5.5.13

A benção, literatura paraense!


Olga Savary recebe o abraço dos paraenses
Só dá pra falar daquilo que se experimenta. E para experimentar, é necessário estar presente e se deixar solto para aprender. Agora que chegamos ao último dia desta XVII Feira Pan Amazônica do Livro, eu posso testemunhar um pouco do tudo que li, vi e ouvi  em um país chamado Pará. 

Nestes últimos dias, situado no Hangar Convenções e Feiras, este país é de uma geografia ímpar, uma terra dividida em salas-estados que levam nome de autores fundamentais. Estes, apesar de já não estarem mais entre nós, fisicamente, permanecem próximos, e mais do que nunca, estiveram emanando seus espíritos, presentes nos debate e nas obras lançadas nestes últimos dez dias. 

Dois seminários me emocionaram muito, o de Ruy Parantinga Barata e o de Raimundo Jinkings. Depoimentos de pessoas que os estudam ou conviveram com eles, os deixaram pertinho de nós, e assim foi possível mergulhar profundamente em seus pensamentos. 

As famílias de ambos estiveram em peso, atuantes na Feira Literária do Pará, visivelmente felizes pelas homenagens realizadas. Foram momentos de encontro e muita emoção. As coisas, aliás, se entrelaçaram constantemente nesta Pan. Ruy Barata e Raimundo Jinkigns, os camaradas, são apenas um exemplo de como aconteceu.

Seminário homenageia Raimundo Jinkings
Patativa do Assaré, outro exemplo, foi cantado pela Cia do Tijolo, e o vimos retratado pelo fotógrafo do Crato, como ele, Tiago Santana.

O espetáculo no auditório, tinha como cenografia uma foto de Tiago, que assistia a Cia do Tijolo, da plateia.

Ah, outra que não vou esquecer. Tony Bellotto, que lançou Machu Picchu, delirou ante uma plateia ávida de carinho e admiração. A turma dos anos 1980 compareceu e viu o guitarrista dos Titãs dar um show diferente na Feira Pan Amazônica do Livro. 

Influenciado confesso da literatura americana, ele disse, antes na coletiva de imprensa, e depois para os fãs, que suas inspirações primeiras vêm de Hemingway, Jack Kerouac, Burroughs, Bukowski, entre outros. 

Super à vontade, ele teve uma plateia dedicada, formada inclusive pelos ilustres Ignácio de Loyola Brandão e Ziraldo, que já tinham encerrado suas missões na feira e pairaram, ali no auditório Dalcídio Jurandir, para ouvir o roqueiro de veia literária.  

Após a conferência, mediada pela jornalista Renata Ferreira, ele autografou seus livros, todos à Disposição no hall do 1º piso do Hangar, onde fica o Ponto do Autor. É claro que eu não resisti. Pedi autografo para Machu Picchu pra ler depois da feira... Acreditei tanto no autor, que esqueci até de levar o Cabeça Dinossauro pro roqueiro autografar. Fiquei com os livros. Vieram na mochila, também, Os insones e Buraco!

Foram inesquecíveis os Encontros Literários, que permitiu acesso direto a escritores como Age de Carvalho, Ignácio de Loyola Brandão, Ziraldo, além de dos bater papos com Victor Sales Pinheiro e os outros escritores paraenses de gerações mais recentes, em horas mediadas por Daniel Leite.

Age de Carvalho, no bate papo
Juntos, todos eles se cruzavam, a cada dia, pelos espaços da feira. Não foi esquecida a música desse país. Nos encontros de contextualização, entre outros, Mestre Damasceno chegou de Salvaterra e aportou diretamente na ala Marajó. O público não deixou na mão Dona Onete, que lotou este mesmo auditório.

Um dos momentos, também intensos, foi o da participação de Olga Savary. A escritora aconteceu na XVII Feira Pan Amazônica do Livro, recebeu medalhas com 11 anos de atraso, da Academia Paraense de Letras, conversou com o público, leu seus poemas, autografou livro e é uma das escritoras focadas na gincana literária, lançada agora na feira, e que culminará em setembro (os outros autores são João Bosco Maia e Age de Carvalho), na Estação das Docas. 

Em seu último dia, sua emoção foi aos picos. “Estou muito emocionada, volto ao Rio de Janeiro, desta feira, me sentindo amada pelos paraenses”, disse. Olga bateu papo com jovens estudantes da USE 9, que ficaram, como eu, encantados com ela. 

É minha nova paixão! Uma história de vida fabulosa, uma operária da literatura, mulher, musa, tradutora maior de Neruda no Brasil (13 livros traduzidos), entre tantas outras coisas que me deixaram tonta. Preciso de mais um tempinho para depois publicar aqui, tudo isso que aconteceu com ela, que confessa a cada instante o amor que tem por suas raízes e por Belém. 

