Fotos | Tapajazz Belém 2021 Por Sérgio Malcher |
Nestes quase dois anos de pandemia, mais isolado, por necessidade, mas contra a vontade dele, o violonista festejou os 79 anos de forma virtual, assim como viu sua trajetória ser exibida numa exposição em plataforma digital. "Ele acabou se submetendo às 'coisas da tecnologia’ como ele dizia, por entender o alcance que o mundo digital proporciona a ele, que passou a se conectar com as pessoas da Alemanha, da Inglaterra, de Portugal, Japão, que o reverenciavam cada vez que ele se colocava no mundo virtual", diz Carmen Ribas, produtora que realizou inúmeros shows e projetos com Tapajós.
Em agosto, o músico recebeu homenagens no 2ª Tapajazz Mostra Belém, evento que traz um recorte do festival idealizado em Alter do Chão, Santarém. "Esse festival foi idealizado para homenagea-lo. Ele era e continuará sendo seu patrono. Sempre que pensamos em uma edição, Tião tinha reservado um espaço especial", diz o produtor Guilherme Taré. O show no Teatro Margarida Schivasappa, encerrando o evento no dia 14 de agosto tinha uma outra homenagem, à Santarém, que completou 360 anos, terra onde o músico fincou pés para depois alçar vôo.
No palco, Taré, colocou Sebastião Tapajós tocando com o pianista Gilson Peranzzetta, com Badi Assad e Armandinho Macedo, marcando um grande reencontro. Além deles, o músico tocou com Ney Conceição, músico que sempre diz que deve a Sebastião ele ter levado a sério a música na cidade dele; com Nilson Chaves, Alfredo Reis, Lenilson Albuquerque entre tantos outros músicos paraenses, incluindo aí toda a Amazônia Jazz Band.
Foram dias realmente emocionantes, registrados no vídeo disponível no canal de Youtube do Tapajazz Mostra Belém. Todos eles se manifestaram nas redes sociais falando um pouco de seus sentimentos e relação de amizade com Tião. Entre os pontos em comum, a sua generosidade foi uma das qualidades ressaltadas pelos amigos.
“Acho que qualquer pessoa que falar dele, vai falar desse homem generoso, tanto do ponto de vista pessoal, quanto do talento dele, que ele emprestava e com o qual empurrava as pessoas para os palcos, foi isso que ouvi recentemente do (Gilson) Peranzzetta, quando ele esteve no Tapajazz. Ele dizia que foi graças ao empurrão generoso do Sebastião que ele se tornou compositor, solista, concertista e um dos maiores pianistas do Brasil. Gilson dá o crédito por isso ao Tião”, continua Carmen Ribas, com detalhes do próprio Peranzzetta, a seguir.
"Lembro que ensaiamos pra fazer um show, montamos repertório e rumamos para Belém. Eu havia saído de um trabalho de 10 anos com Ivan Lins, no qual eu arranjava mas não era solista. E em Belém fizemos três músicas, mas de repente eu vejo o Sebastião pegando o violão e saindo do palco. Perguntei para onde ele estava indo e ele me disse que ‘agora é tua vez’. Eu disse, mas eu não ensaiei nenhum número solo. Ele me respondeu ‘te vira’. E eu tive que fazer um número solo de piano, devo isso a ele, que agora tá na orquestra lá do céu e lá, vão ter lá que mudar aquele suingue e vão ter que estudar muito pra tocar as músicas do Tião”, finalizou.
Os últimos projetos com ele foram apoiados pela Lei Aldir Blanc. Em junho, a exposição virtual sobre sua trajetória e, além da participação no Tapajazz - Mostra Belém, em agosto, foi o músico do projeto “Concertos para Juventude”, exibido com transmissão online, no Teatro do SESI.
“Eu me sinto grata por tudo que aprendi ao lado dele durante todo esse tempo, e fiquei feliz por ter conseguido, mesmo nesses tempos de pandemia, ter estado ao lado dele produzindo. E ele me estimulava muito. Todos os dias eu acordava com mensagem de bom dia e uma pergunta: ‘o que vamos aprontar hoje?’. E a gente sempre estava aprontando alguma coisa”, comenta.
Músico tinha agenda até 2022
Sebastião vai deixar saudades, mas também fez uma escola. Há inúmeros trabalhos de jovens violonistas inspirados na obra desse seu violão único. Natural de Alenquer, na região Oeste do Estado, ele ganhou notoriedade, sendo reconhecido por sua singularidade e virtuosismo ao violão. O músico transcendeu a barreira do regionalismo em suas composições, e será sempre considerado um compositor não apenas paraense, mas também brasileiro e universal.
Na lista dos discos imperdíveis, há inúmeros álbuns, como o primeiro, Apresentando Sebastião Tapajós e seu Conjunto (1963); Xingu (1979), Amazônia brasileira (1997), gravado com Nilson Chaves; Da minha terra (1998), com Jane Duboc, cantora nascida em Belém (PA), e ainda Solos da Amazônia (2000), Valsas e choros do Pará (2002) e Suíte das Amazonas (2011), gravado com Ney Conceição e Trio Manari. Antes de partir, Sebastião Tapajós ainda teve tempo de gravar um novo disco, com produção de José Maria Bezerra e que em breve deve ser lançado. Inéditas do mestre, valsas, vamos aguardar. Até mais, Sebastião.
Para ouvir o Cultura Instrumental, pela web:
http://www.portalcultura.com.br/playerhtml/index2.html
Para ver o show de Sabstião no Tapajazz Mostra Belém 2021:
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