O vídeo faz arte de projeto "Nós Quilombolas da Amazônia" contemplado pelo III Ideias Criativas Alusivo ao Dia Nacional da Consciência Negra, da Fundação Cultural Palmares. O lançamento integra a programação da Mostra Banquete Brasil África, em cartaz no Centro Cultural do Carmo. Nesta sexta-feira, 13, às 19h.
A zona rural do Acará até hoje apresenta forte presença cultural do inicio de sua formação, no período colonial, quando era tomado por fazendas de cana-de-açúcar, depois arrendadas dos descendentes de senhores de engenho pelos antigos escravos. E apesar da semelhança com a história de formação de outras regiões brasileira, essas são histórias de quilombos amazônicos que cultivam raízes e tradições ribeirinhas, como as rodas de carimbó e o uso de curimbós, típicos da região.
Resultado das oficinas de música e audiovisual realizadas nas comunidades quilombolas de Guajará Miri e Itacoã, no Baixo Acará, nordeste paraense, o projeto foi o único premiado na Região Amazônica. Tanto o Projeto quanto o Documentário pretendem contribuir para o reconhecimento da presença de comunidades quilombolas na Amazônia e suas peculiares na formação cultural do Pará, além de ser um importante registros da presença histórica negra no Estado.
Ao som de cantigas tradicionais do bumbá de Guajará Miri - Boi Resolvido, o documentário traz o olhar das próprias comunidades sobre suas manifestações culturais – “uma das necessidades apontadas pelos seus moradores”, segundo Waderson Lobato, Coordenador de Oficinas e Diretor de Produção do Projeto Nós Quilombolas da Amazônia.
“Em conversas na comunidade percebemos que havia essa vontade deles em poder ouvir os moradores de lá contando suas histórias, suas lembranças, memórias. É isso que acho importante no Projeto, que essas histórias sejam ouvidas porque também é a nossa história, a nossa cultura, mas que hoje não tem espaço e pouco é valorizada”.
Comunidade
Oficinas de audiovisual, música e literatura, cultura digital e elaboração de projetos culturais foram ofertadas pelo projeto Nós Quilombolas da Amazônia para integrantes das comunidades de Guajará Miri e Itacoã, que tivessem interesse e tempo disponível. Por fim, mais de 70 alunos, com idades entre 10 e 60 anos mostraram interesse e participaram.
A oficina de audiovisual começou de forma espontânea, intencionalmente sem roteiro definido, e diariamente surgiam sugestões dos participantes para a documentação desejada, explica Gilberto Mendonça, responsável por ministrar a Oficina de Mídias Móveis. “Todos os dias tinha uma novidade, um personagem que achavam interessante, uma roça que tinha que filmar, uma farinha pra queimar e coisas assim, cotidianas, quebrando um pouco a métrica da construção tradicional de um roteiro de documentário”.
O apoio da comunidade contribuiu também para que o resultado do Projeto fosse ainda mais rico, a partir da identificação pelos quilombolas daquilo que eles valorizavam dentro da própria cultura. “Nós sugerimos as histórias, os lugares e as pessoas; a comunidade participou bastante. Nas oficinas de música, por exemplo, os professores levavam os instrumentos e contribuíram muito com tudo que fosse necessário”, conta Edson Santana, quilombola e oficineiro de Música.
O Projeto também teve o envolvimento direto e apoio de outras instituições, como a Malungu - Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará e Instituto Federal do Pará - Campus Bragança; da Incubadora Pará Criativo e da empresa Sol Informática.
Cultura Imaterial
A Fundação Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) e que tem o objetivo principal de fortalecer a cultura afrobrasileira é a patrocinadora oficial do Projeto e desse investimento nas manifestações como fator de resistência da cultura negra amazônica e sua utilização como elemento catalisador para novas ações e projetos junto às comunidades quilombolas da Região.
Cyro Lins, antropólogo e técnico da área de patrimônio imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), fala sobre a importância dessas ações na construção de políticas públicas que atendam as necessidades locais.
“É uma política do IPHAN e do Minc, a participação nos processos de valorização e difusão do patrimônio cultural brasileiro. A premissa básica é a participação direta dos detentores. A gente coloca a participação dos próprios manifestantes com o objetivo de que eles possam expressar o conhecimento e a realidade deles e dessa forma identificar demandas e necessidades que estejam de acordo com a realidade. As ações do Projeto Nós Quilombolas da Amazônia contribuem para o empoderamento e protagonismo na afirmação de identidades e no fortalecimento das políticas públicas voltadas para essa cultura tradicional de todo o país, principalmente na Amazônia, uma região geográfica distante dos polos de decisão nacionais”, ressalta.
Resultados do Projeto
No dia 20 de novembro de 2014, Dia Nacional da Consciência Negra, um cortejo cultural com apresentação dos resultados das oficinas foi realizado em Guajará Miri e contou com a presença de quilombolas vizinhos e alunos das comunidades participantes do Projeto. Na ocasião, a população teve a oportunidade de se reconhecer ainda mais em imagens e músicas registradas pelos oficineiros.
O resultado geral superou as expectativas. Além da troca de conhecimento proporcionado pelas oficinas, houve também o resgate da memória local. “As oficinas que ofertamos no projeto provocaram a retomada de atividades culturais como o Boi Resolvido, de Gujará Miri, e a Dança da Pretinha, de Itacoã. As duas manifestações estavam suspensas há algum tempo por falta de incentivo e voltaram a partir do Projeto”, revela Lobato.
Ficha técnica
- Produção Executiva e Coordenação Geral: Laurenir Peniche
- Coordenação de Oficinas e Direção de Produção: Wanderson Lobato
- Produção: Aldo Carvalho
- Designer: Amadeu Fortes
Oficinas
- Audiovisual - Gilberto Bezerra
- Música e Literatura - Edson Santana
- Cultura Digital - Marco Buro
- Elaboração de Projetos Culturais - Luiza Bastos
Saiba mais sobre o Projeto Nós Quilombolas da Amazônia
http://nos-quilombolasdaamazonia.blogspot.com.br/
https://malungupara.wordpress.com/
(com informações da assessoria de imprensa)
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