Ribamar Diniz, que construiu a engenhoca sonora |
Para executar a música de “O Navio Fantasma”, ópera de Richard Wagner, no XII Festival de Ópera do Theatro da Paz, em Belém, foi preciso construir uma máquina de vento, instrumento existente nas grandes orquestras internacionais.
Na concepção de Caetano Vilela, diretor da ópera, a atmosfera de “O Navio Fantasma”, é turbulenta, como pede o libreto do próprio Wagner.
Elementos marítimos criados pela cenógrafa Duda Aruk garantem ao enredo, a dramaticidade necessária da obra. Não bastasse toda a cenografia, que reforça o clima intenso das cenas, já no primeiro ato, a música de Wagner nos remete a tormentas de um mar revolto.
Executada pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP), a obra musical pede efeitos sonoros que reproduzem o som das ventanias. Mais do que efeitos, os ventos uivantes estão na partitura de Wagner são essenciais e dão vida ao cenário.
Para atender a exigência sonora de Wagner, foi necessário criatividade, uma vez que não existe em Belém este instrumento e nem foi possível trazê-la de fora.
Fazer esse tipo de artefato exige habilidade e criatividade, duas características que não faltam à Ribamar Diniz, profissional que atua há 37 anos no Theatro da Paz. Acostumado com as variadas demandas de sua função, ele é constantemente instigado a dar soluções para as montagens feitas na casa. Solícito, conversa enquanto trabalha, mostra com cuidado o que faz.
Simplicidade e eficiência para ruído de vento junto à OSTP |
Para construir a máquina de vento, ele reuniu peças que restaram de um antigo espetáculo e com isso montou uma espécie de cilindro com varas de madeira, utilizando um papel Kraft por cima dessa estrutura. Com uma maçaneta é possível rodar o cilindro, fazendo com que o papel seja friccionado na madeira, o que produz o som do vento forte. Ribamar Acertou em cheio.
O instrumento internacional, agora improvisado na Amazônia, foi aprovado pelos músicos e pelo maestro da OSTP, Miguel Campos Neto. Um sucesso!
“Esse material já tinha em casa, então, cortei o compensando e fui ajustando. Coloquei esse tipo de papel, mais grosso, para dar esse som grave. Fiz o design e a pintura também. Esse chiado de vento acontece quando o papel está mais apertado, é possível ajustar”, finaliza Ribamar.
Riba, como é chamado carinhosamente pelos companheiros de trabalho e amigos, também coordenou a equipe de cenário de “Elixir de Amor”, mas o seu maior desafio e êxito comprovado, foi realizar o cenário da Ópera Salomé no Festival passado. "Não coloco impedimento para cada nova experiência. Meu trabalho é fazer funcionar o que está descrito nos projetos de cenografia, do jeito que os diretores imaginam”.
Cenotécnico executou o Navio concebido por Duda |
Do trabalho braçal à invenção
Quando chegou ao Theatro da Paz, Ribamar Diniz tinha 18 anos. Foi a convite de um primo, que ele integrou a equipe que trabalhava em uma pequena reforma no teatro, que durou apenas um mês. O ano era o de 1978.
O maestro Waldemar Henrique era quem estava na direção da casa. Como estava sem emprego, o primo sugeriu que ele pedisse ao então diretor outro trabalho para permanecer no Theatro da paz. Conseguiu um posto de vigilante.
Passados alguns anos, Ribamar fez e passou no concurso público para provimento de vagas efetivas no teatro.
Assumiu o cargo de agente de assuntos culturais e fez de tudo um pouco. Entre outras coisas, foi mensageiro de palco e maquinista, operando as varas que determinam a ordem dos cenários. Só depois é que se encaixou na cenografia.
“Quem trabalha nessa função tem que ser inventor, tem que ser curioso também. Não dá para ser só um técnico. Tem que achar solução, saber como tudo funciona no palco, descobrir o novo para que tudo aconteça”, adverte.
E é exatamente o que Ribamar vem fazendo ao longo de sua carreira profissional.
O instrumento original que o inspirou a fazer a Máquina de vento que estará em evidencia durante a execução da OSTP em O Navio Fantasma de Wagner, foi visto por ele apenas pela internet. Tem 60 cm de diâmetro, 70 cm de altura e cerca de 1,10m de altura. E foi construído em dois dias.
Serviço
XII Festival de Ópera do Theatro da Paz. “O Navio Fantasma”, nos dias 21, 23 e 25 de setembro – 20h (ingressos esgotados). Transmissão ao vivo pela Tv Cultura do Pará, no dia 23, para 143 municípios, e também pelo telão que estará montado no Teatro Maria Sylvia Nunes, a partir das 20h, com entrada franca. Mais informações: www.festivaldeopera.pa.gov.br
(com informações de Dominik Giusti)
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