Editado pela Invisíveis Produções, “Cartas ao Max”, de Élida Lima, terá bate papo e lançamento em Belém e um na capital paulista. O livro se revela em uma nova crítica literária, feita por meio de cartas, escritas para o poeta paraense, e construído ainda por ensaios, poesias e crônicas, resultado de mais de dez anos de diálogos poéticos da autora com a obra do poeta. Com 36 poemas, o livro tem texto de orelha assinado pelo o amigo de longa
data de Max Martins, e professor da UNAMA/PA, Dr. Paulo Nunes.
As experiências com a escrita de Max levaram a autora à criação de cartas que propiciam trocas filosóficas entre o
poeta paraense e pensadores contemporâneos como Gilles Deleuze, Roland
Barthes, Maurice Blanchot e com ela mesma, o que gerou certo furor no
meio universitário.
O livro ganha um bate papo dia 29, no Hangar, das 17h às 18h, com mediação do poeta Vasco Cavalcante, no
estande da Editora da UFPA, onde haverá também a exposição "Porto Max"
com pertences do acervo de Max Martins. No dia 30, o lançamento será na
Livraria da Fox, às 19h, e no dia 11 de maio, em São Paulo, na Livraria
da Vila, das 15h às 18h.
Max Martins, que parte em 2009, deixando, aos 82 anos de idade, uma obra literária das mais importantes para as letras paraenses, representou a renovação da literatura no século XX e colocou o Pará numa posição de destaque na literatura nacional, embora sua obra ainda seja pouco conhecida.
"Cartas ao Max" foi escrito ao longo de dois anos no Núcleo de Estudos da Subjetividade da PUC/SP, mas está longe do formato acadêmico.
A obra, diferenciada, é um trabalho também da Invisíveis Produções,
editora que traz perfil voltado para processos de criação e
investigação que envolvem arte, ativismo e política. Com sede em sede em
São Paulo, é dirigida pelo artista Daniel Lima.
A pesquisa de Élida se transforma em um livro dentro do livro, convida o leitor para uma leitura singular de sua poesia e é, sobretudo, uma homenagem a um dos maiores poetas da literatura brasileira. A escitora publica o que é, hoje, um dos únicos títulos em livraria onde se reúne a poesia de Max Martins e o estudo da sua obra.
Paraense, escritora, poeta, ensaísta e publicitária, ela é Bacharel em Comunicação pela UNAMA-PA (2005) e Mestre pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade da PUC- SP (2012). Élida também assina o livro de poesia "Voados" (2011), edição da autora, mas "Cartas ao Max" é seu livro de estréia na categoria de crítica literária. A autora conversou com o Holofote Virtual e falou de sua longa jornada percorrendo os caminhos literários traçados pelo poeta.
Foto: André Felício Sobral |
Holofote Virtual: Dez anos de diálogo poético com Max Martins. Conta um pouco desse trajeto...
Élida Lima: Eu narro no livro, para o Max, nas minhas cartas, a forma que o conheci. Eu tinha 14 anos e ele 72, quando fui à sua casa entrevistá-lo para um trabalho do colégio. Antes da entrevista, fizemos uma pesquisa na biblioteca do Centur para conhecer a obra.
Não era permitido tirar xerox, então copiamos à mão os poemas. E aquilo me causou uma estranheza, um desconforto, um interesse, uma fixação, um enigma que permanece comigo até hoje. É por isso que eu digo que são mais de dez anos de diálogo com a poesia de Max Martins, mesmo que esse tenha sido o único contato direto que tivemos.
Holofote Virtual: E como você foi construindo este diálogo?
Élida Lima: Indiretamente em mim, e com várias pessoas à minha volta, começou a se estabelecer um diálogo constante, mesmo quando aparenta mudez, começou a se movimentar uma teia, ou trama, ou complexo de pontes que potencializam o estupor desses poemas, do qual o Vasco então faz parte, não só faz parte, como auxiliou a redescoberta que começou a tomar forma em cartas para o Max.
Vasco, Marcia, Ney, Paulo e todos os hipnotizados pela poesia do Max que se prendem nessa teia, contínua e progressivamente. É o que espero para o livro, é o que as cartas esperam, a captura.
Holofote Virtual: Você reúne criação de cartas, ensaios, poesias e crônicas... O que vamos saber mais sobre Max Martins neste livro?
Élida Lima: Carta, ensaio, crônica, o que está por trás dessas formas de tocar no mundo é a criação, como você bem pontuou no início da pergunta. Um convite para continuar a criar, é isso o que a poesia do Max me pede. Os leitores saberão que o gesto poético de Max Martins é um gesto que pede continuidade.
Holofote Virtual: No release diz que o livro causou furor universitário ao propor uma nova critica ao trabalho do Max. O que houve?
Élida Lima: É inegável que isso aconteceu como tinha que acontecer. Sou muito grata ao Núcleo de Estudos de Subjetividade da PUC-SP, porque é o único lugar em que esse livro poderia ter sido escrito dentro da academia. Um lugar onde se desconfia do rigor metodológico, do azedume filosófico, onde se diz que o próprio fundamento teórico é tóxico.
