16.10.21

A arte Naïf de Maria José Batista na Galeria Eneida

A pequena mostra evidencia a riqueza poética e valor artístico da artista, em sua potência narrativa de colocar em cena os aspectos cotidianos da vida de brasileiros afrodescendentes. O público pode conferir até dia 31 de outubro, na Galeria Eneida, recentemente inaugurada no Bar De Bubuia, no bairro da Cidade Velha, em Belém do Pará.

Maria José Batista ocupa importante papel na cultura popular brasileira. A linguagem plástica da artista compreende a pintura, objetos, estandartes e até mesmo instalações a partir da reutilização de materiais, como garrafas pet, jornais e tecidos. Os motivos interpretados são as cenas da vida popular, dentro de uma ampla perspectiva social, histórica e cultural, em uma mistura de religiosidade, marginalidade e resistência.

Paraense e autodidata, sua história é de luta e perseverança, tendo na arte o maior estímulo para o crescimento interior e profissional. O interesse pela pintura vem de criança, influenciada pelo pai, artista plástico que a incentivou. A vida, porém, não foi fácil, e ela teve que trabalhar como empregada doméstica para sustentar os filhos. 

A vontade de pintar não desapareceu, nem mesmo nos momentos mais difíceis e desesperadores. Foi quando ela ingressou nos primeiros cursos da Fundação Curro Velho, nos anos 1990, e a esperança de seguir a carreira artística retornou com força capaz de torná-la a artista de hoje, como grande expressão da arte naïf, numa pintura desvinculada da tradição erudita e convencional, e de característica espontânea e popular.

Lembro de suas primeiras exposições em pequenas galerias de Belém, despertando o interesse do circuito artístico da cidade. Assim, ganhou destaque em grandes galerias e hoje, suas obras de traços simples já integraram dezenas de exposições coletivas e individuais, inclusive na Bienal de Arte Naif em Piracicaba – SP, como convidada e com obras adquiridas por colecionadores nacionais e estrangeiros.

De Bubuia com olhos atentos à arte

De Bubuia - Foto Divugação

A Galeria Eneida foi inaugurada oficialmente, no último dia 2, homenageando celebrando a autora dos célebres livros “Cão da Madrugada” (1954), “Aruanda” (1957) e “Banho de Cheiro” (1962). No dia 23 de outubro, será comemorado o aniversário de 118 anos de nascimento de Eneida de Moraes, faleceu no dia 27 de abril de 1971. 

O Bar De Bubuia, lugar de expressão da cultura underground na cidade, presta um tributo à escritora, reestrutura seu espaço para pequenas exposições, nomeando-o “Galeria Eneida”, e contempla, assim, a questão da construção de imagens-memória de Belém e da Amazônia, sempre tão caras à escritora.  

Militante comunista, Eneida se deixou afetar pelo discurso histórico e político e resistiu ao Estado Novo, período no qual foi presa onze vezes. Seu nome também é ligado à boemia e ao carnaval, não sendo estranha às noites intermináveis dos bares e das rodas de samba em Belém, Rio de Janeiro e pelo mundo. E isso também tem a ver com o de Bubuia. Vai lá e confere! 

Serviço

Exposição: Maria José Batista 

Período: de 02 a 31 de outubro, a partir das 19h.

Local: Galeria Eneida, Bar De Bubuia. Rua Rodrigues dos Santos, 210 Cidade Velha.

Curador: Ney Ferraz Paiva

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