei mais, pois depois que a gente se insere as pessoas vão nos conhecendo pelo nosso trabalho, profissionalismo e vamos conquistando credibilidade. Atualmente sou guitarrista da Banda Silibrina comandada pelo pianista Gabriel Nóbrega. Fiquei muito contente com o convite para integrar essa banda que é super respeitada no cenário musical brasileiro, é uma super responsabilidade que requer muita dedicação e uma carga horária de estudos diários.
Holofote Virtual: Você é de Cametá, terra, por excelência, cultural e diversa, e onde também nasceu Cupijó. Você costuma se inspirar na região em suas composições?
Foto: Divulgação |
Holofote Virtual: Quais os planos para esse segundo semestre, vai ter clipe desse novo trabalho, há uma agenda prevista?
Gileno Foinquinos: O segundo semestre está repleto de projetos. Em setembro já está previsto show de gravação do DVD do Voo do Carapanã no Teatro Waldemar Henrique. Estou desenvolvendo projetos culturais por meio de editais em São Paulo. Inclusive fiz recentemente temporada de música instrumental que está disponível no meu canal do Youtube.
Estou trabalhando em meu novo single chamado Desengano, um zouk, componho em diferentes estilos. Tenho parceria com grandes poetas aqui da cidade de Belém, o Dudu Neves e o Jorge Andrade, participamos com nossas composições de vários festivais de música pelo Brasil. Assim estou sempre na conexão Cametá/Belém/São Paulo, pesquisando, compondo e tocando Brasil afora.
Para acompanhar as novidades:
https://www.gilenoguitarra.com.br
Para ver mais:
Nenhum comentário:
Postar um comentário