A polêmica trama de Carlos Correia ganha nova montagem com a Companhia Teatral Nós Outros, sob direção de Hudson Andrade. O público poderá conferir o espetáculo a partir de hoje (15), até o dia 24 de outubro, sempre de quinta à sábado, às 20h, no Porão Cultural da Unipop.
O que aconteceria se a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, a mesma usada em todas as romarias do tradicional Círio, fosse furtada por uma travesti e acabasse dentro do Cine Ópera, um cinema dedicado à exibição de filmes adultos, frequentado por transgêneros, garotos de programa e homens da classe média?
“Ópera Profano”, vencedora de prêmios dentro e fora do Estado, é um drama com atmosfera underground. A segunda e definitiva montagem assinada pela Companhia Teatral Nós Outros, com direção de Hudson Andrade, reestreia em plena quadra nazarena. Para o autor Carlos Correia Santos, que também é autor das músicas (letras e bases melódicas) do espetáculo, essa encenação captura de forma apurada a essência de sua obra.
“Estou muito feliz com a visão do Hudson para o meu texto. A direção dele, além de respeitar a dramaturgia, manteve a essência dark que ele tem. Conseguimos produzir o que eu sempre quis, que é um espetáculo com tons de ópera rock”, diz Carlos Correia Santos, que também anunciou nas redes sociais que será a última versão autorizada de um texto seu por uma companhia local. A partir de agora ele se dedicará exclusivamente ao seu trabalho com literatura, música – através do selo Versivox – e o Cena Especial, seu projeto de arte inclusiva..
Hudson Andrade, que também já dirigiu outros textos de Santos, como Acorde Margarida, Batista, Uma Flor para Linda Flora e O Assassinato de Machado de Assis, além de assinar a direção cênica dos bem sucedidos Dom Casmurro – O Show e Dom Quixote – O Show, do projeto Romances Tocados e Cantados, tem em Ópera Profano um grande desafio: o de criar por personagens tão controversos e marginais uma empatia capaz de fazer o público se apaixonar por eles.
“Seria muito fácil criar clichês e estereótipos. Vê-se isso aos montes. Mas esses personagens são muito mais do que isso. cada um deles tem uma história que foi abraçada pelos atores e atrizes como sua, misturada as suas realidades e valores. Tornada real”, afirma o diretor.
O amor por Maria, nossa padroeira, também move o elenco. “Ela é nossa mãe. E a maternidade é onipresente nesse espetáculo”, diz Marlene Silva, que interpreta a Misteriosa. Já Nilton Cézar, que promove uma das cenas de nudez do espetáculo, “não é simplesmente tirar a roupa. Todos nós estamos nus em cena, de alma exposta”.
Hudson Andrade, diretor da nova montagem |
Todo o processo de montagem foi calcado no texto original. “Está tudo lá!”, afirma o ator Danilo Monteiro. “E todas as informações adicionais, mais do que por profissionais, foram coletadas das experiências de Ângelos, Lucas e Totas de verdade. Pessoas reais que compartilharam suas vidas conosco”, diz Danilo.
O espetáculo que o público vai conferir a partir desta quinta-feira, 15, tem um caráter muito especial: o envolvimento afetivo. Do elenco com o texto, do público com o espetáculo, do espetáculo com a comunidade LGBT e seus simpatizantes. Existe uma corrente real de simpatia que une todos esses elementos, talvez porque o texto exponha de maneira poética algumas duras mazelas sociais e seus atores, alguns com vidas profundamente arraigadas em conflitos.
Vivenciar essas experiências traz ao público, ao elenco, músicos, aos técnicos e a tantos outros uma verdade. E o Teatro não deixa de ser a expressão da verdade de um tempo, de uma sociedade, seus costumes e anseios.
Ao promover as Quartas Profanas, mesas redondas que ocorreram em julho último no auditório do Sindicato dos Bancários, a sociedade pode se juntar à equipe de criadores de Ópera Profano para entender, discutir e reconhecer direitos e deveres da comunidade LGBT – adoção, reconhecimento civil, etc – mas também as delicadas relações que movem uma estrutura social que deseja sair do seu armário para a integração plena de todos os seus cidadãos. Tudo isso faz de Ópera Profano mais do que um espetáculo, uma experiência.
Ficha técnica
Elenco:
Nilton Cézar (Baby)
Luiz Girard (Mira)
Jadylson de Araújo (Tota)
Danilo Monteiro (Ângelo)
Emmanuel Penna (Lucas)
Marlene Silva (A Misteriosa)
Lady Guimarães (Conselheira)
Felipe Bentes (Conselheiro)
Hudson Andrade (Padrasto)
Fantasmas do Ópera:
Ângelo Silva (arranjos e execução de guitarra)
Pedro Soares (arranjos e execução de baixo)
Andrey Loureiro (Guitarra)
Felipe Saef (violino)
Joselito Oliveira (Preparação vocal e percussão)
Cristian Figueiredo (violão)
Direção e operação de luz: Malu Rabelo
Assistente de produção: Anne Frota
Direção geral, figurinos - com assessoria de Aníbal Pacha -, coreografias e cenografia: Hudson Andrade,
Serviço
Ópera Profano (obra vencedora do Prêmio Literário Cidade de Manaus). Dias 15, 16, 17, 22, 23 e 24 de outubro, às 20h, no Porão Cultural da Unipop (Senador Lemos, 557, entre Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas). Ingressos: R$ 30,00 com meia para estudantes. Apoio: Unipop, Sindifisco, Jotanetto design e Octávio Pessoa. A produção não é recomendada para menores de 18, pois traz cenas de nudez e violência emocional.
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