Fotos: Roberta Brandão |
A ocupação dos artistas paraenses na sede da Regional do Ministério da Cultura, em Belém, recebe nesta sexta-feira, 20, a partir das 18h e segue no sábado, 21, o Encontro de Performances Artísticas e Performatividades Cotidianas da Amazônia. Assim como já acontece em todo o país, desde a última quarta-feira, 18 de maio, os artistas e ativistas culturais paraenses também ocuparam a sede do MINC, com debates políticos e permanecem no local realizando diversas atividades pela cultura e em contestação aos atos de posse do governo interino de Michel Temer, na presidência do país.
O movimento artístico cultural da cidade resiste através da arte performativa e neste final de semana, o encontro EuPerformance, que seria realizado no Casarão do Boneco, neste final de semana, foi deslocado para sede do movimento #ocupaminc, em Belém, após uma decisão tomada na plenária realizada pelos artistas, na noite de quarta-feira, dia que marcou o início da ocupação.
“Devido ao cenário precário de políticas públicas de cultura, e principalmente e por que a maioria dos artistas da contemporaneidade se aproxima da relação arte-vida, aglutinando-se em diversas linguagens artísticas em ações que utilizam o corpo como material artístico, o evento foi transferido do Casarão do Boneco para acontecer na Ocupação pacífica que está ocorrendo na sede do Minc na Região Norte”, diz Leandro Haick, que integra o grupo de idealizadores do encontro, formado também por Pedro Olaia, Heyder Moura e Maurício Franco.
Além do encontro, está acontecendo no espaço uma série de atividades, que compartilham discussões sobre políticas públicas e práticas colaborativas, de forma artística e engajada. “Para os organizadores do evento euPerformance não tem como dissociar a ocupação do Minc Belém com o pensar em práticas culturais e fazeres artísticos contemporâneos”, diz Haick.
Durante estes dois dias, os eixos temáticos do encontro em mesas de debate, Corpo- Tecnologia, Corpo Celebração, Corpo-rua e Corpo-resistência serão abordados nas mesas de diálogos, permeados de intervenções performáticas de artistas paraenses. A programação será encerrada com uma noite cultural e microfone aberto.
Os artistas Nando Lima, Arthur Leandro, Rosilene Cordeiro e os irmãos Erick e Érika, entre outros expoentes dessa cena, estão entre os convidados para compor as mesas de debate. Para um dos artistas performáticos idealizadores do EuPerformance, Pedro Olaia, a intenção é reunir e falar sobre esse fazer artístico resistente na capital paraense.
“Quando abordamos o tema corpo e tecnologia, estamos falando dos artistas que se utilizam da tecnologia em suas ações, do High ao Low Tech, ou até mesmo utilizando sucata eletrônica, o eixo Corpo-Celebração fala sobre o corpo preparado para a festa, para a cerimônia, dos rituais religiosos a performances em casas de show, Corpo-Rua aborda os artistas que trabalham com o jogo na rua, já a temática Corpo –resistência é sobre todos os corpos que desobedecem as normas impostas pelo sistema, ou seja, contestam os padrões sociais instituídos como por exemplo o padrão eurocêntrico de beleza, normas heteronormativas e regras colonizadoras”, afirma Pedro Olaia.
Performances e debates em continuidade
Neste final de semana, as ações dão continuidade ao encontro que foi iniciado em abril deste ano, quando os artistas idealizadores do projeto realizaram performances, em pontos caóticos, urbanos e coletivos da cidade.
O primeiro foi Heyder Moura, e sua ligação com o elemento ar, vestiu um figurino feito de sacos de lixo e soltou-os ao vento no engarrafado e complexo do entroncamento, em frente ao monumento em tributo aos guerrilheiros da Cabanagem. A performance “exercícios de sair ao sol” fala sobre sair “montado” a luz do dia e os enfrentamentos desta postura.
Pedro Olaia, exaltando mamãe Oxum, e o elemento água, escolheu a beira da Universidade Federal do Pará (UFPA) para um diálogo sobre o consumo e a produção de lixo. Em sua performance, Olaia transforma-se em um ser místico com asas pesadas, incapaz de voar, feitas de muletas. Apesar do estranhamento causado pela partitura corporal, a performance trabalha com o inesperado e com muitas possibilidades de reposta do público.
“No momento vívido do suspiro poético, o planejamento cai por terra e o improviso divino nos banha de felicidade e ações belas onde muitas vezes me emociono, como por exemplo, na minha última ação, em certo momento quando caí de costas, de propósito para sair de um espaço menos iluminado e ir em direção ao rio e próximo a iluminação dos postes que iluminam a beira da UFPA.
Pensando racionalmente na visualidade da cena, ao mesmo tempo que caí com o cuidado de não me machucar, fui surpreendido por uma mão estendida que me levantou do chão.
Uma certa pessoa que estava na capela (a grande oca na beira da UFPA é chamada de capela), sentada conversando e naquele momento assistindo ao trabalho, se emocionou com a ação e me juntou do chão, e nesse instante toda a racionalidade que coloquei na percepção corporal do espaço e da queda foi por água abaixo e eu me emocionei e chorei, ao estender-me a mão senti que nossos corações estavam próximos, e que a poética de toda a cena tinha alcançado um de seus ápices e abriu-se em mim um rio de emoções coberto de uma chuva fina, da mesma forma como estava o tempo/clima na beira naquele momento”, relata Pedro.
Já Leandro Haick escolheu uma manhã de muito sol, em exaltação ao fogo, na Feira do Ver-o-peso, com direito a entrada no mercado de peixes e banho na maré, para levar sua cigana as ruas. O trabalho desenvolvido por este artista fala sobre um corpo polifônico na rua, que canta dança e festeja cultuando a fricção afetiva entre corpos distantes.
A programação abre nesta sexta-feira, 20 de maio e segue no sábado, 21, na sede do Minc. Os interessados em somar neste grito artístico de liberdade e direitos, é só aparecer no Minc Belém e compartilhar a sua performance, ideias e saberes. A entrada é franca.
Carta aberta sobre a ocupação
Plenária de quarta-feira (Foto: acervo do blog) |
A ocupação dos artistas e ativistas culturais de Belém iniciou com mobilização no espaço da Fundação Cultural de Belém – FUMBEL -, na manhã de quarta-feira, 18 de maio. Pela parte da tarde, o grupo se deslocou à sede da Regional Norte do MINC, onde também está sediado o IPHAN, para dar inicio à ocupação. Música, palavras de motivação e uma plenária deram o tom de toda a ação na quarta-feira.
A ocupação permanece em ritmo de muito debate, encontros e programações que tendem a compartilhar ideias e experiências em torno do fazer cultural e da consciência humana e política. Estruturação e divisão de tarefas são acompanhadas de conversas, aumentando a cada dia a adesão ao movimento. Nesta quinta-feira, 19, em carta aberta divulgada na página da ocupação no facebook, os artistas relatam como estão realizando suas atividades e chamam todos a somar.
Acesse a página eleia na íntegra o relato dos artistas. Leia aqui: https://www.facebook.com/ocupamincbelem/posts/496461567215832
Serviço
EuPerformance - Encontro de performances artísticas e performatividades cotidianas da Amazônia. Local : Minc Região Norte – Avenida Governador José Malcher, nº 474 – Bairro de Nazaré. Dia 20 de maio – de 18h às 2h e Dia 21 de maio – 16h às 22h. Entrada: Gratuito. Contato: 981392093. Fan Page: EuPerformance.
(Holofote Virtual, com informação do grupo de comunicação do #ocupamincbelem)
Nenhum comentário:
Postar um comentário