O que importa para a subjetividade, mais do que supostas ciências, é a criação, a produção de si. O meu orientador, Peter Pál Pelbart, que foi aluno de Deleuze em Sorbonne, me deixou muito livre para escrever as minhas cartas, porque ele logo viu que ali tinha uma criação. Então ele me autorizou a escrever. É essa lição que o livro reitera: "Estás autorizado, a ti é dado um fio, és agora costureiro". É o início do capítulo intitulado Autorização.
Voltando ao furor universitário, sempre que o trabalho tinha que se confrontar, dentro da academia, com outro núcleo que não o da subjetividade, o trabalho era questionado, desaprovado, deslegitimado. "Como assim você não tem fundamento teórico?! O que você está fazendo não é um mestrado?! Você não pode chamar o Max de meu amor!"
Esse tipo de coisa eu tive que escutar dentro da universidade, e escutei com prazer, com o prazer de saber que o que eu estava construindo estava reverberando.
Deleuze diferencia a vontade de potência entre afirmativa e reativa. Então eu diria que o meu livro, por ser afirmativo, teve que enfrentar muita força reativa (adaptativa, conformativa, utilitária). As velhas forças de conservação contra as quais Max Martins insurgiu-se muito cedo com seu "Morra a Academia!".
Foto: André Felício Sobral |
Holofote Virtual: Max Martins ainda é pouco conhecido. Você acredita que este trabalho poderá inserir Max em um contexto nacional do mercado literário?
Élida Lima: Olha, eu espero que não. E eu digo isso nas cartas para o Max, que não seja eu a dar tapinhas nas costas dele.
Por quê? Pelo simples fato de que a poesia dele jamais buscou isso. "Ter uma pessoa no mundo que compreenda o poema." Isso é o que buscava o Max e é isso que meu livro busca: que a compreensão sempre parta de uma singularidade, nunca de uma unanimidade.
Cartas quer fazer de Max o que fazem dele seus poemas: sempre diferente de si mesmo. Mas meu livro tem inserido o Max nos contextos micropolíticos, ou seja, na realidade sensível em constante mudança. Venho espalhado o Max numa escala menor, mas intensiva. Deleuze e Guattari vão afirmar que a experimentação é a estratégia principal da micropolítica.
Antes de qualquer coisa, meu livro, assim como a substância poesia, é um convite à experimentação. Linhas de criação, pulsantes na intensidade vital, que, em seus contágios, "abrem janelas". É aí que quero inserir o Max.
Holofote Virtual: É seu livro de estreia na critica literária. Que outros trabalhos, obras você traz em sua trajetória, quais teus focos de interesse? Você se formou em Comunicação, não foi?
Élida Lima: Trabalhei durante 7 anos como redatora em agências de publicidade, aqui em Belém na Gamma, DC3, Double M, CA. Em certo momento, tive que romper contra a força reativa, adaptativa, utilitária da publicidade em nome da força de criação poética e existencial que tomou forma em Cartas ao Max.
Mas Cartas ao Max é também a minha reconciliação com a publicidade, pois esse furor da minha linguagem vem da escritora, sim, mas também vem da publicitária, daquela que não desperdiça uma linha da atenção do leitor, uma palavra.
Por isso, faço uma crítica literária que é atraente, diferente, sedutora. Só depois de ter escrito, com toda a necessidade possível, as minhas cartas, vi: é crítica literária. E outros me ajudaram a ver mais longe: uma crítica literária intensiva.
Holofote Virtual: Max deixou um grande acervo de livros, esctritos. Você tem notícia do que está sendo feito em relação a isso?
Élida Lima: Não sei muito a esse respeito, aliás, não fica muito às claras para a população o que está sendo feito. Eu assinei a petição pela disponibilização do acervo do poeta à comunidade. No meu entendimento (já houve reportagem sobre isso), o acervo está em posse da UFPA, aguardando catalogação. Adoraria ter acesso, acredito que o contato com este acervo seria disparador de muita coisa em termos de continuidade do gesto poético de Max Martins.
Holofote Virtual: Interessante a editora que lança seu livro. Fala um pouco do trabalho que ela desenvolve. Vale á pena, imagino que muitos poetas, escritores se interessem...
Élida Lima: Invisíveis Produções é uma editora e produtora de São Paulo que trabalha com práticas culturais voltadas para processos de criação e investigação que unem arte, ativismo e política. Cartas ao Max é o primeiro título da editora na Série Literatura. Orgulho-me em dizer que participei no processo de criação do nome da editora e que assino a edição de Cartas ao Max junto com Daniel Lima, artista e diretor da Invisíveis Produções.
A editora opera nos limites das categorias disciplinares, levando elementos de um campo a outro: artes visuais, audiovisual, música, literatura e urbanismo. É como uma política do impossível, uma maneira de (re)conhecer nossa maneira de conhecer.
Holofote Virtual: A orelha é do Paulo Nunes. Assim como ele, você, Vasco, Ney, e outros, há com certeza, mais apaixonados e interessados em estudar a obra do poeta. Já dava pra fazer um simpósio... Ou não?
Élida Lima: Sim, estou mais do que disponível. A ideia do livro é essa: reunir maxmartinianos para reviver um Max.
Um comentário:
Livro belo e necessario feito sal da terrA
:-)
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