Paes Loureiro na mira de Juraci (de chapé, ao fundo)
Porto poético

Quem veio à feira, teve o privilégio de pairar num Porto chamado Max, no belo estande montado pela editora da UFPA, onde todo dia tinha um bom bate papo. 

Em um deles, Miguel Chikaoka falou e mostrou seus registros de uma época em que Max se reunia com amigos, outros poetas como ele, em espaços que eram deles, cativos. Ah, os bons tempos do Bar do Parque e do 3 x 4, recantos da boemia inteligente. 

Foi inesquecível, também, ouvir os Cordelistas, que iluminaram com seus versos, o estande do escritor paraense em um encontro de literatura de Cordel, acontecendo sob a luz incandescente das falas de João de Jesus Paes Loureiro, tão apropriadamente ditas sobre o tema. E de Juraci Siqueira, declamando suas trovas de boto. Isso pra citar apenas dois dos que formaram a mesa na sala Pará.

É... e como diria um certo rei, foram muitas emoções. Vi crianças, adultos e jovens manuseando, lendo e interessando-se pelos livros, rindo do humor de um salão que chama atenção para o verde, conquistando adeptos do desenho gráfico, ao reunir cartunistas, caricaturistas, chargistas e ilustradores do quilate de um Orlando Cardoso ou de Cássio Loredano, JBosco, Biratan e Atorres, sem falar do incrível François Gabourg, da Martinica, que encantou o público com sua sagacidade  

A Amazônia também foi debatida no seminário de literatura e sustentabilidade promovido pelo Imazon, que trouxe para o centro das questões o trabalho realizado na região Calha Norte do Pará e recebeu pesquisadores e jornalistas que se dedicam às questões do meio ambiente.

"Os amigos de Meu Pai", expô de Pedro de Moraes
Um samba por favor

Não terminou, ainda. No encerramento de hoje à noite, tem mais. O show de Toquinho e banda fará um pequeno recorte do gigante repertório construído por Vinícius de Moraes, que completa seu centenário de nascimento, de uma vida de grandes parcerias como a que fez com Antonio Carlos Jobim, ao lado do importantíssimo Baden Powell, com quem ele fez Samba da Benção. 

“É melhor ser alegre que ser triste. Alegria é a melhor coisa que existe. É assim como a luz no coração (...)”. Concordo... plenamente! Mas enquanto o maior intérprete de Vinícius vai cantar a canção pedindo a benção aos maravilhosos da música popular brasileira, em clima literário, aqui, eu vou cantar: A benção Benedito Nunes, filósofo, crítico de arte, escritor e acima de tudo professor, que tanto fez pela literatura brasileira. 

A benção Eneida de Moraes, escritora de grandes crônicas, mulher guerreira; à benção Max Martins, poeta querido, saudoso e tão abraçado nesta feira. A benção Benedicto Monteiro, obrigada por seu Verde Vago Mundo, a benção Bruno de Menezes, muito obrigada por seu Batuque; à benção Haroldo Maranhão, jornalista e escritor de humor sagaz, a benção, Dalcídio Jurandir. Agradeço sua eloquência, e a formidável série do Extremo Norte.

Ruy Paranatinga Barata
A benção Mário Faustino. Tradutor, crítico lietrário, que não nasceu aqui, mas a gente o sente como paraense. A benção Franciso Paulo Mendes, responsável pela formação de dezenas de intelectuais, escritores, poetas e artistas.  

A benção Vicente Salles, grande historiador e pesquisador dedicado a nossa cultura inteira; à benção Maria Lúcia Medeiros, dos melhores contos que já li nesta terra de Chuvas e Trovoadas.

E, por fim, mesmo sabendo que vai faltar citar tantos outros, a benção Ruy Parantinga Barata, que ganhastes merecida homenagem. Obrigada a você que, poeta no livro, na música e na vida, entre um copo e outro de uísque, nos deu em seus poemas e canções, uma dose cavalar deste país que se chama Pará.

Fotos desta postagem: Age de Carvalho e exposição de Pedro de Moraes (Everaldo Nascimento), Seminário Jinkings (Tamara Saré),  Paes Loureiro, no encontro de cordelistas (Elza Lima), Olga Savary e Ruy Barata - fotografado do video exibido em seu seminário - (Holofote Virtual).

2 comentários:

Maíra disse...

Me emocionei com a postagem. Pesquiso literatura paraense. Abraços.

Orlando Tadeu Ataide Leite disse...

Muito bem, Maíra. É triste ver uma bobagem qualquer dita por uma dessas tais celebridades bobas da Rede Globo receber centenas de comentários, enquanto nossa Pan ...