No ano de comemoração dos 40 anos da Fondazione Pontedera Teatro, Cacá Carvalho, Roberto Bacci, Stefano Geraci, Marcio Medina e Fábio Retti estreiam “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”, escrito por Fiódor Dostoiévski, estreia dia 14 de março, às 20h, no Sesc Santo Amaro, em São Paulo.
Cacá Carvalho tem uma trajetória incomum, um percurso de vida artística único. Teatro, cinema, TV, tudo fez ou faz parte de seu cotidiano. Mas o que o interessa verdadeiramente é perscrutar o homem e sua crise em viver, esse é centro da questão para ele.
Há exatos 21 anos, ele estreava seu primeiro Pirandello: “O Homem com a Flor na Boca” , depois vieram, “A Poltrona Escura” e “umnenhumcemmil”. Portanto, Pirandello sempre foi um autor que o motivou em suas digressões artísticas e filosóficas do fazer teatral.
Em “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”, baseados no livro “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoievski, Cacá Carvalho quer colocar em cena todo o universo subterrâneo de um homem que abandona o convívio social e tem como bem precioso (e também seu sofrimento), a consciência do significado de estar aqui, entre os vivos, entre os seres humanos.
A montagem de 2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo é a primeira produção do Teatro della Toscana, uma junção da antiga nomenclatura Fondazione Pontedera com o atual Teatro de La Pergola, em Firenze, na Itália.
Em coprodução da Casa Laboratório para as Artes do Teatro com o Teatro della Toscana, o espetáculo estreou na Itália, em fevereiro desse ano, e agora faz sua estreia nacional na capital paulista.
Segundo o importante crítico italiano Andrea Porcheddu, “... o ator brasileiro [Cacá Carvalho em “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”] não hesita em atirar-se no jogo de representar visceralmente: arrasta consigo sua máscara pelos abismos - não somente mentais - de Dostoiéviski.
De fato, toca também nos extremos de uma “fisicidade”, exposta desde o início, tornando-a, a seu modo, sacra. (...) Ali dentro daquele cenário, ele cava – espião humano desesperado – o protagonista na procura da memória de si, de algum trapo de felicidade, de alguma liberação social e pessoal da hipocrisia e da frustação. Ele está ali, com a sua barriga, com aquele seu corpo evasivo acertando com as contas com o seu passado.
Em cena um homem que, depois de passar a vida à procura de um pensamento consciente, aprofundou-se no subsolo de si mesmo. Ali, a luz da consciência transformou-se em escuro, transformou-se naquilo que de mais terrível possuímos. Ali está um homem cínico, um homem amargurado, um homem sem hipocrisias que gira, fazendo piadas sobre si mesmo. O que se vê em cena é um espetáculo-confissão, que não deixa espaço para a hipocrisia.
O personagem de Dostoiévski é um homem amoral, que mergulha nas profundezas para encontrar o sagrado. Uma pessoa realmente consciente pode ter algum respeito por si? Pode-se ao menos com si mesmo ser absolutamente sincero sem ter medo de toda a verdade? Que coisa se pode esperar do homem, se na realidade ele é uma mistura de tantas estranhezas?
O espetáculo é resultado dessas questões ancoradas na literatura de Dostoiévski. É um espetáculo que balança o ânimo e obriga a reflexões. Estar de acordo com todo o discurso do personagem, deste homem que sofre de fígado, que grita contra o mundo verdades e não verdades, estar de acordo com tudo é difícil, porque significaria acabar com qualquer perspectiva de viver uma existência minimamente decente, porém, os pontos que ele toca, que nos revela, guia-nos na direção de uma descida escura na nossa consciência.
Dostoievski dizia, “Estou escrevendo um romance que me dá muito sofrimento”, em outra carta escreve, “Eu tenho nervos fortes, e não consigo ter domínio de mim mesmo”. Este tormento interior que parece apertar o escritor Russo, em uma mordida na própria vida sem saída, revela-se inevitavelmente em todas as paginas deste texto, aparece como o espelho de sua alma, em um período de profunda reflexão diante do sofrimento de sua mulher na cama, mas ao mesmo tempo, de muita lucidez e de grande ironia intelectual.
Nunca, como neste conto, Dostoievski colocou-se tão a nu, colocou no papel o seu subsolo, o seu escuro e penetrante tête-à-tête, com sigo mesmo. Uma auto confissão, do protagonista-narrador que golpeia com a sua dissecante crueldade às dores de um anti-herói, como ele mesmo se define, e representa perfeitamente a crise do homem moderno, numa época de transição e de conflitos.
Neste romance Dostoievski apresenta-se como absoluto antecessor de Freud e da sua teoria da psicanálise, Dostoievski se analisa melhor do que em um leito de psicanálise. Com a consciência plena de que “precisamos se sinceros primeiramente com nós mesmos”, o autor persegue-se, indaga, sacode-se sem nenhuma piedade, a própria bagagem interior, o resultado final de tal análise.
Parceria Brasil/Itália
Il Cielo per Terra , foi o primeiro espetáculo em que o paraense Cacá Carvalho atuou, dirigido por Roberto Bacci. Sucessivamente, Cacá Carvalho tornou-se também colaborador, pedagogo e assistente de direção do Centro per la Sperimentazione e la Ricerca Teatrale, hoje Fondazione Pontedera Teatro.
Em 2004, fundaram na cidade de São Paulo a Casa Laboratório para as Artes do Teatro, fruto da parceria com o Teatro della Toscana e Roberto Bacci. Dos encontros entre Cacá Carvalho e Roberto Bacci [Brasil e Itália] surgiram diversos espetáculos. Entre eles: “O Homem com a Flor na Boca”, de Luigi Pirandello , “O Hóspede Secreto”, com Joana Levi e Cacá Carvalho , “A Poltrona Escura”, de Luigi Pirandello , “umnenhumcemmil”, de Luigi Pirandello . Todos sob direção de Roberto Bacci e dramaturgia de Stefano Geraci.
A Casa Laboratório para as Artes do Teatro, dirigida por Cacá Carvalho, tem no seu histórico os espetáculos: “A Sombra de Quixote”, “O Homem Provisório”, “Os Figurantes”, todos com direção de Cacá Carvalho, com atores formados no curso de 10 anos neste espaço de formação e pesquisa teatral.
Ficha Técnica
- Direção: Roberto Bacci
- Dramaturgia: Stefano Geracci
- Elenco: Cacá Carvalho
- Cenário e figurino: Márcio Medina
- Desenho de luz: Fábio Retti
- Musica Original: Ares Tavolazzi
- Tradução para o português: Anna Mantovanni
- Produção: Teatro della Toscana, Teatro Era Csrt e Casa Laboratório para as Artes do Teatro
Serviço
De 14 de março a 25 de abril de 2015, às quintas e sextas, às 21h, e aos sábados, às 20h. No SESC Santo Amaro – Teatro - Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro – São Paulo. Mais informações: (11) 5541-4000. Duração: 80 min/ Recomendação: 14 anos/ Lotação: 279 lugares. Ingressos: R$ 20,00 (inteira/ público em geral), R$ 10,00 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante) e R$ 6,00 (trabalhador do comércio de bens e serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes).
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