A primeira temporada foi um sucesso. Agora, há mais uma chance para ver o musical, que estreou em fevereiro e está de volta em cartaz, de 5 a 7 de abril, no Teatro Cláudio Barradas. A montagem é resultado do trabalho desenvolvido com alunos dos cursos técnicos de teatro e dança da ETDUFPA. Escrito em 1996, o texto de Paulo Faria é uma homenagem ao cantor e compositor Renato Russo, que morreu naquele ano.
“Faroeste Caboclo” está no álbum “Que País é este”, o terceiro da banda Legião Urbana. Depois de dois discos de grande sucesso, a EMI-Odeon fez pressão pra sair o disco seguinte, que trouxe faixas mais pesadas, mas a maioria das músicas foi composta por Renato à época de sua primeira banda, “Aborto Elétrico”.
Alguns críticos consideram esse disco uma primeira coletânea da banda, mas não pra quem morava longe de Brasília. Pará nós, salvo algumas exceções, era tudo inédito, mais um sucesso da Legião Urbana que já era um fenômeno em público e venda.
Ao lado de “Que País é este” e “Angra dos Reis”, “Faroeste Caboclo” era destaque no LP. Virou febre de identidade nacional. E sempre foi muito fácil fechar os olhos e imaginar João de Santo Cristo, projetando na mente as imagens sugeridas na letra. Demorou pra virar cinema. Dirigido por Renné Sampaio, estrelado por Isis Valverde (Maria Lúcia) e Fabrício Boliviera (João de Santo Cristo), o filme estreia nas telonas em maio deste ano.
Enquanto isso, podemos ir curtindo esta história no Teatro. Inspirado na letra original, Paulo Faria, dramaturgo, ator e diretor paraense que vive em São Paulo, desloca a história do protagonista, geograficamente. Ao invés de nordestino, o nosso João vem do Sul do Pará, mas sua saga continua a mesma descrita música. É a história de um brasileiro comum, que deixa sua cidade natal e se muda para a Brasília em busca de uma vida melhor. Lá, ele descobre o amor, mas também encontra a miséria e o crime.
Encenado em Belém à época da primeira montagem, o espetáculo volta aos palcos da cidade, mais de 10 anos depois, em nova concepção e elenco formado por jovens artistas dos cursos técnicos de Ator e Dança da UFPA.
“Essa troca de conhecimentos está sendo uma experiência ímpar.
Na primeira temporada ouvimos, como resposta do público, que não se sabia quem era ator e quem era bailarino na cena. Ouvir isso foi maravilhoso. Sendo assim, acho que nós, bailarinos, conseguimos alcançar nosso objetivo, que era ver esse entrelace onde todos atuam e dançam”, diz a bailarina Larissa Imbiriba, que faz parte do elenco.
No segundo ano do curso técnico de interprete criador da UFPA, ela diz que vê claramente que uma arte complementa a outra e chama atenção para um antigo formato que volta a invadir os palcos em todo o país.
“O crescimento do mercado de musicais no Brasil mostra bem essa realidade. O intérprete criador é o bailarino que participa diretamente da criação e produção do espetáculo e não mais aquele que só recebe a coreografia pronta e reproduz. Já estamos entrando na segunda temporada, mas penso que o trabalho e o aprendizado só tende a crescer. A cada ensaio há nova descoberta e amadurecimento do trabalho. A entrega é maravilhosa e o retorno é melhor ainda”, comemora Larissa.
Allan Jones, alunos do curso técnico de teatro, também se diz muito satisfeito com todo o resultado e elogia a adaptação do texto.
“A dramaturgia de Paulo Faria é simplesmente uma obra prima, ele consegue desenvolver mais ainda uma trama a partir da música Faroeste Caboclo, de Renato Russo, ele cria elos entre personagens. Maria Lúcia passa a ser filha do boiadeiro (que dá a passagem á João para chegar à Brasília). E acrescenta outros, como o meu, o Pedro, por exemplo”, explica o jovem ator Allan Jones.
Para encenar o espetáculo foram meses de ensaios, mas nenhum contato direto com Paulo faria. “Infelizmente não tivemos a oportunidade de conversar ele pessoalmente. Não conhecia sua obra dramatúrgica, mas foi um prazer conhecer. Pedro, meu personagem, não pertence à trama da obra Faroeste Caboclo, mas Paulo faz uma referência direta da vida de João do Santo Cristo com a de Jesus Cristo. Este personagem surge como se fosse um apóstolo de João, assim como se tem a personagem Madalena. Isso é genial”, complementa.
'Um Certo Faroeste Caboclo'' enche de poesia a saga de João de Santo cristo, desde o sofrimento do menino sem-terra que sai de Conceição do Araguaia rumo à tão sonhada cidade grande. A Brasília do rock, dos corruptos, das oportunidades, dos sonhos. A Brasília que transforma o João-menino em homem, levando-o sob traições e desencantos, a um caminho sem volta.
Uma montanha-russa de sentimentos, uma história tecida por ingenuidade, sorte, amores e fraquezas, com a carga sempre presente do rock’n’roll, que embala a vida e os sonhos das personagens, e da violência, que os esmaga com potência arrasadora. O desfecho é uma provocação ferina à indiferença com que observamos a destruição do ser humano, do bem e do amor.
“Interpretar meu personagem foi um trabalho muito intenso e ainda assim prazeroso. Assim que li a obra me apaixonei pelo personagem e logo decidi que era com ele que eu queria trabalhar. Trago comigo a experiência de fazer um espetáculo em grandes proporções e o aprendizado de lhe dar com um público cheio de expectativas, por tratar-se de uma obra baseada em uma música que fez a cabeça de muitas gerações. E principalmente a experiência de ter sido dirigido por Paulo Santana e Marluce Oliveira, que eu tanto admiro”, resume Allan.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Paulo Faria
Direção: Paulo Santana e Marluce Oliveira
Direção Coreográfica: Érica Gomes e Eleonora Leal
Letras: Elizeu Paranhos e Paulo Faria
Música e Arranjo: José Maria Bezerra
Serviço
Na sexta, 05, às 20h. No sábado e domingo, 06 e 07 de abril, em duas sessões, às 18h e 21h. No Teatro Universitário Cláudio Barradas (Jerônimo Pimentel, próx. a D. Romualdo de Seixas, ao lado da Escola de Teatro e Dança da Ufpa). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia).
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