20.6.13

Festa no Café com Arte traz novas bandas

Apostando em uma divertida mistura de shows que aliam bandas do mundo autoral e covers, uma festa no Café com Arte, traz de uma só vez as bandas Rockzilla!, Reddices e ainda a Cais Virado, que apesar de ter sido surgido em 2012, traz na formação grandes músicos que já passaram por diversas outras bandas paraenses. O blog não resistiu à novidade e conversou com três integrantes da banda. Bruno Rabelo, Keila Monteiro e Raniery deram o recado sobre este novo projeto musical.

Bruno Rabelo, o guitarrista é um ex-membro da banda Cravo Carbono, que bebeu na fonte certa e se tornou referência da retomada da guitarrada como um gênero musical relevante na Belém dos anos 2000. Na bateria, temos Raniery, mais um aficionado pela multiplicidade de referências, que vai do metal matemático ao eletrônico obscuro. 

No contrabaixo, simplesmente um virtuose, Príiamo Brandão e como vocalista e letrista, Keila Monteiro, que transitou no rock experimental, no punk, em versos sinuosos e na pesquisa acadêmica. O nome Cais Virado remete à relação conturbada entre Belém e os rios que a circundam. E esse cais também sugere a ideia da água, dos rios, da fluidez, a qual tem surgido na composição das canções. 

O quarteto disponibilizou recentemente duas músicas para download gratuito em sua página na rede social Soundcloud: Sobrenome e Mal Moderno. “Sobrenome” é um zouk abrasileirado indicado para dança agarrada, onde Keila versa sobre a liberdade da figura feminina e a quebra de protocolos. “Mal Moderno” é uma canção-batuque de acordes densos e versos sofridos sobre um mal do século, revisto em tempos de novo milênio. Ambas começaram a ser executadas em rádio e mostram a mistura de musica africana e guitarrada que tem caracterizado a produção mais recente de Bruno Rabelo. 

Ao iniciar sua temporada de shows, a banda Cais Virado também se mistura à confluência de ritmos e estilos que é a atual música de Belém do Pará (Amazônia-Brasil). Abarcando afluentes de guitarrada, poesia, rock e África. Mas antes de passar a palavra aos integrantes do cais Virado, uma palhinha da festa de hoje. 

A banda Rockzilla é a primeira a tocar, mostrando uma seleção de clássicos do pop e rock para iniciar a festa com agitação e energia. Em seguida, sobe ao palco o grupo Cais Virado, que apresentará seu trabalho autoral misturando guitarrada, influências africanas, batuques e letras poéticas. Fechando a festa, a banda Reddices fará sua estreia com um show que traz canções autorais e e músicas consagradas do hard rock e metal oitentista. 

Agora, sim, o bate papo com o pessoal da Cais Virado, que além do show no Café com Arte Serão dois shows agora em junho: esse do Café com Arte, também vai se apresentar dia 28 no Espaço Benedito Nunes da Livraria Saraiva (Boulevard shopping), às 19h.

Holofote Virtual: Pelo que lemos acima sobre a Cais Virado, imagino que tem coisa muito boa chegando aí. Como a banda chegou a esta formação, já tocaram juntos antes? 

Bruno Rabelo: Antes do Cais Virado, eu e o Raniery ( baterista) estávamos tocando no Maquine. Com o fim do grupo (que durou de 2010 a 2012), nós decidimos montar um novo projeto do zero, só com canções novas. Surgiu a ideia de uma voz feminina. E a primeira pessoa que nos veio a cabeça foi a Keila, que além de ter uma ótima voz, é uma letrista excepcional e estava sem banda. 

O Coisa de Ninguém, seu antigo grupo, era conhecido por um trabalho autoral com forte verve poética. Sempre tive isso em mente: um grupo que tivesse força tanto no instrumental quanto na letra. E pra completar o time chegou o Príamo Brandão. Ficamos muito contentes com a presença dele. Não é todo dia que temos a honra de podermos tocar com um virtuose do instrumento. 

Uma característica interessante também da banda é que, curiosamente, eu, Príamo e Keila somos formados em educação artística, sendo que a Keila também se graduou em letras e tem mestrado em Artes. Já o Rani é engenheiro e faz tanto letra como música. Bateristas letristas e compositores no Brasil são poucos. E isso é muito legal. E ele sempre está pesquisando novos samplers, ideias de arranjos e programações pra banda. Apesar de nos conhecermos a muito tempo, essa formação do Cais é inédita. 

Holofote Virtual: Que influências vocêsestão carrregando na banda?

Bruno Rabelo: Citar influências sempre acho complicado, mas posso dizer que também temos interesse por muita música feita fora do raio de ação da música pop rock inglesa. É muito prazeroso achar novos artistas do mundo pela internet. Eu escuto músicas de diversas partes do mundo, coisas obscuras mesmo. 

