3.3.15

Sebá mostra graffiti embebido de rios e de floresta

Sebastião Tatapajós Júnior, mais conhecido no país, como Sebá, artistas do graffiti que vem fazendo da Amazônia um atelier a céu aberto e, mais especificamente, da ilha o Combú, sua galeria fluvial. Carioca, filho do conceituado compositor e violonista paraense, Sebastião Tapajós, ele mostra parte de seu projeto “Street River”, a partir de hoje, na galeria de arte do CCBEU, a partir das 19h, com direito a pocket show que traz além do pai, a participação da cantora Lia Sophia.

Paisagem amazônica, cultura indígena e ribeirinha. A exposição “Street River”, na verdade uma instalação, traz para dentro de quatro paredes a imensidão cultural da região, repleta de cores que com capricho marcam casas e barcos. Ousada, leve e didática, a mostra se utiliza da plataforma  rio-floresta,  barco-palafita, para alcançar um reconhecimento que vai além de um conceito artístico. 

É assim que Sebá tem planejado sua vida, mas como em sua casa, nem só de artes visuais, vive o talento, o pequeno show de Sebastião Tapajós, compositor dos que mais traduzem em sons e ressonâncias a memória afetiva da Amazônia, chega na abertura da exposição como o toque que envolverá os visitantes numa atmosfera perfeita.

“Vai ser lindo e emocionante. A Lia é maravilhosa e representa essa nova safra de ouro da música brasileira, sou apaixonado pelo trabalho dela. E também será a realização de um sonho ter meu pai comigo. É o homem que mais admiro nesse mundo”, diz Sebá em entrevista ao blog. 

A ideia de expor arte de rua, neste caso, de vias fluviais, dentro de uma galeria, partiu do próprio CCBEU que, por meio de um convite ao artista, realizou a curadoria do que o público verá  a partir de hoje. 

“Exposições são bacanas por que nos proporciona ultrapassar os limites, com instalações e é isso que sempre tento propor mesmo que indiretamente”, diz ele, para quem a paisagem amazônica, com suas cores, cheiros, traços e linguajar, norteia a vida. “Faz parte do nosso cotidiano”, resume ele que já carrega no sobrenome um dos rios mais lindos da região.

A semana dele foi assim, cheinha de bate papos nas rádios, nas TVs, entrevistas e reportagens aos jornais, demais blogs e sites na internet. Ouvi e li várias depoimentos deles e em todos, Sebá nunca deixa de manifestar o amor e admiração pelo pai.

Estar no centro das atenções da imprensa, aliás, para ele, já não é novidade. Depois de participar do projeto: #RIOEUTEAMO, a convite da Conspiração Filmes e com curadoria do IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus) e de atuar na revitalização dos bancos da orla de Copacabana, Zona sul do Rio, utilizando-se da técnica do spray, Sebá foi descoberto pela mídia. 

Este ano ele mostrou seu talento e simpatia em rede nacional, no programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da Rede Globo de Televisão e vem ganhando respeito e visibilidade artística por onde passa.  

Zapeando na internet é fácil encontrar fotos dele, ao lado de artistas famosos, como Lulu Santos e Priscila Fantin. Diante disso tudo, aos 30 anos, passa um filme em sua cabeça, remontando uma trajetória que inicia ainda aos nove anos de idade, quando o talento para as artes visuais foi identificado.

Nascido no Rio de Janeiro, na adolescência, aos 16, ele já sabia que sua plataforma seria a rua. Começou a grafitar nos muros da capital carioca expandindo-se a Salvador, na Bahia. 

Em 2011, graduado designer gráfico na Universidade Estácio de Sá, ele já era Diretor de Arte e Ilustrador da agência Útil Comunicação e Design. No ano seguinte, foi convidado para fazer sua primeira exposição fora do Brasil, em Madrid, Lisboa e Amsterdam. 

“Ganhei uma bolsa de estudos na Estácio, faculdade onde me formei em 2012 e, no mesmo ano, retornei, depois de ter ido expor na Argentina e de ter morado e participado de evento e expôs de graffitis, na Europa, em países como Portugal, Espanha e Holanda”, diz ele, em entrevista ao Holofote Virtual.

Em 2013, em Belém-PA, fez a pintura de um painel para o maior evento religioso do país, Círio de Nazaré, patrocinado pela Companhia das Docas do Pará. No mesmo ano, teve seus trabalhos expostos no CasaCor Pará. 

Mas foi um pouco antes disso tudo que ele começava  a estreitar os laços fortalecidos de hoje. Entre 2009 e 2010, ele já estava por aqui, grafitando muros e paredes, inclusive uma delas no saudoso bar Café Imaginário, que ficava alia na Quintino Bocaiúva. 

“Agora estou fixo aqui e não pretendo morar em nenhum outro lugar do mundo, que não seja Belém. Retornei final de 2012 e agora em 2015 serei pai e minha esposa é paraense, mais um motivo para não ir embora e manter minhas raízes atrelada ao processo criativo”, explica.

A arte de rua tem crescido consideravelmente no país e aos poucos vem sendo aceita. O graffiti, que já foi mais hostilizado, ganha, hoje, novo status, sem perder, porém, a áurea de uma arte de posicionamentos sociais, políticos, diversos, que ainda despertam estranhamentos e atitudes agressivas.

“Hoje em dia a rua tá suave para quem tá começando. O respeito, porém, é relativo. Muitas pessoas ainda são retrogradas, mas muitas assim que veem o trabalho dos graffiteiros, mudam de opinião. Isso não é só no Brasil. É no mundo. A aceitação melhorou, mas ainda é como Fé: as pessoas precisam ver para crer. Ainda bem que há seres humanos de sensibilidade mais aflorada e que possuem mais interatividade com o mundo cultural”, desabafa.

Agota, navegando por estas águas infindáveis, em meio a vegetação exuberante e biodiversa, ele bebe cada vez mais em fontes de maravilhamentos e cria projetos como o Street River, que busca compartilhar isso com quem está a sua volta. Mais do que fazer arte, Sebá deseja retribuir em dobro, o que ele vem recebendo por causa de seu talento e sensibilidade.

“Estamos rodeados por esse riozão lindo e, em Santarém, que considero minha terra natal, isso é muito mais presente ainda, e acho que as ideias surgem naturalmente, mas que o homem adentra na floresta amazônica muitas vezes de forma agressiva”, comenta. 

Sebá pretende com esse projeto agregar ao olhar do mundo, a realidade indígena e ribeirinha nos tempos atuais e, em paralelo, construir diálogos com estas comunidades. “Quero ensinar técnicas de desenho, história da arte, graffiti e pintura para fomentar a cultura local e o turismo, propondo uma das primeiras se não a primeira galeria de “streetart fluvial” do mundo”, conclui.

Serviço
Exposição #StreetRiver, de Sebá Tapajós. Na Galeria de Artes do CCBEU – Trav. Padre Eutíquio, 1309. Vernissage nesta terça-feira, 03, às 19h. Participação de Sebastião Tapajós e Lia Sophia. Visitação de 4 de março a 7 de abril de 2015.

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