Produzido por Maurício Panzera (mixagem) e Henry Burnett, e masterizado por Rodrigo Fonseca (Baticum Discos), “Estudos Instrumentais” chega para quebrar uma tradição. O trabalho musical de Henry Burnett é permeado pela palavra. Em parcerias com os poetas Edson Coelho, Paulo Vieira ou Renato Torres, a canção sempre foi privilegiada em sua trajetória. A vida, porém, é essa caixinha de surpresas e descobertas que fazemos sobre nós mesmos e nossos desejos no momentos mais inusitados da vida.
O atual trabalho surge meio que assim, resultado do confinamento vivido durante o ápice da Pandemia, uniu esforços. Cada músico gravou seu instrumento em casa, às vezes captando a partir de celulares. Tudo para desbravar o novo, tecendo desafios que na verdade já estavam superados, mas ainda adormecidos.
“Comecei a compor pequenas peças instrumentais somente no ano passado. Não tenho formação musical, não escrevo música, todos os Estudos nasceram de modo instintivo e nem sei bem qual a fonte desses exercícios sem letra. A verdade é que mostrei alguns deles para o Arthur Alves, violoncelista paraense que mora hoje em Londrina, e foi ele que ouviu o conjunto e percebeu nele uma unidade que eu mesmo não via”, conta Henry.
Feito de forma artesanal, o novo disco não significa que a palavra tenha sido deixada de lado. “Diria que não, já compus dois novos temas que foram compostos depois dos Estudos finalizados, e que estão sendo trabalhados em parceria com o Kareca Braga, guitarrista de Belém que admiro desde a adolescência, e que está trabalhando com eles, algo para mim inimaginável há um ano atrás. Ele, Arthur e todos que estão envolvidos são músicos imensos e pessoas generosas ao meu redor, só posso me sentir profundamente gratificado”, continua.
O processo todo acabou mexendo com o compositor que ano que vem completa 50 anos, sendo que 35 deles, dedicados à música. “É uma atividade diária que me movimenta com grande intensidade”, diz. Ele também acredita que os Estudos são fruto de suas audições diversas das obras de Bill Frisell, Julian Lage, Toninho Horta, Guinga e outros guitarristas mundo afora.
“Somado a isso, um entrosamento maduro com meus instrumentos. Talvez os Estudos sejam fruto desse amadurecimento, mas não é uma transição, não sou um músico propriamente. As canções estarão sempre em pano de fundo de tudo. Só me sinto mais aberto e corajoso para deixar vir à tona esses novos caminhos”, conclui.
Música e Filosofia
Nasceu em Belém, em 1971, onde viveu até os 27 anos. Morou em Campinas, Rio de Janeiro e São Paulo. O trabalho como compositor o fez desenvolver uma identidade musical que resulta dessa vivência e das informações da tradição do cancioneiro popular brasileiro. Henry faz parte de uma geração de compositores que acrescentou alguns novos elementos à tradição da música paraense, principalmente na aproximação desta com a esfera pop.
Lançou o primeiro CD aos 25 anos, Linhas Urbanas (1996) e só 10 anos depois gravou o álbum, Não Para Magoar (2006), com as 12 faixas escritas de próprio punho; letra e música. O disco foi gravado em Belém em dezembro de 2005 e lançado no ano seguinte. Poucas semanas depois de seu lançamento no teatro Margarida Schiwazzappa, em Belém, o álbum foi selecionado pela curadoria musical do SESC São Paulo e lançado no Projeto Prata da Casa, na unidade do SESC Pompéia, em outubro de 2006.
Em 2017, o cantor e compositor lançou “Belém Incidental”, um trabalho com pegada roqueira, produzido pelo músico Fábio Cavalcante, com canções autorais e parcerias com compositores paraenses, como Renato Torres (“Reino”), Paulo Vieira (“Belém de Passagem”, “Entremãos”, “Isso é Viver”, “Oswald Canibal”) e Edson Coelho (“Trem do Samba”). A cantora Sammliz dividiu com ele os vocais de “Isso é Viver”. No dia 12 de outubro, deste 2020, lançou também “Canções da Infância inteira”, com sua filha Júlia, de seis anos, nos vocais junto com ele.
E em 2021, Henry vai lançar dois novos livros, "Espelho musical do mundo", pela editora PHI, resultado da sua tese de livre-docência defendida na Unifesp, onde ele leciona no curso de filosofia" e "Música só", reunião de ensaios e artigos esparsos sobre música que vai ser lançado pelo selo Caliban, da UnB".
Para ouvir Henry Burnett e seus Estudos Instrumentais:
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