Os outros também. Mas particularmente sou aficionado por um tipo de fraseado de guitarra que existe em certas áreas da áfrica (Zimbábue e Congo principalmente), que também encontramos de forma similar aqui com a guitarrada e que de certa forma existe em algumas regiões do caribe como Guadalupe, Martinica e Haiti. Guitarras arpejadas. Mas que fique claro que são fragmentos sonoros. 

A gente tem citado a áfrica, mas esse continente é como o Brasil: uma pluralidade musical imensurável. Assim como a America central. Quanto mais você corre atrás ,mas tu descobre novos estilos. E muita coisa nova , que muitas vezes não tem qualquer ligação com a música “tradicional”. O difícil é ter tempo pra escutá-las. Agora o Raniery, por exemplo, pesquisa e escuta muita música eletrônica quebrada e cromática, e que não aparece nas mídias tradicionais. Gostamos de pesquisar. Já as letras deixo com a Keila. 

Holofote Virtual: Zouk, batuque, guitarrada. A sonoridade afro-paraense- caribenha é presente. O que mais agregam e pesquisam musicalmente, além do viés poético, que chega forte com a participação da Keila? 

Raniery: Acho que o caribenho está presente, mas o Bruno agrega também coisas africanas, o que é muito bacana. Elas tem coisas que soam novas pra gente, na ritmica por exemplo, o que estimula a gente a buscar novos caminhos nos nossos instrumentos. 

No meu caso também pego carona em muitas coisas de musica eletrônica, coisas tipo broken beats, nu jazz e deep house por exemplo, com a ideia de ser dançante mas ter uma certa "estranheza". E eu também trago coisas do rock e metal, especialmente na atitude de palco e energia. O Príamo por sua vez é mestre, já que tocou com muita gente, muitos estilos, etc. ele tá se encaixando super bem no espirito das composições, turbinando muito a parte rítmica. E a Keila, traz elementos do rock e punk, ao mesmo tempo em escreve coisas lindas e ao mesmo tempo intrigantes. Melhor ela complementar (risos) 

Keila Monteiro: Escrevo letras que podem ser consideradas poéticas e não poemas, o que é diferente. O poema se sustenta sozinho na página, já a letra da canção necessita se acoplar à melodia formando um corpo só e ainda, deve ser analisada de modo indissociável desta melodia. Inclusive, a maioria das letras que escrevo já vem junto à melodia. 

Eu ao mesmo tempo que pesquisei sobre o rock PA, iniciei minha carreira numa banda de rock autoral. Isso em 2000; adquiri conhecimento de palco, da cena local, e intensifiquei meus estudos sobre Etnomusicologia ( no meu mestrado), o que me possibilitou juntar a paixão pelo rock ao desejo de agregar outros ritmos sem preconceito.

Holofote Virtual: Bruno você vem do Cravo Carbono, um projeto que a gente não esquece... 

Bruno Rabelo: Toquei com os caras durante 10 anos, mas já os conhecia, desde 1992. Pra teres uma ideia, eu e Pio íamos à pé na rádio Rauland em 96 pesquisar discos de guitarrada, antes mesmo do Cravo existir e da invenção do MP3!.

Eu costumo dizer que gosto quando eventualmente dizem que o que faço parece Cravo, pois mostra a força musical que tinha esse grupo, uma identidade. E a influência do Cravo Carbono no atual momento da música paraense é inegável também. A classe média descobriu a guitarrada pelo Cravo. 

No Cravo eu sempre botava umas dissonâncias e encadeamentos harmônicos estranhos pra diferenciar das guitarras do Pio (risos). Eu me preocupava menos com o formatação popular. Fazia música em 5/8. No Cais, o formato canção popular é usual. O que não significa dizer “comum”. 

Holofote Virtual: Quais as expectativas para os próximo shows, e como anda a agenda de vocês? 

Bruno Rabelo: O Cais Virado tem letras reflexivas e música com texturas, que em muitos momentos é dançante. E ao vivo crescem em força sonora. Então esperamos que as pessoas gostem. Preparamos o repertório durante um ano (desde junho de 2012). Estamos seguros pra tocar ao vivo. Fizemos alguns programas ao vivo na rádio e Tv Cultura agora nesse primeiro semestre de 2013. E temos duas canções inclusive rolando na Cultura FM. 

Holofote Virtual: Planos para um futuro... próximo. 

Bruno Rabelo - Estamos organizando a banda. Iremos gravar um EP virtual com cinco canções. Vamos preparar alguns projetos pros editais futuros da Semear e Tó Teixeira. Queremos tocar e muito! Raniery - A banda ainda está começando suas atividades mas já tem um conjunto de interessante de canções novas. Assim, o plano é gravar ao menos um EP no 2o semestre.

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