17.9.12

Seminário discute a pesquisa e a prática em circo

Trazendo uma programação voltada à reflexão sobre o circo, o I Seminário de Pesquisa em Arte Circense, além de mesas redondas, palestras e comunicações acadêmicas, também oferece oficinas práticas e ações de aproximação e troca de experiência entre público, artistas e pesquisadores. De 24 a 30 de setembro, na Escola de Teatro e Dança da UFPA – ETDUFPA -, Praça da República e na Cia. Atlética. Inscrições abertas. Mais informações: 91. 8118. 7916/ 80838450. 

O evento é fruto do trabalho conjunto entre o grupo de pesquisadores em Artes Cênicas do PPGArtes/ICA e UFPA, a produtora circense Vida de Circo, alunos, professores e artistas de Belém.

Em entrevista para o Holofote Virtual, uma das organizadoras do seminário, Virginia Abasto, da Vida de Circo, fala mais sobe a cena do circo no Pará, a partir de sua pesquisa de Mestrado e dá mais detalhes sobre o I Seminário de Pesquisa em Arte Circense.

Holofote Virtual: Por que este seminário é importante, na sua opinião? 

Virgínia Abasto: Trocar ideias, abrir novas estradas de pensamento, de ação. Como você sabe, tenho essa pulga atrás da orelha há muito tempo. 

Eu venho de experiências de trocas com circo de lona, com caravana, trupe, com arte de rua e com palco. Então, não consigo pensar em arte sem troca, não há circo onde não se circule, não temos como crescer se não damos passos novos. 

E querendo ou não os mestres de notório saber do circo estão sempre nas estradas, distantes. Com base no que acredito, sempre bato de frente com a falta de incentivo ao circo e a pouca quantidade de espetáculos circenses que chegam à cidade. 

Parei uns dias antes de assumir o compromisso, pensei nas consequência de arcar com o evento deste tipo, apertei a saia, comprometi minha querida Marina até o fim de seus dias a não me abandonar, pedi a benção do meu marido, consultei meu oráculo, ou seja minha orientadora a Profa. Dra Wlad Lima que me deu total apoio e inclusive está conosco na organização, comprando ideia de ter mais circo como prática e como pesquisa na ETDUFPA. Então, comecei as negociações. E deixei todo na mão de meu bom Jesus... e não foi que tudo começou a acontecer? 

Adicionar legenda
Holofote Virtual: (risos) Quais as oficinas que serão realizadas? 

Virgínia Abasto: A organização do projeto de “Oficinas de capacitação em Artes Cênicas” da Funarte está trazendo o professor Dr. Mario Bolognesi (UNESP), que vem para ministrar da parte de pesquisa em circo como possibilidade de estudo, a partir de diversas abordagens de investigação acadêmico-científicas. 

E a professora Sara Krumm (ARGENTINA), que virá ministrar tudo sobre práticas corporais e metodologia de treinamento em e para circo. Para isso, a articulação de Marcos Teixeira (coordenador de Circo) e de Elaine (coordenadora das oficinas de capacitação) foi imprescindível. 

Temos ainda, apoio da Fundação Cultural Tancredo Neves, ETDUFPA, PPGARTES/ICA, e dos parceiros de sempre Sol Informática, Hileia, Restaurante Spazzio Verdi, e outros. Na equipe de organização hoje estão a profa. Wlad Lima, Marina Cruz, Rosangela Colares, Rosana Lobo Rosário, Patrícia Pinheiro, Isabel Lobato, além de mim. 

Holofote Virtual: O que há de pesquisa acadêmica nesta área, em Belém? 

Virgínia Abasto: Em Belém, até agora tínhamos mais pesquisas voltadas para área de Clown, palhaço nas áreas das artes, saúde, letras e outras. E até onde tenho conhecimento, duas pesquisas sobre a extinta Escola Circo ‘Mano Silva de Belém’, uma na área de antropologia da profa. Dra Lucilia Matos e a outra da ex-coordenadora da escola circo, Lana. E há pouco tempo, Isabela Lobato defendeu seu TCC na temática do circo dentro da área de educação física. Se há outros não sei ou não lembro. 

Em andamento temos o projeto de Marina Cruz, sobre o resultado do espetáculo Vertigem, que é de circo-teatro contemporâneo. E o meu trabalho de pós-graduação em Artes (Programa de pós graduação em Artes do Instituto de Ciências da Arte /UFPA), em que abordo a trajetória histórico-artística do circo em Belém, a partir de um estudo documental e de história oral que colabora na reconstrução da manifestação do circo na região. Analiso o habitus de Circo (usando um termo cunhado pelo pensador Frances Pierre Bourdier), na cidade de Belém-PA. 

Holofote Virtual: Há muitos grupos de circo aqui? 

Virgínia Abasto: Hoje, Belém tem vários grupos que trabalham com palhaço e inserem algumas habilidades circenses a suas apresentações. Eu tenho conhecimento de aproximadamente seis grupos que vêm guardado permanência nos últimos dois anos, além do ícone formador de muitos outros grupos, que são os Trovadores, há mais de 13 anos em cartaz. Porém, temos um movimento crescente de pequenas trupes, que somam em torno de 7 a 8 grupos que eu chamo de circenses urbanos. 

