13.7.21

O Balanço do Rock nas ondas sonoras de um livro

Lançado recentemente pela Funtelpa, junto à celebração, o livro do Balanço do Rock contou com série de três programas especiais transmitidos pelo canal de Youtube do Portal Cultura. O último vai ao ar às 20h desta terça-feira, 13 de julho, claro, no Dia do Rock.

Há umas duas semanas chegou aqui em casa pelas mãos do baterista Carlos Canhão Brito (atualmente da banda Puget Blues, ex- A Euterpia entre outros grupos e projetos musicais), o livro "Balanço do Rock - a mais tribal de todas as festas", que comemora os 30 anos desse programa criado na Rádio Cultura do Pará. Ainda estou terminando de ler o livro, mas na data de hoje, impossível te-lo em mãos e não gerar o conteúdo de hoje aqui no blog. 

A narrativa é do jornalista Vladimir Cunha, que viveu e aborda as três décadas de história do programa, passeia por histórias diversas envolvendo as bandas, ensaios e tantos outros desdobramentos vinculados direta ou indiretamente ao programa Balaço do Rock. Leitura fluída e lembranças a flor da pele, para quem também viveu aquela época. Informativa e interessante pra quem chegou depois.

Para quem já leu Decibéis sob Mangueiras, do Ismael Machado, que se tornou um clássico sobre os rock paraense dos anos 1980 e inicio dos anos 1990, ler o "Balanço do Rock" se faz recomendado, pois é complemento com novidades. Traz visões e depoimentos de momentos retratados nas duas obras. Já se passaram 30 anos, mas em alguns dos pontos mais impactantes dessa história, as reflexões são catárticas. É o caso da fatídica noite do 3o Rock 24 horas. 

Eu estava lá e quando chegamos a Jolly Jocker estava no palco, mas a tensão já era grande nos arredores. Um anjo deve ter sussurrado em nossos ouvidos e saímos dali para dar um rolê e voltar depois, mas não houve depois. E não foi fácil ressurgir dos escombros deixados pelo incidente. A maior violência, porém, foi feita contra o rock que se tornou o único culpado de tudo aquilo. O peso do mundo caiu sob nossas costas, que ainda éramos tão jovens. E se tudo tivesse dado certo o Ismael e o Vlad estariam contando uma história bem diferente sobre a nossa cena rock, mas chega de lamentos.

Contextualizado o sentimento de liberdade que aflorava no país com a abertura política e tudo que houve depois nesta década, a introdução do jornalista e produtor Marcelo Damaso (Se Rasgum) é um convite para mergulharmos no texto que vem a seguir, retomando passo a passo os anos marcantes da virada dos anos 1980 para os da década de 1990. A capa do livro, assinada por Bina Jares, é inspirada numa Fita K7, algo marcante para o programa, como vocês lerão nas páginas desse livro, apresentado pelo atual presidente da Funtelpa, o radialista Hilbert Pinho Nascimento. 

Acho que todo mundo que o ler, aliás, sendo daquela geração, vai também fazer uma longa viagem até chegar aqui e se olhar, 30 anos depois. Em 80, assim como muita gente que se identificava com a música brasileira e o rock nacional, a rádio era sinônimo de diversão. Pré-adolescente, eu gravava e transcrevia as letras das canções que eu ouvia em alguns programas, e comecei, assim que tive recursos, a comprar vinis. Acabei indo pro Rock in Rio na metade da década. No Rio de Janeiro, não se falava em outra coisa que não fosse rock ou Circo Voador. 

Em Belém, ia-se ao La Cage (uma história que precisa ser contada pelos DJs) e aos shows dos grandes nomes da cena roqueira do Brasil, na Escola de Educação Física. Entre outros, vi Paralamas, Cazuza, Biquini Cavadão, Legião Urbana e Lobão (arghh, dá até raiva de cita-lo, mas tá na história, assim como a cena patética dele na Avenida Paulista pedindo a volta da Ditadura) e Rita Lee, mas também cheguei a ver As Mercenárias. O Vlad descreve muito bem todo esse cenário local, da galera que tava na rua fazendo e acontecendo. Lembrei que de vez em quando eu caía numa festinha de apê, onde para entrar tínhamos que ter senha, hahaha. Eu geralmente saía do lendário Bar 3 x 4 já com quem sabia mais do que eu das coisas. 

Estávamos em 1989 e eu já cursava o segundo ano de comunicação social, com uma queda irreversível  pelo jornalismo cultural. No ano seguinte, estava chegando à Funtelpa, mais especificamente à discoteca da Rádio Cultura, onde me abracei com muitos vinis. Na programação da radio, estavam Mariano Klautau, Beto Fares, Toni Soares, Luizão e outros que, não só nos apresentavam as novidades musicais de fora do circuito comercial, como também articulavam shows de Arrigo Barnabé, Dulce Quental e Ney Lisboa em Belém. 

Fim dos anos 1980 e o início do Balanço

Os anos 80 se foram e na década seguinte, Felipe Gilet e Marcelo Ferreira criavam o Balanço do Rock, programa que foi se firmando na medida em que compreendia que, para virar tendência era preciso ser autoral, e para ser autoral, precisava trazer seus protagonistas também para dentro da estrutura da rádio. E isso tudo aliado a profissionalismo e coragem, já que o rock não é o estilo que se aceita numa sociedade tacanha. 

As bandas sonhavam em gravar e ter videoclipe na MTV, e eu tinha voltado a trabalhar na Funtelpa, em 1992. Dois anos depois comecei minha jornada, também na redação do Diário do Pará, no Caderno de Cultura, vi nascer a ideia do Caderno Animal. Era frequentadora de carteirinha do Go Fish, onde vi ser construída e realizada a primeira Feira Mix e o movimento Drag Queem pioneiro de Belém. Eram várias cenas, além do rock, mas isso gera outro livro.

Não há espaço para saudosismo, mas é curioso e importante lembrar que não havia celular, mas sim, o conhecido Bip e as secretárias eletrônicas para nos comunicar. Tínhamos mais tempo uns para os outros, tipo presencial. Não havia selfies, mas tenho fotos em película e posso provar que estava lá. Nem sonhava que existiria a Internet como a conhecemos hoje, nem que estaria escrevendo sobre isso num blog, só pra dizer pra vocês que a história é igual ao rock, se faz vivendo de verdade e se está sempre disposto a virar o jogo!  

Leiam Balanço do Rock ouçam as bandas do tempo de vocês, conheçam as que vieram antes, gerem a nova cena e os roqueiros que queremos. Vivam o rock todos os dias! Tô pensando aqui que Vavá e Edidinho estão ouvindo, hoje, um som celestial. E que essa pandemia vai passar, os facistas vão cair, estejamos prontos, produzindo e mais concientes de tudo, principalmente politicamente. 

Para se inspirar, vejam logo mais o programa especial de 30 anos do Balanço do Rock que hoje (13), às 20h, recebe a banda Klitores Kaos, banda de Hardcore/punk/crust Feminista e Antiracista, formada em 2015 em Belém do Pará. Deixo aqui os parabéns ao Balanço do Rock, que estará ao vivo, pelo canal de Youtube do Portal Cultura, com apresentação de Raul Bentes, que comanda o programa em todas as noites de quarta-feira, na Rádio e Portal Cultura. 

Canal Portal Cultura

https://www.youtube.com/user/canalportalcultura/featured

Para saber mais:

http://www.portalcultura.com.br/node/54799

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