8.9.13

Caranguejos e humor negro no cineclube do IAP

O cineclube Alexandrino Moreira, nesta segunda-feira, 09, traz um curta metragem realizado no interior do Pará sobre os catadores de caranguejo, seguido de um longa metragem, uma comédia de humor negro assinada pelo diretor alemão Werner Herzog. Às 19, no Instituto de Artes do Pará em parceria com Associação de Críticos de Cinema do Pará. Entrada franca.

O cruta "História de Pescador" (13’) é resultado de um programa de oficinas realizadas em São Caetano de Odivelas, nordeste do estado. Conta a aventura do tirador de caranguejo João Dico, que ao sair para um dia de trabalho, passa por uma experiência inusitada que o leva a uma verdadeira prova de fé e coragem. 

O projeto Olhar Odivelas, de autoria da jornalista e produtora audiovisual Angela Gomes, e desenvolvido pela produtora Visionária Filmes, com patrocínio é do Banco da Amazônia e o apoio da Secretaria de Cultura de São Caetano. Foi a partir de um programa de oficinas audiovisuais na cidade durante junho e julho deste ano que surgiram argumento e roteiro, criados pelos alunos, assim como todo o trabalho de produção do curta. 

Os personagens são interpretados por alunos das oficinas, além de um participante do Art'da Terra Bando Teatral, grupo de teatro amador da cidade, que vive o personagem de um pescador amigo do protagonista. Com direção de Angela Gomes e Cezar Moraes, que também faz a fotografia, o filme foi gravado em dois dias, quando os alunos meteram a mão na massa, ou melhor, na lama do mangue, para tirar a história do papel e transformá-la em filme. 

Além do curta, o processo de aprendizado nas oficinas está regostrado em blogs, webdocs e canal de vídeo no youtube, além de perfis em mídias sociais, que também foram eixos das oficinas, com objetivo de divulgar o resultado do trabalho. Para saber mais, é só acessar: http://projetoolharodivelas.blogspot.com.

Filme polêmico *- Os Anões Também Começaram Pequenos é o segundo longa de ficção de Werner Herzog , realizado em 1970. 

O diretor reduz seu universo a um reformatório constituído somente por pigmeus, todos com comportamento semelhantes à delinquentes, retardados ou desajustados sociais. Num ambiente com ares de colônia penal isolada, em resposta a um simples pedido negado pelo pedagogo da instituição, o grupo de internos esboça uma fuga. 

Enquanto um deles é pego pelo diretor-responsável, os demais iniciam uma rebelião, tomando conta do local e confinando o diretor (o próprio pedagogo) num canto do seu gabinete. A partir de então, o filme se converte na maior coleção de bizarrices e estripulias na filmografia de Herzog, num processo orgíaco de vandalismo e irresponsabilidade, um ciclo de violência contra animais ou objetos da instituição (ou de uns contra os outros), instaurando um mundo sem regras ou ordem, entre o grotesco e a crueldade, o choque e o ridículo. 

Polêmica - O filme recebeu acusações de blasfêmia e de animais explorados e ficou banido em alguns países. Foi pouco exibido na época do seu lançamento. 

Rodado numa das ilhas Canária (no mesmo local onde Herzog filmaria no mesmo período alguns documentários, entre os quais Fata Morgana), numa paisagem árida que parece afastada do mundo (o que é reforçado pela textura da fotografia em preto-e-branco), faz pensar num encontro de um Zero em Comportamento (1933) trocando a poesia do filme anárquico de Jean Vigo pelas aberrações de Freaks (1932), de Tod Browning.

Não deve haver filme de Werner Herzog que provoque mais gargalhada (ainda que sempre com uma carga de sobressalto) do que essa comédia de humor negro do começo de sua carreira, sem que ele se reduza somente a uma piada em cima de um ponto de partida bastante bizarro. Revê-lo, entretanto, faz com que ele não resulte num impacto semelhante ao da descoberta. 

Sua loucura toda provoca um afastamento, ficando aquela coisa incessante que só desperta interesse de longe. Mas o espanto jamais cessa defronte de suas imagens. No desfecho, justamente o que deveria ser o mais lúcido de todos os personagens joga a pá de cal e comete as loucuras finais que coroam Também os Anões Começaram Pequenos como o trabalho mais inclassificável de Werner Herzog. 

*Trechos da crítica publicada na Revista eletrônica de cinema Multiplot sobre o filme de Herzog. Para ler na íntegra, acesse aqui. O IAP fica na Pça Justo Chermont, ao lado da Basílica de Nazaré, em Belém do Pará.

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