Outros artistas independentes circulam de uma a outra trupe e/ou grupo. De outros municípios conheço o grupo Circo Imaginário, de Igarapé Açu. E conheço gente que já trabalhou em Barcarena, mas não sei se ainda estão na área. A maior parte dos grupos de municípios paraenses misturam as linguagens, não mantêm somente a do circo. E há ainda, nossos queridos itinerantes que rodam a região do Pará dando pequenas fugidas pelas fronteiras do Amapá, Maranhão e Manaus, porém mais tarde ou mais cedo sempre voltam. 

Holofote Virtual: Olha só... E são mais ou menos quantos circos circulando? 

Virgínia Abasto: Hoje temos uns quatro circos de donos que rodam há muitos anos pelo Pará e mais uns cinco de pequeno porte, circo-família, que aparecem pelos bairros da periferia dos municípios, mais nem todos são daqui. Na verdade, estes são muitos e são poucos, ao mesmo tempo, depende do que você entenda por “Circos da região”, mas para isso terá que esperar terminar minha tese (risos). 

Holofote Virtual: Há nas graduações em arte da nossa região alguma disciplina voltada às artes do circo? 

Virgínia Abasto: Lamentavelmente, ainda não. Não voltadas para o circo em geral, para as técnicas de acrobacia, montagem de lonas e aparelhos, princípios do circo, histórico, treinamento, etc. Há sim sobre clown, mas inclusive estas são um pouco mais voltadas para o teatro que para o picadeiro. 

Em 2005, cheguei a ministrar uma disciplina para o 1º e 2º anos do curso técnico de formação de atores, na ETDUFPA, junto com o Prof. Eder Jastes e Eleonora Leal, em que dividíamos as horas de expressão corporal com técnicas de treinamento em circo. Porém nunca houve uma disciplina especifica como já existe em universidades de São Paulo, Rio e Minas e Bahia. O que se tem há muitos anos na cidade, são cursos livres, no Curro velho, IAP, Centur, enfim, todos projetos paralelos de formação não continuada ou não profissionalizante. 

Holofote Virtual: E quanto a espaços de apresentação, como estamos para o circo? 

Virgínia Abasto: Fatalmente excluídos. Hoje é a grande pedra no pé de todos os que tentamos dar manutenção as técnicas circenses, principalmente no que se refere a acrobacias aéreas que requerem de uma estrutura de sustentação dos aparelhos com especificações bem particulares. Belém já não está muito bem de espaços para artes cênicas em geral, com nossos teatros em eternas reformas. 

Nenhum espaço de lazer na cidade está preparado para receber espetáculos do tipo. Não podemos trabalhar com pirofagia. Muitas vezes o chão não é seguro para as acrobacias de solo ou ainda, os tetos são tão baixos que nos vemos obrigados a reduzir a altura das pernas de pau. Outro problema é que Belém não tem quase terrenos para o circo de lona acampar. Quando se pensa em manter a cultura circense também precisa ser pensado o espaço do espetáculo e nesse sentido, Belém não esta preparada para as lonas coloridas, cenário de nossas apresentações. 

Holofote Virtual: Você diz que o contato com a Funarte tem sido fundamental. Como tem sido a relação com a equipe de artes cênicas da fundação? 

Virgínia Abasto: Na verdade a Funarte é um contato de muitos anos de trabalho com circo. Recomendação de ex-colegas de trabalho. Participação em comissões de seleção de projetos culturais.

Trabalho com escola Circo. Participação em fóruns virtuais e presenciais de políticas para o circo, enfim, a Funarte tem um olho de águia apontado para varias ações e apesar de todas as limitações burocráticas, desde que tenho entrado em contato, nunca faltou resposta, apoio ou estimulo às atividades circense. 

Agora por exemplo, além de colaborar com o I Seminário de Pesquisa em Artes Circenses, eles também estão trazendo uma oficina de figurino, que se deu quase que da mesma maneira. Conversando sobre os projetos planejados, viu-se a possibilidade de trazer para Belém esta outra oficina que é voltada para a melhoria na qualidade do espetáculo dos circos de lona. 

Eu sugeri a ETDUFPA, argumentando que lá nos temos curso de figurino e toda a infraestrutura que pode servir ao bom andamento da oficina. Os coloquei em contato com a diretora Inês Ribeiro que de bom grado abriu as portas da instituição, numa troca que beneficiará também professores da Universidade que participaram da oficina. 

Serviço 
O I Seminário de Pesquisa em Arte Circense é uma realização da PACA – Pesquisadores em Artes Cênicas da Amazônia e do grupo Vida de Circo, com patrocínio da Funarte – Ministério da Cultura e com apoio do Instituto de Artes Cênica - ICA - e Escola de Teatro e Dança da UFPA – ETDUFPA -, Fundação Tancredo Neves, Cia Atlética, Hileia, Spazzio Verdi, Sol Informática e Refry. Inscrições aberta: Mais informações: 91. 8118. 7916/ 80838450.

Nenhum comentário: